Soja pode ser a saída para tirar o Amapá da economia do contra cheque
José Marques Jardim
Da Redação
Não é de hoje que o Amapá flerta
com o mercado da soja sabendo que essa cultura poderá significar um impulso
significativo na economia local. O Estado, segundo especialistas, tem um solo e
clima propícios para o cultivo desse grão que representa uma gorda fatia de
lucros para outras regiões da Federação e investidores.
Este ano com a nova gestão
priorizando os investimentos as conversas recomeçaram em março quando foi
discutido o projeto de instalação de indústrias que produzem fécula e soja. O
município em questão é Serra do Navio.
Equipes da prefeitura e do governo do Amapá estão tratando do assunto. À frente
da implantação estão o prefeito José Maria e o secretário de Estado de Relações
Institucionais, Jorge Amanajás que conta com total apoio do governador Waldez
Góes para solidificar os empreendimentos.
O foco principal tem sido o desenvolvimento
da região pela diversificação das atividades econômicas. Hoje, Serra do Navio
depende economicamente da mineração. A variação para uma nova cultura
significaria equilíbrio econômico, de acordo com a avaliação do prefeito. O
secretário Jorge Amanajás reforçou apoio da gestão a todos os tramites burocráticos
do processo de instalação das empresas. O próximo passo será dado em direção do
Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (Imap). É ele que expede o
licenciamento ambiental e fundiário para as indústrias.
Um outro passo é o escoamento da produção. Neste
ponto, a estrada de ferro, que por décadas serviu para transportar manganês e
ferro de Serra do Navio para Santana, é um dos aspectos considerados de grande
importância. Atualmente o trânsito na estrutura está interrompido por conta da
saída da mineradora Zamin.
O prefeito José Maria explicou que a paralisação
resultou em prejuízo para agricultores que tinham no trem seu meio de
transporte para trazer a produção para a capital e ter lucro. Ainda segundo ele,
em muitas localidades o acesso é somente pelos trilhos. Amanajás respondeu que
está havendo uma intermediação do governo para reativar a ferrovia.
Em primeira vista as questões são primárias, mas
significam preparar o terreno para uma nova realidade econômica que só tem
crescido. Por anos o Amapá foi considerado um Estado de solo pobre e descartado
quando se falava em agronegócio. As técnicas de correção, pesquisas e avaliação
de resultados mudaram a concepção dos investidores e o cerrado amapaense hoje é
visto com outros olhos. Implantar a soja no Estado significa quebrar um paradigma
de longas décadas e mudar a formatação da economia interiorana local,
acostumada desde a década de 50 com a extração mineral iniciada com a Icomi até
os dias de hoje com a desastrosa atuação da Zamin.
Uma outra questão que favorece o Estado é sua localização.
Já se fala em transformar o Amapá em um corredor para escoar a soja. Não só dos
grãos produzidos aqui, mas também em outros Estados com tradição nesse tipo de
plantio. Por outro lado o interesse dos investidores não é à toa e nem um tiro
no escuro. Eles estão apostando em recentes levantamentos de preços de terra
que colocaram a região Norte tendo o hectare mais barato do Brasil, com
destaque para Roraima, Pará e Amapá.
Uma outra informação convidativa para o investimento
no setor são os levantamentos de produção. Em 2014 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimava uma produção
recorde de soja para o Estado. Um estudo feito em junho daquele ano intitulado Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, previa um aumento de nada menos que 253,96%
na produção do grão. O percentual foi equivalente a 45,6 mil toneladas a mais
do que a safra de 2013 que ficou em 12,9 mil.
O crescimento, de acordo com técnicos
do setor, foi atribuído ao aumento da área de plantio. Para se ter uma ideia, em 2013, a soja ocupava uma área
de 4.528 hectares e rendia média 2.850 toneladas por hectare com resultado
final de 12.906 toneladas. No ano seguinte o salto produtivo foi para 15.825
hectares plantados, tendo previsão de 2.887 toneladas por hectare. O aumento
também abrangeu a produtividade para 45.682 toneladas por hectare, de acordo
com os dados do instituto.
A DESCOBERTA DO AMAPÁ RURAL...
