R$ 126 milhões
CAESA
tenta se erguer negociando dívida e pagando fornecedores enganados pelo governo
passado
Tentando recuperar o
equilíbrio do Estado, depois de quatro anos de inoperância e trapalhadas
deixadas em todos os setores, a nova gestão tem usado como trunfo principal o
diálogo. O Amapá hoje é um vaso quebrado que vem sendo remendado aos poucos em
um paciente trabalho de colagem para que cada caco se encaixe em seu devido
lugar.
Recolocar o Amapá em sua
rota é a missão, apesar dos estragos imensos confirmados a partir de janeiro,
depois de um processo de transição conturbado onde as informações sobre a
situação de cada pasta foram sonegadas para a equipe do novo governo. Sem elas
foi difícil saber ao certo o que viria pela frente, mas uma coisa era certa,
não seria fácil.
Educação, Saúde e Segurança
Pública, tripé de todo governo, foram encontradas falidas e mergulhadas em
dívidas gigantescas. O calote dado em fornecedores travou o funcionamento
destas "máquinas". Uma bomba programada para explodir nas mãos do
novo governo, que teve que recomeçar tudo a partir do zero com o "motor
administrativo" fundido sem ter em mãos as peças para repor.
Assim como as pastas vitais,
os serviços de primeira necessidade à população também sentiram o abalo. O
fornecimento de água foi um deles. Durante os quatro anos do governo passado as
ações esperadas não passaram de propaganda, com uma vultosa soma de nada menos
que R$28 milhões, bem acima de muitos setores. Depois da troca de gestão, a
cortina da falsa publicidade acabou caindo e a realidade surgiu por trás dela.
Há poucas semanas a
diretora-presidente da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), Patrícia
Brito, usou o plenário da Assembleia Legislativa para falar sobre o uso
racional da água. Ela também abordou em detalhes a situação atual da Companhia
que tem uma dívida de R$ 126 milhões, deixada pela gestão passada. A audiência
pública na ALAP teve o objetivo de discutir diagnósticos e soluções para a
captação, abastecimento e distribuição de água no Amapá.
De acordo com o 'Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil', as regiões Norte e Nordeste apresentam a
maior problemática nos sistemas de tratamento do produto. Por outro lado, 81%
do potencial hídrico do Brasil está na Amazônia e menos de 14% da população da
zona urbana é beneficiada por sistemas de abastecimento. No Amapá são apenas 3%
e em Macapá, 5%.
A falta de investimentos no
setor seria o culpado pelos números. Ao longo dos anos, pouco se fez para
expandir o sistema que há muito deixou de acompanhar o crescimento da
população. Muito do que foi feito não passou de jogadas de marketing para
promover governos. O maior exemplo veio do PSB. Ainda no governo de João
Capiberibe entre 1994 e 1998 sendo reeleito até 2002, a água foi um trampolim
de promoção pessoal. Foi prometido à população que a água jorraria nas
torneiras do amapaense por 40 anos. As quatro décadas, no entanto, não passava
de uma alusão ao número da legenda do partido. Na prática, quase nada aconteceu
e a população continuou com os mesmos problemas durante oito anos.
Reassumindo o governo em
2011, o PSB prometeu novamente ações para expandir o abastecimento, mas a
execução não surtiu efeito. Os mesmos problemas de antes persistiram com o
agravante do surgimento de inúmeros bairros. Mas onde a ação falhava, a
propaganda tentava mascarar a realidade. A estratégia não deu certo. Em 2013
uma pesquisa do Instituto Trata Brasil revelava que as obras mal executadas,
ligações clandestinas e a medição incorreta eram as responsáveis pela situação
financeira precária da CAESA. O Amapá foi apontado como o pior caso nesse
contexto e se conseguisse reduzir o problema em ao menos 10% teria um ganho de
R$ 8,3 milhões, o que representaria 6.135% a mais do que o Estado investiu no
setor em 2010. O governo tomou conhecimento dos dados, mas, pelos números que
se seguiram, parece ter ignorado as providências sugeridas. Em termos de
município, Macapá foi tida como a cidade campeã de desperdício. São 73,91% de
perda do que é distribuído.
Voltando à audiência da
ALAP, a atual diretora da CAESA, Patrícia Brito, esclareceu que o Estado sente
as consequências da falta de ações. Segundo ela, não são somente as dívidas que
emperram o trabalho, mas o que se deixou parar, referindo-se às inúmeras obras
interrompidas encontradas pela nova gestão.
Patrícia disse que sua equipe vem analisando os processos para que tudo
volte a ter andamento o mais breve possível.
Hoje, disse Patrícia, a
principal preocupação é com a redução de perdas. Para que aconteça uma redução,
equipes estão trabalhando na hidrometração, que é a implantação de medidores e
a leitura correta destes equipamentos, além do cadastramento de clientes. Para
reduzir o desperdício a CAESA pretende trabalhar a conscientização dos consumidores
com palestras em escolas. O objetivo é formar multiplicadores de informação
AÇÕES
E EFEITOS...
O resultado da gestão de
braços cruzados fez com que a população pagasse um preço alto, o da falta de água.
Muitos bairros enfrentam o problema por dias, alguns por semanas e existem os
que convivem com isso há anos. Recentemente a redução do abastecimento em
vários setores da Zona Norte foi solucionado.
A causa era resultado da
interrupção do fornecimento de produtos químicos, que são usados no tratamento
da água. Os fornecedores interromperam a entrega depois do calote dado pelo
governo passado. Logo que assumiu a diretoria, a nova gestão se deparou com a
informação de que os produtos dariam para somente dois dias. Uma dívida de
R$1,5 milhões foi negociada e os produtos acabaram sendo liberados, entre eles
o sulfato de alumínio, cal, polímero e cloro.
A direção reconhece que
ainda existem muitos problemas, mas que agora eles são direcionados para serem
resolvidos e não engavetados. Quanto a redução de fluxo na zona Norte,
principal reclamação da população, ela é consequente da falta de pressão nos
canos. A situação envolve principalmente os bairros mais afastados. A solução
será a conclusão da caixa d'água da Zona Norte. De acordo com Patrícia Brito, a
obra é uma das prioridades da CAESA no momento. A estrutura vai garantir mais
pressão na distribuição do produto e encurtará a distância do abastecimento. O
que acontece hoje é que a adutora da zona Norte está sobrecarregada. A
Companhia reconhece não ter acompanhado o crescimento da cidade. Outra
prioridade é a ampliação da estação de tratamento no Bairro Beirol que também
está parada. A retomada está prevista já para os próximos meses.
As ações anunciadas pela
CAESA resumem as palavras de ordem da atual gestão: diálogo e ação rápida. Os
primeiros resultados já começam a surgir a partir da recuperação da relação com
os fornecedores interrompida por falta de pagamento. Os outros passos a
reativação das obras paradas também por conta da inoperância onde o grande
afetado foi a população. Nessa investida de retomada para que o Estado volte a
caminhar, pelo que já adiantou a nova gestão da CAESA, as ações serão concretas
e não somente algo que só existe na propaganda. "Muito se disse e pouco se
fez". Esta é a frase mais ouvida entre os moradores afetados pela falta de
abastecimento. Situação que, segundo a nova administração da Companhia de Água
e Esgoto do Amapá, será reparada.
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