terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

PIONEIRSMO DO CARNAVAL

 A PIONEIRA ALICE GORDA
 





No decorrer dos 45 anos em que viveu em Macapá, Alice Gorda promoveu e ajudou a promover as pândegas e as pantomimas carnavalescas. Como o firmamento precisava de uma estrela de primeira grandeza, Alice mudou de endereço, deixando seus súditos conscientes de que apenas a fraternidade é capaz de fazer o carnaval existir. (Nilson Montoril)

Maria Alice Guedes de Azevedo – A Alice Gorda - *1934 - + 2005






Reinaldo Coelho
Da Reportagem

O jornal Tribuna Amapaense nesse período momesco presta uma homenagem a primeira e única Rainha Moma do carnaval do Amapá, a Sra. Alice Gorda (Maria Alice Guedes de Azevedo), que chegou a Macapá no início do Território, oriunda de Belém do Pará, aos 25 anos de idade, trazida pelo empresário Orlando Ventura, proprietário do Hotel Coelho, em Belém, para trabalhar no Macapá-Hotel a quem o estava arrendado e depois se tornou a maior incentivadora do Carnaval de Macapá, principalmente das antigas Batalhas de Confete e do Bloco “A Banda”, passando por Boêmios do Laguinho e Piratas da Batucada. Alice Goda, após deixar o Hotel Macapá, manteve a tradição de patrocinar as batalhas de confetes na cidade de Macapá. Promovendo no Cacique Bar no bairro Santa Rita, de sua propriedade.

Uma das maiores defensores dos blocos de rua, mais ainda do ‘Bloco do Amapá Clube’ que recebeu a denominação “A BANDA” pelos seus próprios detratores os membros do governo militar implantado pela ditadura no Palácio do Setentrião. Em um lindo artigo o historiador Nilson Montoril escreveu que durante a ausência do  General Luiz Mendes da Silva o economista Roberto Rocha Souza exercia interinamente o cargo de governador.
E que foi o idealizador de toda a nefasta tramóia contra os carnavalescos. “Em nota divulgada no Jornal Amapá e outros órgãos de imprensa de Belém, o governo amapaense rotulou o bloco de “A Banda”, porque havia uma orquestra postada sobre um caminhão executando a marcha famosa marcha composta por Chico Buarque”.

 A Alice Gorda fervorosa carnavalesca foi acusada de ser “testa-de-ferro” dos Janaristas na organização do bloco. Ela negou que seus liderados tivessem qualquer pretensão de ferir os princípios democráticos defendidos pela revolução de 31 de março de 1964, e que a organização do bloco comportasse cunho político e “diplomação popular do Coronel Janary Nunes como deputado federal”.

Mulher de princípios rígidos, Alice Gorda exigiu direito de resposta junto aos órgãos de imprensa que divulgaram notas acusando-a de agitadora. Sua exigência foi atendida e a paz voltou a reinar no carnaval do Amapá

No carnaval de 1998, a Rainha Moma, Alice Gorda, participou do desfile da Banda na carroçaria de uma camionete. Fazia-lhe companhia o Prof. Antônio Munhoz, fantasiado de palhaço e revestido da função de Juiz de Paz. Naquele ano, na esquina da Avenida Feliciano Coelho de Carvalho com a Rua Jovino Albuquerque Dinoá foi realizado o "casamento" da Boneca Chicona com o galante Anhanguera. Alice ainda não apresentava os sintomas da doença que ceifou sua vida .

No decorrer dos 45 anos em que viveu em Macapá, Alice Gorda promoveu e ajudou a promover as pândegas e as pantomimas carnavalescas. Como o firmamento precisava de uma estrela de primeira grandeza, Alice mudou de endereço, deixando seus súditos conscientes de que apenas a fraternidade é capaz de fazer o carnaval existir. Assim, neste carnaval de 2017, no momento em que a Banda passar nas ruas de Macapá, a atenções de seus integrantes deve estar voltadas para o céu, onde Alice a tudo observa, com um largo sorriso estampado no rosto. Que rufem os tambores! O maravilhoso Reino da Alegria de Alice Gorda está em festa para perpetuar a sua memória.

Homenagem

 A Cidade do Samba, numa justa homenagem a quem tanto fez pelo carnaval de Rua do Amapá, foi batizada de “Alice Gorda”. Acompanhe a história dessa carnavalesca amapaense.

Alice Guedes de Azevedo – a "Alice Gorda" - nasceu em Belém-PA, no dia 8 de março de 1934. Passou a infância e a juventude na casa dos pais, à Rua Veiga Cabral, número 114, na cidade velha. Seu primeiro emprego foi na Sorveteria “Flor de Lis”, na esquina da Rua Padre Eutíquio com a Avenida Almirante Tamandaré.
 Em meados do ano de 1959, passou a trabalhar com o senhor Orlando Ventura em dois estabelecimentos comerciais que ele possuía na cidade de Belém: o Hotel Coelho (que depois recebeu o nome de Vanja Hotel) e o Hotel Regina. Nesta ocasião foi designada para vir a Macapá, a serviço, porque o senhor Orlando Ventura havia arrendado o Macapá Hotel. Alice era chefe de cozinha e uma espécie de subgerente. Deveria passar três meses, mas permaneceu para sempre.

Não vamos falar da Alice comerciante, desportista ou carnavalesca e sim da brava cidadã que tinha uma vontade imensa de ser escritora. O destino não lhe favoreceu nesta pretensão. Os estudos tiveram que ser interrompido porque o pai retirou-se do lar, deixando dona Felícia Silva Azevedo, sua genitora, com a missão de desdobrar-se para sustentar a família. Alice precisou trabalhar para ajudar sua mãe e por isso não avançou nos estudos.

O valor do consistente curso primário que a Alice frequentou foi fundamental na vida da Rainha Moma. Escrevia bem, conhecia os meandros da gramática e as quatro operações fundamentais da matemática. Ela nunca temeu a morte. Sabia que todos os seres vivos fatalmente acabarão em seus braços.       
                
Sofrendo de diabetes, com o peso acima do normal e convivendo com um câncer, Alice Azevedo tinha consciência de que seu desenlace poderia ocorrer a qualquer momento. Alice Guedes de Azevedo faleceu em Macapá no dia 2 de abril de 2005.

(Fonte: blog Arambaé do historiador Nilson Montoril)

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