Transposição
de servidores
Uma
economia de 283 milhões ao ano
Estimativa
feita pelas comissões dos servidores, Governo do Amapá e Superintendência de
Administração do Ministério do Planejamento prevê uma economia milionária,
recurso que deverá ser aplicado em investimentos no Estado
Janderson
Cantanhede e
Reinaldo
Coelho
Para atenuar os impactos da crise econômica, muitos
governos têm feito profundos ajustes nas contas públicas. No Amapá, uma das alternativas
encontradas deverá gerar aos cofres públicos R$ 283 milhões no ano. A
transposição de servidores para os quadros federais pode atingir 7 mil
funcionários públicos. Desses, foram analisados 4.979. Já foram deferidos
2.554. Outros 2.455 foram indeferidos. Efetivados, ou seja, que já passaram aos
quadros federais são 1.638 servidores.
A reunião de Neleide Ábila e Flavia Bastista, com o governador Waldez Góes, o vice Papaleo Paes, |
A estimativa é da Superintendência de Administração
do Ministério do Planejamento no Amapá (Samp-AP), com base no último
levantamento realizado até o dia 22 de março deste ano, quando 553 servidores
do Amapá concluíram o processo.
A transposição dos servidores do ex-território é originária
da PEC 111 (Proposta de Emenda Constitucional) de
autoria da deputada federal Dalva Figueiredo (PT/AP), que demorou 16 anos para
ser aprovada no Congresso Nacional (Câmara e Senado Federal) e deu origem à Emenda
Constitucional 79, de 27 de maio de 2014, que dispõe sobre o exercício d
Os aptos são funcionários ainda do ex-território
federal que desempenham funções nas esferas municipal e estadual. Segundo o
superintendente da Samp no Amapá, José Bezerra, os servidores que atenderam os
critérios de transposição terão todos os direitos e deveres dos servidores
públicos federal, baseado na Lei 8112/99.
Economia aos
cofres
O Governo do Amapá estima que o processo de
transferência dos servidores resultará em uma economia mensal de R$ 23,5
milhões, o que equivale a mais de R$283 milhões por ano. “Com a economia, o
Poder Executivo poderá investir em diversos setores. O servidor terá os
salários pagos pelo governo federal, mas continuarão à disposição da
administração estadual”, pontou José Bezerra.
Os técnicos da Superintendência identificaram,
ainda, algumas inconsistências nos dados pessoais de, aproximadamente, 30
servidores. Em sua maioria são referentes a número de contas de bancos, títulos
de eleitor e CPF. Para solucionar o problema, a instituição está localizando essas
pessoas para as devidas correções.
Sem prejuízo
A saída desses servidores para os quadros federais
não prejudica o funcionamento da gestão pública. Eles continuarão à disposição,
mas com o pagamento dos salários será feito pela União. A proposta é válida aos
funcionários admitidos entre outubro de 1988 e outubro de 1993.
Tramite de transposição
A Comissão Especial dos Extintos Territórios Federais de Rondônia, Amapá e Roraima (Ceext) convocou 867 servidores do grupo conhecido como “105 |
Para que esses servidores passassem aos quadros
federais, foi criada uma Comissão Especial dos Extintos Territórios Federais de
Rondônia, Amapá e Roraima (Ceext), que é presidida por Neleide Ábila, advogada
da União, e a presidente da 1ª Câmara de Julgamento de Transposição, Flavia
Bastista, que junto com a comissão estadual, sob a coordenação da secretária de
Administração do Amapá, Suelem Furtado.
A presidente da Ceext, Neleide Ábila, que
frequentemente está no Amapá acompanhando as tratativas sobre a transposição,
reforça que encontros como esse possibilitam “expor os avanços, as pendências,
resolver questões pontuais e afinar ainda mais essa cooperação com o Amapá,
dando transparência dos trabalhos realizados pela comissão”.
Além da transposição regular entre os quadros do
Estado e a União, são analisados ainda os processos de transposição envolvendo
os “992” e os “1.050”.
