JARBAS ATAÍDE
CF/2015:
SOCIEDADE E SUBFINANCIAMENTO DA SAÚDE
A Igreja
Católica, como instituição temporal constituída de cidadãos, teve momentos
importantes da vida política e social brasileira. Participou, no período
imperial, ativamente da administração monárquica, durante o período das
Regências, tendo forte influencia nas decisões políticas. Teve participação
marcante de vários clérigos no golpe militar que implantou o regime republicano
em 1889. Essa relação entre governo e a Igreja (Padroado) teve seu final com 1ª
Constituição Republicana de 1891.
Como vemos não
se pode desprezar a atuação da Igreja Católica nos momentos de grandes decisões
políticas nacionais. Como aconteceu no passado, hoje a Campanha da Fraternidade
(CF/2015), chama novamente a sociedade para refletir os grandes temas que
envolvem a vida política e social. A CF/2015 tem esse objetivo específico de “atuar
profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o
desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e
solidária”.
Estamos
passando por um período crítico no setor da saúde pública, com graves problemas
de gestão, subfinanciamento e enfraquecimento institucional do sistema público
(SUS). Defensora da vida, a Igreja contribuiu para o Projeto de
Iniciativa Popular nº 123/2013,
fruto de mobilização social em 2013, chamada de “ Saúde + 10”, que defende a alocação de 10% das receitas correntes brutas da União para o
financiamento do SUS.
Com as mudanças
no perfil demográfico brasileiro (que hoje saltou para 200 milhões), tivemos
aumento da expectativa de vida (hoje 75 anos), redução do número de crianças e
aumento de idosos. Nas cidades os problemas da urbanização e a favelização retratam desigualdades
socioespaciais. Nesse contexto, a saúde pública não foi acompanhada de adequada
aplicação das políticas publicas na área, com graves problemas de saúde pública,
como os lixões urbanos, falta de saneamento e surtos de doenças transmissíveis (malária,
dengue, chikungunya).
Para o enfrentamento desses desafios haveria necessidade do aumento de
investimento no setor da saúde, com infraestrutura, logística, saneamento
básico, etc., o que exige aumento dos repasses de recursos financeiros. É isso
que propõe a PLP 123/2013, conhecida por “SAUDE + 10”, que
resultou de uma mobilização nacional, com coleta de mais de 2,2 milhões de
assinaturas em todo o Brasil. Ele propõe a aplicação no setor de 10% da
receitas correntes brutas para o financiamento do SUS.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS), em
reunião ocorrida em 11.02.2015, posicionou-se contrário à aprovação do Projeto de Emenda Constitucional nº 358 pela
Câmara dos Deputados. O chamado Orçamento
Impositivo aprova a execução das emendas parlamentares, mas altera a metodologia de financiamento do SUS
e reduz o montante de recursos federais destinado à saúde pública, em cerca de R$ 10
bilhões, o que representa 30% do orçamento destinado para a atenção básica.
“Já haveria redução para os municípios nos repasses de 2015”.
Com aprovação da PEC 358 a sociedade brasileira sentiu-se traída e
frustrada com o Congresso Nacional e pela falta de apoio do governo federal ao
projeto popular (PLP 123/2013). Isso revela que a maioria dos parlamentares e o próprio governo federal
não dialogam com os setores organizados e não cumpre a Constituição, que em seu
texto determina a destinação de 30% do
Orçamento da Seguridade Social para financiar o SUS.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a
Federação Nacional dos Médicos (FENAM), também repudiaram a aprovação dessa
emenda e através de nota mostraram os prejuízos para a saúde pública:
“Alertar que a aprovação da PEC 358/13,...sem os destaques apresentados
na Câmara dos Deputados sobre o financiamento da Saúde, agravará ainda mais a
crise na a rede pública. Assim, serão mantidos problemas, como: a superlotação
de serviços de urgência e emergência; a falta de leitos, equipamentos e insumos
hospitalares; a existência de uma infraestrutura de assistência sucateada, sem
condições de oferecer condições adequadas de atendimento e de trabalho; a
ampliação dos problemas enfrentados pela rede de hospitais conveniada, em
especial filantrópicos e santas casas”.
Há vários anos o SUS vem
sofrendo golpes sucessivos no processo de financiamento e, o último, talvez o
mais grave, foi a aprovação dessa PEC, na noite do dia 10/02/2015. Por isso, a
CNBB e “o plenário do CNS, como legítimo representante da população, conclama toda
a sociedade, os Conselhos de Saúde para atuarem junto ao Congresso Nacional e
aos parlamentares, na busca da garantia de um financiamento adequado e estável,
resgatando a mobilização social que resultou nas 2,2 milhões de assinaturas a favor do Projeto “Saúde+10”. (CNS)
Essas assinaturas equivalem ao mesmo número de manifestantes
insatisfeitos nos protestos de 15.03. É a vontade de mais 4,0 milhões de brasileiros que exigem a aplicação de recursos para
a saúde e não a sua redução. Uma verdadeira traição à nação que esperava uma
resposta efetiva do governo. Também com as declarações dos Ministros na
entrevista pós-mobilização não se viu interesse em responder aos apelos
populares. O governo federal escuta e cede apenas para os políticos que tiveram
seus salários aumentados, emendas parlamentares aprovadas e aumento do Fundo
Partidário para ser serem utilizados em seus currais eleitorais.
Fatos como esses mostram
o descompasso entre a política representativa do Brasil e o povo, que precisa
urgente de uma reforma política, partidária e tributária para sair da situação
que hoje se encontra. Essa reforma é também uma das bandeiras levantadas pela
CF/2015, que busca libertar o povo dos políticos traidores, dos partidos
demagógicos, do uso de recursos públicos nas campanhas e coibir a associação
corrupta entre políticos e empresas privada, como aconteceu na Petrobras.
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