Aqui, hidrelétricas vendem sonhos e acumulam tragédias.
Uma das grandes preocupações mundiais é com
relação a ÁGUA e a sobrevivência da humanidade, pois os sistemas hídricos
propiciam as múltiplas funções ecológicas e serviços ambientais prestados
gratuitamente por cursos d’água que na Amazônia, são inúmeros e valiosos. Um
rio não é um simples canal de água, é um rico ecossistema moldado ao longo de
milhões de anos, com ritmos próprios de composição e decomposição. Verdadeiros
corredores de biodiversidade fornecendo água, ar puro, alimento, terras
férteis, fármacos animais e vegetais, turismo ecológico, e, principalmente,
equilíbrio climático, entre outros tantos benefícios.
A construção de reservatórios em cursos
d’água para a geração de energia elétrica é um feito da engenharia, são
estruturas imensas e seus reservatórios represam volumes incomensuráveis de
água. Cada projeto provoca inúmeros impactos ambientais, sociais, econômicos e
culturais que transformam as regiões onde se instalam, causando um descontrole
irreversível. A viabilização de projetos que simultaneamente produzam energia
para o desenvolvimento econômico, com ampliação da oferta de empregos e
melhoria da qualidade de vida da população, deveria ser implementada. Porém, o
que se verifica é a existência de dificuldade para a participação popular no
processo de tomada de decisão sobre a instalação ou não da obra. As informações
apenas chegam para serem acatadas e o envolvimento da sociedade nas questões
que envolvem a instalação das hidrelétricas é limitado, quando não,
inexistente. Mesmo quando há participação popular em processos decisórios, como
no caso de comitês de bacias, a posição majoritária está normalmente em mãos de
empreendedores ou do próprio governo, muitas vezes corrupto, o que compromete o
caráter independente das decisões.
Alguns só começaram a ser compreendidos na
sua totalidade como recentemente aconteceu no Amapá onde já estão concretizados
esses impactos e o ribeirinho é o mais prejudicado, pois é atingido diretamente
com a mudança do seu habitat, cultura e a sobrevivência dos milhares de
moradores dos munícipios de Laranjal do Jari, Porto Grande e Ferreira Gomes que
tem em seus territórios implantadas as UHE, que em menos de um ano de funcionamento
já modificaram suas vidas para pior. Muitos perderam residências,
eletrodomésticos, plantações e a possibilidade de continuarem a buscar no rio
sua alimentação, pois foram atingidos pela mortandade de peixes no entorno das
obras das hidrelétricas que se proclamaram redentoras de vida desses humildes
cidadãos ribeirinha, lhe vendendo sonhos e lhes pagando com tragédia.
Após os acidentes as hidrelétricas foram
fiscalizadas e multadas, e de novo em Ferreira Gomes com maior densidade sucumbe
toneladas e toneladas de peixes, resultado de manobras irregulares provocando
um dos maiores acidentes ambientais no Estado do Amapá.
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