60 anos da Estrada de Ferro do Amapá. Abandonada, um delito contra o
Amapá
Uma estrada de ferro de 194 quilômetros que
tinha como objetivo comercial (transportar minérios) e o social transportar os
produtos hortifrutigranjeiros e seus produtores favorecendo assim o agronegócio
inóspito do então Território Federal do Amapá, começou a ser construída em 1950
e foi inaugurada em 1957. Lá se vão 60 anos de serviços prestados em benefícios
econômicos e sociais dos amapaenses.
Essa grande obra para o então recém-criado
Território Federal do Amapá era o maior impulso para o seu desenvolvimento.
Porém, com o passar dos anos e a falta de compromisso das empresas que
assumiram a concessão e ao deixarem de realizar a manutenção da EFA, que já
vinha mostrando seu declínio com equipamentos sucateados, sistema de trilhos
desbitolados e os acidentes começaram a acontecer e pela falta do porto de
descarrego de minério foi o início do fim da ferrovia amapaense. E a cada dia
que passa os custos de manutenção aumentam ainda mais.
Tudo começou com uma concessão original a
Indústria e Comércio de Minérios do Amapá (ICOMI), por 50 anos, que repassou
por R$ 884 milhões, em março de 2006, a MMX Mineração e Metálicos vencedora do
processo licitatório por meio da Acará Empreendimentos e seria a nova
administradora da ferrovia por vinte anos.
Foi um projeto grandioso, mas que não cumpriu. Ainda sob a tutela da ICOMI em
1997 – EFA, transportou 84 mil passageiros e um milhão de toneladas de
mercadorias (minério de manganês, ferrosilício, dormentes, areia, explosivos,
etc.), equivalente a 194 milhões de TKU, empregando 40 funcionários.
A MMX Logística ofereceu garantias de 7,8
milhões de reais para operar o contrato, e estava obrigada a fazer
investimentos de 40,7 milhões de reais nos 193 quilômetros de estrutura
ferroviária do Amapá nos próximos dois anos, ou seja em 2007 e 2008.
O contrato previa que a MMX Logística investisse
na recuperação das estações ferroviárias entre Santana e Serra do Navio,
revitaliza-se todo o leito da ferrovia com troca de trilhos, assim como a modernização
dos vagões e da sinalização em todo o trajeto. A empresa também seria a
responsável por dotar os vagões cargueiros de melhores estruturas para
transporte de minérios e produtos agrícolas. Entre os novos investimentos estava
a compra de 82 novos vagões. O valor total da operação seria de 157,9 milhões
de reais.
Nem um centavo foi aplicado e a bola correu
em direção a Anglo American, através do Sistema Amapá, que adquiriu a concessão
e com a promessa de um investimento de R$ 1,15 bilhão, e a EFA continuou a
operar com remendos e nada foi modernizado, apenas foi adquirida uma locomotiva
GE C30-7 reformada da MGE/Rail Progress, ou seja pura sucata.
Em 28 de março de 2013 as infraestruturas do
porto de Santana, utilizadas para carregar o mineral de ferro extraído desta
mina, foram destruídas por uma onda e um deslizamento de terra que causou a
morte de seis pessoas. A mineradora Anglo American, que pretendia vender 70% de
uma mina de ferro no Amapá à suíça Zamin Ferrous vendeu 100% e saiu fora,
deixando o caos para trás nas mãos da incompetente internacional Zamin, que
acabou por enterrar a EFA.
Mas nos bastidores todas essas empresas
usaram a mina e a EFA para resolver seus problemas contábeis e a American não
foi diferente, ela adquiriu, em 2008, 70% do Amapá dentro de uma transação de
5,5 bilhões de dólares, que também a permitiu poder assumir o controle de 100%
da mina da Minas-Rio, e com 49% da operadora portuária LLX Minas-Rio era
necessário adquirir as minas de Amapá para ter lastro para comprar as outras,
as minas do Amapá foram simples estopas financeiras.
Especializado em ferro, Zamin Ferrous possuía
ativos de mineração em Brasil e no Uruguai e adquiriu o Sistema do Amapá, para
poder garantir o mercado de ações no Brasil.
Todas elas foram tendo suas ações passadas
com lucros fantásticos para investidores nacionais e estrangeiros, ficando para
o amapaense o “abacaxi”, que não era aquele produzido em Campo Verde.
As empresas assumiam os lucros, porém a
manutenção e restauração do patrimônio imóvel e móvel da empresa foram adiadas
e o resultado é a deterioração da EFA.
A tristeza é ver o matagal engolindo os
trilhos do progresso de 60 anos, os vagões sendo carcomido pelos cupins e pela
“ferrugem”.
E o Amapaense?
Nada sabe, pois o silêncio é sepulcral. Uma
única voz que se levanta constantemente nos tribunais nacionais é do Promotor
Garcia, da Promotoria do patrimônio Público e do Meio Ambiente de Santana. Esperamos
que ao menos a justiça ajude a trazer de volta mais esse patrimônio amapaense
que estamos arriscando a perder como muitos outros que sumiram e ninguém mais
se lembra. Olhem a Vila de Serra do Navio, decrepita e abandonada! A Vila
Amazonas descaracterizada. E por ai vai...
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