sexta-feira, 19 de junho de 2015

Soja pode ser a saída para tirar o Amapá da economia do contra cheque

Soja pode ser a saída para tirar o Amapá da economia do contra cheque


José Marques Jardim
Da Redação


Não é de hoje que o Amapá flerta com o mercado da soja sabendo que essa cultura poderá significar um impulso significativo na economia local. O Estado, segundo especialistas, tem um solo e clima propícios para o cultivo desse grão que representa uma gorda fatia de lucros para outras regiões da Federação e investidores.

Este ano com a nova gestão priorizando os investimentos as conversas recomeçaram em março quando foi discutido o projeto de instalação de indústrias que produzem fécula e soja. O município em questão é  Serra do Navio. Equipes da prefeitura e do governo do Amapá estão tratando do assunto. À frente da implantação estão o prefeito José Maria e o secretário de Estado de Relações Institucionais, Jorge Amanajás que conta com total apoio do governador Waldez Góes para solidificar os empreendimentos.



O foco principal tem sido o desenvolvimento da região pela diversificação das atividades econômicas. Hoje, Serra do Navio depende economicamente da mineração. A variação para uma nova cultura significaria equilíbrio econômico, de acordo com a avaliação do prefeito. O secretário Jorge Amanajás reforçou apoio da gestão a todos os tramites burocráticos do processo de instalação das empresas. O próximo passo será dado em direção do Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (Imap). É ele que expede o licenciamento ambiental e fundiário para as indústrias.

Um outro passo é o escoamento da produção. Neste ponto, a estrada de ferro, que por décadas serviu para transportar manganês e ferro de Serra do Navio para Santana, é um dos aspectos considerados de grande importância. Atualmente o trânsito na estrutura está interrompido por conta da saída da mineradora Zamin.

O prefeito José Maria explicou que a paralisação resultou em prejuízo para agricultores que tinham no trem seu meio de transporte para trazer a produção para a capital e ter lucro. Ainda segundo ele, em muitas localidades o acesso é somente pelos trilhos. Amanajás respondeu que está havendo uma intermediação do governo para reativar a ferrovia.

Em primeira vista as questões são primárias, mas significam preparar o terreno para uma nova realidade econômica que só tem crescido. Por anos o Amapá foi considerado um Estado de solo pobre e descartado quando se falava em agronegócio. As técnicas de correção, pesquisas e avaliação de resultados mudaram a concepção dos investidores e o cerrado amapaense hoje é visto com outros olhos. Implantar a soja no Estado significa quebrar um paradigma de longas décadas e mudar a formatação da economia interiorana local, acostumada desde a década de 50 com a extração mineral iniciada com a Icomi até os dias de hoje com a desastrosa atuação da Zamin.

Uma outra questão que favorece o Estado é sua localização. Já se fala em transformar o Amapá em um corredor para escoar a soja. Não só dos grãos produzidos aqui, mas também em outros Estados com tradição nesse tipo de plantio. Por outro lado o interesse dos investidores não é à toa e nem um tiro no escuro. Eles estão apostando em recentes levantamentos de preços de terra que colocaram a região Norte tendo o hectare mais barato do Brasil, com destaque para Roraima, Pará e Amapá.

Uma outra informação convidativa para o investimento no setor são os levantamentos de produção. Em 2014 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimava uma produção recorde de soja para o Estado. Um estudo feito em junho daquele ano intitulado Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, previa um aumento de nada menos que 253,96% na produção do grão. O percentual foi equivalente a 45,6 mil toneladas a mais do que a safra de 2013 que ficou em 12,9 mil.



O crescimento, de acordo com técnicos do setor, foi atribuído ao aumento da área de plantio. Para se ter uma ideia, em 2013, a soja ocupava uma área de 4.528 hectares e rendia média 2.850 toneladas por hectare com resultado final de 12.906 toneladas. No ano seguinte o salto produtivo foi para 15.825 hectares plantados, tendo previsão de 2.887 toneladas por hectare. O aumento também abrangeu a produtividade para 45.682 toneladas por hectare, de acordo com os dados do instituto.