Transposição regular
Doutoras Flávia E. Santo e Neleide Ábila Presidente e Vice da Comissão da Transposição Brasília |
Ao todo, 7 mil processos de transposição regular estão
sendo analisados no Amapá. Há, segundo a Sead, 858 servidores (entre
professores, policiais civis, militares e outros) com nomes já publicados em
portarias. Desses, 677, já estão enquadrados em cargos da União.
“Isso causa um impacto aproximado de R$ 5,3 milhões
a menos na folha de pagamento mensal do Estado”, frisou a titular da Sead,
Suelem Furtado, complementando que essa economia possibilita organizar, ainda
mais, as finanças do Executivo estadual, efetivando por exemplo, o pagamento de
pendências existentes com servidores civis e militares.
Processos “992” e “1.050”
A Comissão Especial também trata, excepcionalmente,
dos processos “992” e “1.050”. Esses números representam, respectivamente, o
quantitativo de processos de servidores que foram admitidos entre os anos de 1988
e 1993 e que o Ministério Público Federal (MPF) solicitou a análise das
admissões, mediante suspeitas de irregularidades em algumas contratações.
O processo “992” está, segundo a presidente da
comissão, em fase de finalização de análises e elaboração do relatório final. A
visita ao Amapá também contempla uma agenda com o titular da 1ª Vara Federal,
para tratar de questões técnicas do relatório a ser apresentado.
EC 79-2014 foi promulgada no dia 27 de maio (Imagem Divulgação) |
O processo “1.050”, por sua vez, começou a ser
analisado pela Ceext, no dia 2 de maio, e finalizado no fim de julho, e em
agosto o relatório seja entregue, prazo dado pelo juiz Anselmo Gonçalves para
finalização da análise de ambos os processos.
“Apesar da comissão dar parecer favorável ou não em
cada processo, a decisão final será dada pelo juiz. Damos esse auxílio, mas
cabe a ele a avaliação e parecer finais, se o servidor atende os requisitos da
emenda 79 ou não”, esclareceu Ábila.
Segundo a presidente da Comissão Especial, Neleide
Ábila, existem dois gargalos no trabalho realizado no Amapá, que com a
colaboração e apoio do Estado serão minimizados. A decisão de deferimento
depende da documentação completa. “Às vezes no processo está faltando um
documento simples, com uma certidão previdenciária, por exemplo”, explicou.
Notificações devolvidas
Outro entrave é em relação as notificações ao
servidor. Quase 40% das notificações encaminhadas, via correio, são devolvidas,
seja porque o endereço está incompleto ou por não localizá-lo. “Estamos
alinhando a colaboração do Estado para conseguirmos notificar a pessoa de uma
forma mais ágil. Resolvendo essas pendências, seguramente a análise de todos os
processos serão finalizadas em 2016. O Amapá está em uma posição privilegiada.
Vamos terminar de julgar o Estado antes de Rondônia e Roraima”, afirma Ábila.
Prioridade
A agenda de transposição é uma prioridade na gestão
do governador, Waldez Góes. Para ele, a medida é um reconhecimento de um
direito constitucional.
De acordo com ele, as medidas legislativas dão
amparo a esse procedimento. “A visita da presidente da Comissão Especial vai
acelerar a comunicação, nivelar informações e estratégias para consolidar a
transposição esse ano”, comentou o chefe do Executivo.
O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
divulgou no Diário Oficial da União, em agosto de 2016, a primeira portaria com
56 nomes de servidores pertencentes ao quadro estadual, aptos a passarem para o
quadro da União.
Servidores da
CEA
Outro ponto da transposição é a Proposta de Emenda
Constitucional que garantirá a 128 profissionais que compõem o quadro da CEA, e
que ingressaram na empresa até 1993, a serem beneficiados com a transposição.
Depois, o tema foi tratado com Rodrigo Maia. O
governador Waldez Góes se acompanhou dos deputados federais Cabuçu Borges
(PMDB) e Roberto Góes (PDT), e ainda pela Comissão de Servidores da Companhia
de Eletricidade do Amapá.
