domingo, 9 de julho de 2017

ARTIGO DO REI




60 anos da Estrada de Ferro do Amapá. Abandonada, um delito contra o Amapá



Uma estrada de ferro de 194 quilômetros que tinha como objetivo comercial (transportar minérios) e o social transportar os produtos hortifrutigranjeiros e seus produtores favorecendo assim o agronegócio inóspito do então Território Federal do Amapá, começou a ser construída em 1950 e foi inaugurada em 1957. Lá se vão 60 anos de serviços prestados em benefícios econômicos e sociais dos amapaenses.
Essa grande obra para o então recém-criado Território Federal do Amapá era o maior impulso para o seu desenvolvimento. Porém, com o passar dos anos e a falta de compromisso das empresas que assumiram a concessão e ao deixarem de realizar a manutenção da EFA, que já vinha mostrando seu declínio com equipamentos sucateados, sistema de trilhos desbitolados e os acidentes começaram a acontecer e pela falta do porto de descarrego de minério foi o início do fim da ferrovia amapaense. E a cada dia que passa os custos de manutenção aumentam ainda mais.
Tudo começou com uma concessão original a Indústria e Comércio de Minérios do Amapá (ICOMI), por 50 anos, que repassou por R$ 884 milhões, em março de 2006, a MMX Mineração e Metálicos vencedora do processo licitatório por meio da Acará Empreendimentos e seria a nova administradora da ferrovia por vinte anos. Foi um projeto grandioso, mas que não cumpriu. Ainda sob a tutela da ICOMI em 1997 – EFA, transportou 84 mil passageiros e um milhão de toneladas de mercadorias (minério de manganês, ferrosilício, dormentes, areia, explosivos, etc.), equivalente a 194 milhões de TKU, empregando 40 funcionários.
A MMX Logística ofereceu garantias de 7,8 milhões de reais para operar o contrato, e estava obrigada a fazer investimentos de 40,7 milhões de reais nos 193 quilômetros de estrutura ferroviária do Amapá nos próximos dois anos, ou seja em 2007 e 2008.
O contrato previa que a MMX Logística investisse na recuperação das estações ferroviárias entre Santana e Serra do Navio, revitaliza-se todo o leito da ferrovia com troca de trilhos, assim como a modernização dos vagões e da sinalização em todo o trajeto. A empresa também seria a responsável por dotar os vagões cargueiros de melhores estruturas para transporte de minérios e produtos agrícolas. Entre os novos investimentos estava a compra de 82 novos vagões. O valor total da operação seria de 157,9 milhões de reais.
Nem um centavo foi aplicado e a bola correu em direção a Anglo American, através do Sistema Amapá, que adquiriu a concessão e com a promessa de um investimento de R$ 1,15 bilhão, e a EFA continuou a operar com remendos e nada foi modernizado, apenas foi adquirida uma locomotiva GE C30-7 reformada da MGE/Rail Progress, ou seja pura sucata.
Em 28 de março de 2013 as infraestruturas do porto de Santana, utilizadas para carregar o mineral de ferro extraído desta mina, foram destruídas por uma onda e um deslizamento de terra que causou a morte de seis pessoas. A mineradora Anglo American, que pretendia vender 70% de uma mina de ferro no Amapá à suíça Zamin Ferrous vendeu 100% e saiu fora, deixando o caos para trás nas mãos da incompetente internacional Zamin, que acabou por enterrar a EFA.
Mas nos bastidores todas essas empresas usaram a mina e a EFA para resolver seus problemas contábeis e a American não foi diferente, ela adquiriu, em 2008, 70% do Amapá dentro de uma transação de 5,5 bilhões de dólares, que também a permitiu poder assumir o controle de 100% da mina da Minas-Rio, e com 49% da operadora portuária LLX Minas-Rio era necessário adquirir as minas de Amapá para ter lastro para comprar as outras, as minas do Amapá foram simples estopas financeiras.
Especializado em ferro, Zamin Ferrous possuía ativos de mineração em Brasil e no Uruguai e adquiriu o Sistema do Amapá, para poder garantir o mercado de ações no Brasil.
Todas elas foram tendo suas ações passadas com lucros fantásticos para investidores nacionais e estrangeiros, ficando para o amapaense o “abacaxi”, que não era aquele produzido em Campo Verde.
As empresas assumiam os lucros, porém a manutenção e restauração do patrimônio imóvel e móvel da empresa foram adiadas e o resultado é a deterioração da EFA.
A tristeza é ver o matagal engolindo os trilhos do progresso de 60 anos, os vagões sendo carcomido pelos cupins e pela “ferrugem”.
E o Amapaense?

Nada sabe, pois o silêncio é sepulcral. Uma única voz que se levanta constantemente nos tribunais nacionais é do Promotor Garcia, da Promotoria do patrimônio Público e do Meio Ambiente de Santana. Esperamos que ao menos a justiça ajude a trazer de volta mais esse patrimônio amapaense que estamos arriscando a perder como muitos outros que sumiram e ninguém mais se lembra. Olhem a Vila de Serra do Navio, decrepita e abandonada! A Vila Amazonas descaracterizada. E por ai vai...

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