Os números da cultura
da soja no Amapá são de conhecimento da Cooperativa dos Produtores Agrícolas do
Cerrado Amapaense (Coopac). Eles traçaram uma projeção que reafirma o
crescimento do cultivo a cada ano, como já demonstrava os números do IBGE ano
passado. No entanto, o crescimento vem desde 2000, data em que foi criada a
cooperativa. A confirmação da soja amapaense como um bom negócio tem entusiasmado
médios produtores de outras regiões a exemplo dos mato-grossenses, gaúchos, paranaenses
e mineiros. Prova disso é que dos 50 cooperados, mais da metade já fixou
residência no Amapá. O restante tem se preparado para plantar no Estado.
NOVA ROTA...
A mídia
especializada em agronegócio tem tratado o Amapá como "a nova fronteira
agrícola do Brasil". O Estado poderá desafogar as rotas agrícolas de
escoamento que já existem no mercado local e alcançar o exterior.
O presidente da
Coopac, o paranaense Tobias Laurindo, que mora no Amapá há mais de 20 anos declarou
em entrevista à imprensa nacional que se o cenário continuar em
desenvolvimento, em um espaço de 10 anos "o agronegócio poderá atingir 10%
do Produto Interno Bruto do Estado". Hoje, o setor primário chega a 4% do
PIB.
A soja também
está gerando um processo de interiorização de mão de obra. Muita gente está
indo para as regiões de plantio para morar acreditando na colocação nos postos
de trabalho. Os empregos, de fato existem e são divididos em temporários,
permanentes e indiretos.
Os cooperados
avaliam que alguns problemas estruturais e burocráticos ainda precisam ser
resolvidos como o asfaltamento de estradas e a liberação de licenças ambientais,
além da regularização fundiária.
CIANPORT
A cultura da soja
considerando números e investimentos, parece ser a última palavra para a
economia do Amapá. Para reforçar ainda mais a afirmação, investidores do Estado
do Mato Grosso, tido como o berço da soja brasileira, criaram a Companhia Norte
de Navegação e Portos (Cianport). O objetivo foi garantir o transporte e
logística aos investimentos. A empresa foi autorizada pela Secretaria Nacional
de Portos a instalar um Terminal de Uso Privado (TUP) no município de Santana
para exportação. Também existe um terminal de grãos em uma área dentro da Companhia Docas
de Santana (CDSA). A capacidade de armazenagem dos silos, num total de três, é
de 18 mil toneladas, cada um.
PROGRESSÃO DO
CENÁRIO
O plantio de soja no Amapá
começou tímido ainda em 2001. Eram apenas 200 hectares. O clima, a localização
do Estado e o preço da terra, considerado baixo em comparação a outras regiões
influenciaram nos bons resultados. Logo, os investidores chegaram tendo em
vista a possibilidade de escoamento pelo rio Amazonas. A preocupação apontada
até agora pelo Estado é com as terras do agronegócio. Elas são limitadas e
fazem divisa com a Floresta Estadual do Amapá (Flota). Mas isso não tem freado
a produção ao longo dos anos.
De 2012 para 2013, um ano antes
da pesquisa mais recente do IBGE para o setor, a área plantada saltou de 2,4
mil para 10 mil hectares. A produção passou de 7,6 mil toneladas para 25 mil
toneladas. Os dados aqui são da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e ainda revelam que somente com soja, a área saiu de 1,6 mil hectares
em 2012 para 6 mil hectares no ano passado. O avanço da produção foi de 4,2 mil
toneladas para 15 mil toneladas no mesmo período. Os números somem quando
comparados a Estados de tradição do cultivo, mas, para os investidores, é um
belo retorno considerando o universo local.
Ainda de acordo com a Embrapa,
projeções feitas para futuros 20 anos revelam que o negócio vai atingir seu
máximo com 200 mil hectares. Atualmente o cerrado próprio para o plantio significa
932 mil hectares, que correspondem a 6,5% do território do Estado. Desse total
de mais de 900, desconta-se 50% que são áreas de preservação e mais 140 mil hectares
de área ocupada por eucaliptos.
No entanto, as limitações,
segundo os técnicos, não conseguiram inibir o crescimento do plantio de soja. A
Embrapa mostra isso em números resultantes de outro levantamento, este feito
com 15 dos principais produtores do Amapá. O resultado é que 47% deles têm mais
de 30 anos de experiência e maioria veio
de regiões com tradição no agronegócio, com destaque para o Rio Grande do Sul,
Paraná e Minas Gerais. Todos acreditam nos bons resultados do investimento.
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