quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Artigo do Tostes

Paisagem, Amazônia e cidade contemporânea
Autor: José Alberto Tostes


             Este é um tema de grande reflexão para todos nós que vivemos na Amazônia, a ideia primeira sobre a Amazônia para quem não conhece é muito mais poética do que real, nunca se escreveu tanto sobre a diversidade e cultura amazônica, porém sobre a forma de viver na região tem sido objeto de estudo mais intenso nos últimos 10 ou 15 anos para cá. Podemos analisar o tema proposto através dos seguintes aspectos: o contexto da paisagem; o segundo sobre o significado da Amazônia e o terceiro como se insere a cidade contemporânea.
             Sobre o contexto da paisagem, vou ressaltar a relação e tentativa de propor cidades planejadas ou não atreladas a partir de grandes projetos. Em quase todos os estados da chamada Amazônia Legal ocorreram projetos deste tipo, portanto, não é domínio de um único lugar, alguns são mais conhecidos que outros, e até mais estudados e analisados. Durante os anos de 1980, discutia-se se existia uma Arquitetura Amazônica, tal fato era pautado pelo trabalho de dois grandes arquitetos: Milton Monte e Severiano Mario Porto, posteriormente houve uma clara tentativa de aliar a ideia de Amazônia, uma produção de arquitetura que respeitasse o lugar e as suas peculiaridades.
Fonte: www.ozorioalex.blogspot.com

         A paisagem das cidades na região foi incorporando como em todos os lugares do país, os resquícios da indústria do material da construção civil, além dos problemas oriundos das questões de natureza conceitual sobre o lugar, eram determinantes que o custo tivesse todos os efeitos sobre as possíveis soluções adequadas ao lugar como defendiam Monte e Porto, isso se reproduz fielmente principalmente em Belém e Manaus, que como dizia Castro, “reproduções de ilhas de calor”, verdadeiramente se consolidou e nossas cidades uma paisagem carregadas de problemas e equívocos não compreender a natureza da região.
               Neste contexto todo, Amazônia enquanto região foram reproduzindo na sua arquitetura e nas cidades um modelo insuportável, pobreza e miséria deram o tom a partir da ocupação das chamadas áreas úmidas, sobrecarregando, lagos, rios e igarapés. É comum se contrastar em uma mesma área, um conjunto de edifícios e bem próximo áreas completamente desestruturadas. Tal reprodução se configurou em praticamente em todas as capitais, agregue-se a este fato, de que as capitais somam uma população nos dias atuais em torno de 60 do total em cada estado.
                 No âmbito interiorano, cidades da chamada zona rural foram absorvendo as mazela decorrentes dos chamados grandes projetos, em quase todas as consequências sobre os resultados deixaram mais problemas de que soluções e benefícios. Um exemplo típico, Serra do Navio no Amapá, deve-se ressaltar que no caso de Serra, devem-se estabelecer dois pontos importantes de avaliação: o primeiro é a proposta do arquiteto Oswaldo Bratke aos aspectos funcionais de uma cidade em plena selva amazônica; o segundo ponto de abordagem, o modelo de uma cidade centrada em uma formatação fechada tipo cidade companhia. Passado o prazo de exploração dos serviços definido em contrato, ficaram rastros de incerteza, pobreza e desilusão, assim como em várias outras cidades no estado do Amazonas, Pará e outras, somente importava a questão do poder do capital.
                 E o que pensar sobre as questões contemporâneas de nossas cidades? Os desafios são enormes, temos um grande problema pela frente, de pensar as cidades amazônicas não somente sob a lógica dos grandes projetos, ou dos projetos sociais temporários dos governos estaduais e federal que induzem a população a um grande desconforto em relação ao futuro. O trabalho do professor José Aldemir Oliveira no Amazonas, sobre as pequenas cidades na Amazônia é a definição mais evidente de um sistema de servidão e dependência, cada vez mais comum, quando se trata de legitimar os poderes de quem domina o lugar.
                  O cenário contemporâneo exige qualificar o debate sobre a  questão das cidades, melhorar a representatividade, o acesso as tecnologias, qualificação de pessoas, implementar estratégias de planejamento de longo prazo, ter acesso ao crédito para projetos de todo tipo. Compreender a natureza do que representa viver em um ambiente amazônico tão diverso e tão complexo.


                  As cidades no contexto contemporâneo não podem mais serem administradas de forma amadora, vive-se em mundo globalizado, requer, portanto, estar atento para acontecimentos futuros, mas tudo isso, se planta no presente, posteriormente serão colhidos os frutos para o bem o para o mal. Por enquanto, precisamos superar um conjunto de adversidades, pontos que sejam cruciais a partir de novas concepções para que os arquitetos e urbanistas sejam mais protagonistas do que propriamente espectadores de toda a ordem de acontecimentos.

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