CONSELHO DE MEDICINA
DENUNCIA CRISE NAS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS II
Continuando
a avaliar a Resolução CFM 2.077/2014
e a crise nas urgências e emergências, vamos comentar alguns pontos importantes
que não são cumpridos há vários anos nas unidades de saúde do Amapá. A resolução
estabelece a dimensão e composição das equipes e fluxograma de trabalho, o que
é desobedecido pela gestão pública, que ignora e até desconhece a rotina do
atendimento nas emergências e tenta a qualquer custo não incluir ou reduzir o
número de profissionais nos turnos de trabalho, tentando colocar a culpa nos
servidores da saúde.
O
limite de permanência em Unidade de Pronto de Atendimento, que não deve
ultrapassar 24h, é descumprido quando não há retaguarda de leitos disponíveis
para internações. “Pela
regra, o hospital no qual o serviço funciona, deverá disponibilizar em todas as
enfermarias, leitos de internação para pacientes egressos do Serviço Hospitalar
de Urgência e Emergência em número suficiente para suprir a demanda existente”. Portanto, os profissionais da equipe de
saúde não têm culpa da permanência de pacientes internados em macas nos
corredores dos hospitais pela falta de vaga. A resolução obriga o médico
plantonista e o diretor clínico – a
comunicar e oficializar aos gestores “em caso de superlotação do Serviço e
ocupação de todos os leitos de retaguarda (vaga zero), para que o diretor técnico
possa prover as condições necessárias para a internação ou transferência destes
pacientes”.
Constatado a existência de “vaga zero”, em
Serviço Hospitalar de Urgência e Emergência, “superlotado ou sem capacidade técnica de continuidade do tratamento,
caberá à equipe médica estabilizar o paciente e, depois de obtidas as condições
clínicas que permitam a transferência, comunicar o fato à regulação,
persistindo a responsabilidade do gestor público pela obtenção de vagas para a
continuidade do tratamento e, se necessário, com a compra de leitos na forma da
lei”, ou seja, a transferência para
hospital privado.
A tudo isso cabe responsabilidade
profissional, ética, civil e criminalmente por parte da equipe médica, do médico
plantonista, do médico regulador e do coordenador clínico (também médico), caso
não sejam tomadas as medidas eficazes para resguardar a vida e a devida
assistência ao usuário. A resolução 2.077/14 é bem clara nesse sentido. Porém,
tomadas todas essas medidas e o gestor público permanecer inerte em suas
responsabilidades, deverá o fato ser comunicado ao Conselho Regional de
Medicina-CRM. Caso permaneça a omissão, deverá ser acionado o Ministério
Público-MP.
A resolução “autoriza o médico regulador a encaminhar pacientes graves para
hospitais de referência, mesmo que superlotados, sem vagas e sem a menor
condição de atendimento”. Cabe ressaltar que essas condições de
sucateamento e falta de estrutura para atendimento adequado é reconhecido até
pelo gestor federal: “A obrigatoriedade
colocada pelo gestor federal de que uma instituição hospitalar seja obrigada a
receber pacientes no Serviço Hospitalar de Urgência e Emergência, mesmo que não
tenha vaga –, é o reconhecimento pelo governo da falência do Sistema de
Urgência e Emergência no Brasil”. Essa situação de crise na urgência e
emergência, a chamada ‘vaga zero’ –, é uma triste realidade nas unidades de
saúde no Amapá, bastando para isso levar um paciente grave no PAI, Hospital de Emergência,
Maternidade Mãe Luzia e nas UPAS. Por essa razão, necessita ser “normatizada”,
afirmou o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, que participou ativamente da
elaboração das Resoluções.
Para tentar explicar as causas dessa situação
o CFM fez um relatório dos principais fatores responsáveis que levam a esse
caos nas urgências e emergências, já citados no artigo anterior.
- Dificuldade dos pacientes ao acesso primário de assistência médica
O Sistema de Saúde no Brasil é extremamente
deficiente quanto ao atendimento na assistência primária. Para conseguir
agendar consultas eletivas (aquelas que
não são de urgência), nos postos de saúde com médicos clínicos gerais é
extremamente difícil, mais ainda para quem necessita de consultas eletivas com
médicos especialistas, como dermatologistas, neurologistas, reumatologistas,
cardiologistas, etc., pois estes simplesmente não estão disponíveis para
atender a toda a demanda da população. Assim, não sendo atendidas, as pessoas
que necessitam de consultas procuram espontaneamente os PS dos Hospitais de
Referência em Urgência e Emergência, por saberem que ali existem clínicos,
cirurgiões e especialistas de plantão para atendimento. Este fluxo de pacientes
com doenças de caráter eletivo que procuram os PS contribui para tumultuar o
ambiente nestes setores, além de ser um fator importante na superlotação dos
mesmos.
2.
Grande
número de encaminhamento de pacientes para Hospitais de Referência
No Amapá, o atendimento e o Sistema de Saúde
de Urgência e Emergência estão centrados em grandes Hospitais de Referência em
Urgência e Emergência que se localizam na capital. O ideal seria a existência
de Hospitais de Pequeno Porte, estruturados em Urgência e Emergência, nos
demais municípios, que serviriam de referência para a macrorregião onde se
localizassem. Isso amenizaria os problemas de saúde daquela região, assim
evitando o encaminhamento em massa dos pacientes das cidades do interior, o que
leva a superlotação e ao completo esgotamento destas unidades de bem atender a
população. Existia um projeto para transformação das Unidades Mistas de Saúde
nesses hospitais, mas ficou só na promessa há quase uma década. Ou seja, entra
e sai governo e o povo do interior continua desassistido.
3. Atendimento Pré-Hospitalar de Urgência
O SAMU é um serviço
essencial de retaguarda de atendimento de urgência e emergência que foi implantado quando o sistema de Urgência e
Emergência Hospitalar já estava esgotado, devido o excesso de demanda. O SAMU
trouxe um aumento excepcional na demanda de pacientes extremamente graves, para
os Hospitais de Referência, o que fez explodir a
crise do setor no Brasil, ficando evidente a falta de profissionais de saúde
para o atendimento nos PS, especialmente dos médicos, a falta de médicos
especialistas, a falta de regulação do sistema, a falta de estrutura de Centro
Cirúrgico para atender a demanda, e a falta de leitos de CTI para internação
dos pacientes.
Com isso, os casos mais graves permanecem
entubados e sob ventilação mecânica nas salas de atendimento de Urgência e
Emergência dos PS, o que é uma agressão aos cidadãos brasileiros, que em um
momento de risco extremo para suas vidas, não têm garantido, pelo Estado, as
condições mínimas de assistência médica que lhes possibilitem chances reais de
sobrevivência. Isso se agrava ainda mais quando se trata de crianças, como
aconteceu no PAI/HCA, durante a gestão anterior (2014) e permanece acontecendo
na atual gestão.
Toda essa situação caótica é somada à falta
de conversação, negociação e imposição de medidas governamentais intempestivas
contra a classe médica e os profissionais plantonistas que diuturnamente se
empenham e se desdobram para compensar essas deficiências e as carências
crônicas, sem, contudo, serem reconhecidos.
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