Em outra frente de trabalho, na Assembleia
Legislativa do Estado do Amapá, tramita a PEC 001/2017, de autoria do Governo
ao Amapá, que permitirá a transposição dos demais servidores para os quadros
estaduais.
Uma luta que durou mais de 20 anos
Diretor jurídico do Sindicato dos Policiais Civis do Amapá (Sinpol-AP) e membro da Comissão de Transposição e Acompanhamento do Estado do Amapá, Cleobernaldo Leite |
O diretor jurídico do Sindicato dos Policiais Civis
do Amapá (Sinpol-AP) e membro da Comissão de Transposição e Acompanhamento do Estado
do Amapá, Cleobernaldo Leite, em entrevista ao Tribuna Amapaense, revelou que
que até agora o Estado
já registra 1.069 servidores transpostos para o quadro federal, o que
representa uma economia de R$ 6 milhões e 700 mil ao governo e R$ R$ 1 milhão e
700 mil para a prefeitura de Macapá. Essa parte da transposição significa uma
economia R$ 8 milhões de reais por mês.
“Com a Emenda da Constituição nº 60, que trata da
transposição dos servidores de Rondônia para a União, tentamos em 2009 atrelar o
Amapá e Roraima. Então, se a Constituição diz que se aplica ao Amapá e Roraima
os mesmos critérios utilizados em de Rondônia, que também é ex-território, nada
melhor do que a Emenda 60 se estender ao Amapá e Roraima”, explicou.
Esse atrelamento foi alvo de diversas ações junto
aos parlamentares amapaenses, mas as tentativas haviam sido em vão. “Não
conseguimos que a Emenda Constitucional 60 se estendesse ao Amapá e Roraima.
Pior, o governo federal ainda nos lançou um desafio ‘Ganhe nos votos, igual fez
Rondônia’”, explicou Cleobernaldo.
Então, criou-se um grupo de trabalho para atuar em Brasília,
junto às bancadas e ministérios. “Foi quando conseguimos a criação da PEC 111,
de autoria da então deputada federal Dalva Figueiredo, com a relatoria do
deputado Luciano de Castro, de Roraima, e do então senador José Sarney (PMDB)
no Senado Federal”, explicou.
A matéria foi aprimorada e assim conseguiram aprovar
a PEC 111 no dia 27 de maio de 2014. A proposta se tornou a Emenda
Constitucional 79, estabelecendo a inclusão dos servidores públicos nos quadros
federais.
Ficou assim estabelecido que todos os servidores
contratados pelo Estado do Amapá e Rondônia, até 5 de outubro de 1993 e dos
cinco municípios (Macapá, Mazagão, Amapá, Calçoene e Oiapoque) até 1988 seriam responsabilidade
da União. “Com essa vitória, passamos nos reunir com a bancada federal do Amapá
e governo do Estado, mostrando que não tinha um projeto mais importante para a
economia amapaense do que a transposição”, definiu Cleobernaldo.
Os trabalhos passaram a se desenvolver até que foi
definida uma série de exigências legais para que a transposição acontecesse.
Foram mais de 20 anos de luta.
O resultado final
Com a transposição acontecendo, o Amapá então passa a
criar musculatura econômica, pois o dinheiro até então usado para quitar o
salário desses servidores, passará a ser utilizado em investimentos, criando emprego
e renda, fomentando a economia local.
Para Cleobernaldo, o apoio da bancada federal e do
Governo do Estado na construção de um ambiente que permitisse agilidade ao processo
foi fundamental. Tudo acompanhado por comissões estaduais e municipais de
acompanhamento. “Ainda temos diversas frentes de luta. Estamos agora atuando
pelos servidores que trabalham como policiais civis, mais que recebem como administrativos.
Esse servidor precisa ser reconhecido. Serão entre 100 e 200 policiais que
estarão à disposição do Estado, no combate à criminalidade.
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