quinta-feira, 19 de novembro de 2015

EDITORIAL

Aqui, hidrelétricas vendem sonhos e acumulam tragédias.

Uma das grandes preocupações mundiais é com relação a ÁGUA e a sobrevivência da humanidade, pois os sistemas hídricos propiciam as múltiplas funções ecológicas e serviços ambientais prestados gratuitamente por cursos d’água que na Amazônia, são inúmeros e valiosos. Um rio não é um simples canal de água, é um rico ecossistema moldado ao longo de milhões de anos, com ritmos próprios de composição e decomposição. Verdadeiros corredores de biodiversidade fornecendo água, ar puro, alimento, terras férteis, fármacos animais e vegetais, turismo ecológico, e, principalmente, equilíbrio climático, entre outros tantos benefícios.
A construção de reservatórios em cursos d’água para a geração de energia elétrica é um feito da engenharia, são estruturas imensas e seus reservatórios represam volumes incomensuráveis de água. Cada projeto provoca inúmeros impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais que transformam as regiões onde se instalam, causando um descontrole irreversível. A viabilização de projetos que simultaneamente produzam energia para o desenvolvimento econômico, com ampliação da oferta de empregos e melhoria da qualidade de vida da população, deveria ser implementada. Porém, o que se verifica é a existência de dificuldade para a participação popular no processo de tomada de decisão sobre a instalação ou não da obra. As informações apenas chegam para serem acatadas e o envolvimento da sociedade nas questões que envolvem a instalação das hidrelétricas é limitado, quando não, inexistente. Mesmo quando há participação popular em processos decisórios, como no caso de comitês de bacias, a posição majoritária está normalmente em mãos de empreendedores ou do próprio governo, muitas vezes corrupto, o que compromete o caráter independente das decisões.
Alguns só começaram a ser compreendidos na sua totalidade como recentemente aconteceu no Amapá onde já estão concretizados esses impactos e o ribeirinho é o mais prejudicado, pois é atingido diretamente com a mudança do seu habitat, cultura e a sobrevivência dos milhares de moradores dos munícipios de Laranjal do Jari, Porto Grande e Ferreira Gomes que tem em seus territórios implantadas as UHE, que em menos de um ano de funcionamento já modificaram suas vidas para pior. Muitos perderam residências, eletrodomésticos, plantações e a possibilidade de continuarem a buscar no rio sua alimentação, pois foram atingidos pela mortandade de peixes no entorno das obras das hidrelétricas que se proclamaram redentoras de vida desses humildes cidadãos ribeirinha, lhe vendendo sonhos e lhes pagando com tragédia.

Após os acidentes as hidrelétricas foram fiscalizadas e multadas, e de novo em Ferreira Gomes com maior densidade sucumbe toneladas e toneladas de peixes, resultado de manobras irregulares provocando um dos maiores acidentes ambientais no Estado do Amapá.

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