Ponte Binacional do
Oiapoque
Um sonho simulado na
fronteira
Reinaldo Coelho
Apenas 378 metros separam o Brasil da França. Mas, essa
distância entre o Amapá e a Guiana Francesa está há 18 anos sendo discutida e
sua travessia deverá acontecer através da Ponte Binacional, no Rio Oiapoque,
que está há seis anos aguardando para ser inaugurada. A dificuldade são os
quilômetros burocráticos a serem superados pelos dois governos (Brasil e
França).
Nesta segunda-feira (16), um primeiro passo será dado. O
Ministério da Defesa e autoridades da Guiana Francesa vão fazer uma simulação
da abertura da ponte. Na ocasião, serão testados todos os dispositivos já
concluídos da obra, em ambos os lados. Após esse dia de testes, o local deverá
ser fechado novamente para possíveis ajustes, e terá a abertura provisória
prevista para a última semana de janeiro.
O anúncio da abertura temporária da ponte binacional foi
antecipado pelo governador Waldez Góes, em dezembro de 2016, durante a X
Reunião da Comissão Mista de Cooperação Transfronteiriça França-Brasil,
ocorrida em Caiena, capital da Guiana Francesa.
Na quinta-feira (19), será a vez do Corpo de Bombeiros
Militar do Amapá (CBM/AP) fazer um simulado para casos de emergência. “Numa
eventualidade, a ajuda será mútua e precisamos estar preparados para atuar em
conjunto”, disse o comandante do CBM/AP, Coronel Wagner Coelho.
Liberação de tráfego restrita
De acordo com informações do Governo do Estado do Amapá, a
abertura provisória será limitada para carros de passeio e à população da
região de fronteira do município de Oiapoque pelo lado brasileiro e a cidade de
St. Georges pelo lado francês. O transporte de cargas e passageiros em linhas internacionais
ainda ficarão restritos na abertura provisória.
Para que a ponte seja liberada, definitivamente, é necessária
a construção do pátio aduaneiro no lado brasileiro. A construção da estrutura é
responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit). Todo o restante da obra foi concluído em 2011. Com o pátio aduaneiro
pronto, serão iniciadas as atividades da Receita e Polícia Federal.
Fomento ao empreendedorismo
Reunião faz parte de uma agenda preparatória para abertura provisória da Ponte Binacional |
A liberação do tráfego na ponte é um momento aguardado pela
população de ambas as nações. Por ser uma região de fronteira, algumas questões
ainda precisam ser trabalhadas.
“É uma relação nova que está surgindo e que estamos tentando encontrar soluções
em conjunto para possíveis problemas advindos com a liberação do tráfego na
ponte”, informou o chefe da Divisão da Europa Setentrional do Ministério das
Relações Exteriores, Leandro Zenni. A declaração foi dada durante reunião
promovida pelo Governo Federal no município de Oiapoque ocorrida na
quarta-feira (11), da qual participaram o Governo do Amapá e prefeitura local.
O objetivo foi identificar os impactos que serão gerados para
as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores e, as possíveis soluções. A
regulamentação e fiscalização dos taxistas, roteiros turísticos e compensações
foram algumas questões abordadas no encontro. A Secretaria de Estado das
Cidades está acompanhando todo o processo e dando os encaminhamentos que forem
de competência do Governo do Amapá.
A iniciativa foi aprovada pelos empreendedores. “Pela
primeira vez estão nos ouvindo e podemos falar o que queremos”, disse o
vice-presidente do ponto de Táxi da Fronteira, Jocildo Silva.
França e Brasil aprovam e promulgam acordos para abrir ponte binacional
Em julho de 2016, o
Diário Oficial da República Francesa publicou a promulgação dos acordos
assinados com o Brasil em março de 2014, em Paris, para a abertura da ponte
binacional do rio Oiapoque, entre Amapá e Guiana Francesa. Os acordos
precisavam de aprovação dos congressos nacionais de ambos os países. No Brasil,
eles foram homologados em maio de 2016.
Foram promulgados pela França, os acordos de regime especial
de transportes e de mercadorias. O primeiro trata das normas para trânsito de
passageiros de veículos e cargas pela ponte.
Um dos pontos do documento permite a exploração de linhas de
ônibus entre os dois países através da ponte do rio Oiapoque. O serviço, no
entanto, poderá ser oferecido somente por empresas.
O prestador do serviço
deverá ter autorização dos órgãos reguladores de transporte dos dois países. Em
caso de irregularidade, as penalidades aplicadas serão as previstas no país
onde ocorreu o flagrante.
Em relação ao segundo acordo, são isentados de tributos de
importação as mercadorias de subsistência, que neste caso, entende-se por
“produtos de limpeza, alimentícios, vestuários, calçados, revistas e jornais,
destina dos à utilização
e consumo cotidiano”, sem finalidade comercial.
Uma ponte emblemática
A Ponte Binacional foi finalizada em 2011. No momento, o
pátio aduaneiro do lado brasileiro está sendo construído. A estrutura é uma
condicionante para a abertura oficial. As atividades da Receita e da Polícia
Federal serão iniciadas após essa etapa.
Idealizada em 1997 pelos então presidentes Fernando Henrique
Cardoso (Brasil) e Jacques Chirac (França), a ponte que liga a América Latina à
União Europeia é a única ligação terrestre entre o Oiapoque (AP) e Saint
Georges de l’Oiapock, na Guiana Francesa.
A ponte estaiada mede 378 metros e custou R$ 61 milhões,
dividido entre os dois países. Na mesma época em que a obra foi finalizada, os
franceses concluíram a rodovia de quase 200 km que ligou Saint Georges à
Caiena.
Além das obras da fronteira brasileira, que incluem posto da
Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Ibama e Anvisa ao custo de R$ 13
milhões, os dois países ainda precisam ratificar acordo sobre o transporte
terrestre de pessoas e mercadorias.
Enquanto a inauguração definitiva não sai e a liberação não
chega, os brasileiros que se aventuram até a Guiana Francesa continuam
utilizando barcos para atravessar o Rio Oiapoque. O caminho inverso tem sido
feito pela própria ponte, pois o posto aduaneiro francês já funciona.
Apoio parlamentar
O deputado federal
Roberto Góes (PDT-AP) sempre esteve acompanhando o imbróglio da entrega para o
tráfego na Ponte Binacional do Rio Oiapoque. Durante as audiências do
governador do Amapá, Waldez Góes, com o ministro das Relações Exteriores, José
Serra o parlamentar esteve presente. A pauta central sempre foi a celeridade na
inauguração da ponte que ligará o município de Oiapoque, no Brasil, à cidade de
São Jorge do Oiapoque, na Guiana Francesa. Porém, questões burocráticas,
políticas e estruturais vêm atrapalhando a entrega total da obra, como acordos
entre os dois governos federais e o término da construção do posto aduaneiro e
de fiscalização do lado brasileiro. “A ponte do Rio Oiapoque não será apenas
uma simbólica ligação física entre Brasil e França, Amapá e Guiana Francesa.
Pontes enfatizam a ideia de desenvolvimento, coexistência e, sobretudo, de
respeito entre países ou cidades. Estamos entusiasmados com a perspectiva da
inauguração em breve de toda a obra”, disse o deputado Roberto Góes.
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