A DESCOBERTA DO AMAPÁ RURAL...
Os números da cultura da soja no Amapá são de conhecimento da Cooperativa dos Produtores Agrícolas do Cerrado Amapaense (Coopac). Eles traçaram uma projeção que reafirma o crescimento do cultivo a cada ano, como já demonstrava os números do IBGE ano passado. No entanto, o crescimento vem desde 2000, data em que foi criada a cooperativa. A confirmação da soja amapaense como um bom negócio tem entusiasmado médios produtores de outras regiões a exemplo dos mato-grossenses, gaúchos, paranaenses e mineiros. Prova disso é que dos 50 cooperados, mais da metade já fixou residência no Amapá. O restante tem se preparado para plantar no Estado.


NOVA ROTA...
A mídia especializada em agronegócio tem tratado o Amapá como "a nova fronteira agrícola do Brasil". O Estado poderá desafogar as rotas agrícolas de escoamento que já existem no mercado local e alcançar o exterior.

O presidente da Coopac, o paranaense Tobias Laurindo, que mora no Amapá há mais de 20 anos declarou em entrevista à imprensa nacional que se o cenário continuar em desenvolvimento, em um espaço de 10 anos "o agronegócio poderá atingir 10% do Produto Interno Bruto do Estado". Hoje, o setor primário chega a 4% do PIB.


A soja também está gerando um processo de interiorização de mão de obra. Muita gente está indo para as regiões de plantio para morar acreditando na colocação nos postos de trabalho. Os empregos, de fato existem e são divididos em temporários, permanentes e indiretos.

Os cooperados avaliam que alguns problemas estruturais e burocráticos ainda precisam ser resolvidos como o asfaltamento de estradas e a liberação de licenças ambientais, além da regularização fundiária.

CIANPORT

A cultura da soja considerando números e investimentos, parece ser a última palavra para a economia do Amapá. Para reforçar ainda mais a afirmação, investidores do Estado do Mato Grosso, tido como o berço da soja brasileira, criaram a Companhia Norte de Navegação e Portos (Cianport). O objetivo foi garantir o transporte e logística aos investimentos. A empresa foi autorizada pela Secretaria Nacional de Portos a instalar um Terminal de Uso Privado (TUP) no município de Santana para exportação. Também existe um terminal de grãos em uma área dentro da Companhia Docas de Santana (CDSA). A capacidade de armazenagem dos silos, num total de três, é de 18 mil toneladas, cada um.


PROGRESSÃO DO CENÁRIO
O plantio de soja no Amapá começou tímido ainda em 2001. Eram apenas 200 hectares. O clima, a localização do Estado e o preço da terra, considerado baixo em comparação a outras regiões influenciaram nos bons resultados. Logo, os investidores chegaram tendo em vista a possibilidade de escoamento pelo rio Amazonas. A preocupação apontada até agora pelo Estado é com as terras do agronegócio. Elas são limitadas e fazem divisa com a Floresta Estadual do Amapá (Flota). Mas isso não tem freado a produção ao longo dos anos.

De 2012 para 2013, um ano antes da pesquisa mais recente do IBGE para o setor, a área plantada saltou de 2,4 mil para 10 mil hectares. A produção passou de 7,6 mil toneladas para 25 mil toneladas. Os dados aqui são da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e ainda revelam que somente com soja, a área saiu de 1,6 mil hectares em 2012 para 6 mil hectares no ano passado. O avanço da produção foi de 4,2 mil toneladas para 15 mil toneladas no mesmo período. Os números somem quando comparados a Estados de tradição do cultivo, mas, para os investidores, é um belo retorno considerando o universo local.

Ainda de acordo com a Embrapa, projeções feitas para futuros 20 anos revelam que o negócio vai atingir seu máximo com 200 mil hectares. Atualmente o cerrado próprio para o plantio significa 932 mil hectares, que correspondem a 6,5% do território do Estado. Desse total de mais de 900, desconta-se 50% que são áreas de preservação e mais 140 mil hectares de área ocupada por eucaliptos.


No entanto, as limitações, segundo os técnicos, não conseguiram inibir o crescimento do plantio de soja. A Embrapa mostra isso em números resultantes de outro levantamento, este feito com 15 dos principais produtores do Amapá. O resultado é que 47% deles têm mais de 30 anos de experiência e  maioria veio de regiões com tradição no agronegócio, com destaque para o Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Todos acreditam nos bons resultados do investimento. 

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