Dia das Crianças: Tem o que se festejar?
A violência e a criminalidade infantil é um problema de
todos e, por isso, é preciso haver a participação de todos.
Reinaldo Coelho
Quando ouvimos
falar em Dia das Crianças a imagem que nos vem à cabeça é sempre
uma: presentes. Isso, é claro, não poderia deixar de ser, pois quem não gosta
de presentes? No entanto a celebração do dia das crianças não tem o intuito de
apenas presentear as nossas crianças. Na verdade o Dia da Criança é bastante
significativo para o que realmente a criança representa.
Oficialmente uma
das primeiras convenções sobre uma data comemorativa internacional em homenagem
à criança aconteceu em 1925, durante a Conferência Mundial pelo bem-estar da criança, realizada em
Genebra, Suíça. Nessa ocasião o dia 1º de junho ficou marcado como o Dia
Internacional da criança. No ano anterior, 1924, a então chamada “Liga das
Nações” fundou a “Declaração dos Direitos da Criança” para fundamentar os
cuidados especiais que deveriam ser tomados em relação a todas as crianças
diante da fragilidade do ser humano em sua infância. Dessa medida surgiram atos
legais que proibiram o trabalho infantil e a violência contra a criança.
Tempos depois, em
1954, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o dia 20 de Novembro foi
estabelecido como o Dia Universal da Criança. O objetivo era encorajar os
demais países a estabelecerem uma data para promover ações que garantiriam
direitos e o bem-estar da criança. Em 1959 a Assembleia Geral das Nações Unidas
adotou a “Declaração dos Direitos da Criança”, com algumas modificações, e cada
país passou a estabelecer uma data comemorativa para celebrar os direitos da
criança.
No Brasil,
entretanto, a data já havia sido estipulada ainda na década de 1920. O deputado
federal do Rio de Janeiro, Galdino do Valle Filho, conseguiu a aprovação da
lei, em 1924, que instituía o dia 12 de Outubro como o Dia da criança.
Todas essas datas
são bonitas para festejar, porém a realidade mundial das crianças é totalmente
diferente, o que é badalado pelos órgãos que se dizem representantes das
crianças. A maioria dos países maltratam seus pequenos cidadãos, as famílias,
as guardiãs primárias desses pequenos seres, as violentam física e
psicologicamente. O poder público negligencia o atendimento médico, educacional
e de lazer, deixando-os na ociosidade do lazer e ocupacional e ai entra o Crime
Organizado que os resgatam prometendo o que lhes é de direito constitucional e
social, pelo viés criminoso.
A criança e a vida real
Falta de estrutura
familiar, falta de um projeto de vida, valorização do ter ao invés do ser,
falta de políticas públicas que combatam a desigualdade social, impunidade da
estrutura penal brasileira, aumento do consumo de drogas. Estes são apenas
alguns fatores apontados por especialistas como motivadores para o envolvimento
de adolescentes com o crime.
A cada dia que
passa mais crianças deixam a inocência da infância de lado para dar lugar ao
universo sombrio do crime. Ao invés dos carrinhos, bolas e bonecas para brincar
no quintal de casa, meninos e meninas com 11, 12, 13 anos de idade brincam com
armas, canivetes e facas. A droga ganhou espaço no meio familiar que, cada vez
mais desestruturado, não sabe impor limites, ensinar valores e educar para a
vida.
Dados levantados
pelo Sistema Nacional de Atendimento Sócio Educativo, SINASE, revelam que o
perfil do adolescente em conflito com a lei é o seguinte: 90% são homens; 76%
tem entre 16 e 18 anos; 51% não frequentam a escola; 81% vivia com a família na
época da internação; 12,7% vem de família que não possui renda; 66% a família
possui renda inferior à dois salários mínimos e 85,6% são usuários de drogas.
Analisando este
perfil fica claro identificar que a miséria, a falta de escolarização e o
envolvimento com drogas são fatores preponderantes no envolvimento dos
adolescentes com atos infracionais. Ressaltando que a desestrutura familiar
costuma ser um agravante nestas situações.
Os casos de
menores infratores, que são julgados pelas Varas da Infância e da Juventude,
aumentam a cada ano, não só em número, mas também em gravidade. Antes eram
pequenos furtos e brigas, hoje estupro, roubos à mão armada, tráfico e
homicídios.
PEPI
O Estado do Amapá
tem atuado intensamente em estruturar ações voltadas para a Criança e ao
Adolescente, entre elas a construção do Plano Estadual Pela Primeira Infância
no Amapá (PEPI) que ouviu a opinião das próprias crianças amapaenses. Uma outra
ferramenta foi a adesão do Estado e de diversos municípios ao programa federal
Criança Feliz.
Em dezembro de
2016 a UNICEF realizou uma ação junto as crianças do Estado do Amapá onde elas
opinavam sobre o que pensam e desejam para a sua cidade. Os relatos coletados
para ajudar a construir o Plano Estadual Pela Primeira Infância no Amapá (PEPI).
Os facilitadores usaram histórias infantis, e faziam as crianças desenharem o
que mais gostam na cidade, fotografarem o lugar que preferem na escola, e
conversarem em pequenos grupos sobre o que as agrada na cidade. Tudo foi
registrado em áudio e vídeo pela UNICEF e pela Secretaria de Estado da Inclusão
e Mobilização Social (SIMS).
A elaboração do
Plano Estadual pela Primeira Infância do Amapá traduz no compromisso de
garantir os direitos da criança de até seis anos. Com esta ação, buscar-se-á a
construção de políticas públicas, recursos financeiros e humanos, planos,
programas e projetos com objetivos, metas, estratégias e indicadores que
garantam a promoção e proteção para a atenção integral as crianças amapaenses
na primeira infância.
Criança Feliz
O programa federal
‘Criança Feliz’ começou a ser implantado no Amapá em março deste ano. O
programa garante a transferência de recursos pelo governo federal e a formação
dos profissionais que serão responsáveis pelas visitas domiciliares. O programa
terá como ponto central a visitação domiciliar. Técnicos capacitados irão até
as casas das famílias para mostrar aos pais a maneira correta de estimular o
desenvolvimento dos filhos nos primeiros mil dias de vida.
Em todos os níveis
da administração pública estadual vem sendo desenvolvido programas voltados
para as crianças amapaenses, procurando fornecer principalmente aos mais
necessitados a participação em atividades desportivas, saúde, arte, cidadania.
A Policia Militar,
Corpo de Bombeiro, Guarda Municipal, Ministério Público Estadual, Poder
Judiciário e os órgãos que pela sua própria natureza estão voltados para
atender essas crianças. Mas mesmo assim a demanda é grande e precisa da ajuda
da sociedade e principalmente da família.
A violência e a
criminalidade infantil são um problema de todos e, por isso, é preciso haver a
participação de todos. É uma realidade que precisa ser superada para oferecer
mais segurança ao jovem que sofre e mais oportunidades ao jovem que pratica. É
incontestável a importância de se reduzir (e, posteriormente, erradicar) esse
problema: o Brasil precisa que isso aconteça para se desenvolver e os jovens
brasileiros precisam que isso aconteça para poderem viver. Todos sairiam
ganhando, até porque um país que mata seus jovens é um país sem futuro.
Depoimentos de
especialistas:
Juíza da Vara da Infância e Juventude de Santana,
Larissa Noronha
“Acreditamos o que
falte hoje para a real aplicação e o aproveitamento dos institutos do Estatuto
da Criança e do Adolescente seja a sociedade poder identificar e dar garantia a
esses direitos da educação, da saúde, da dignidade de crianças e adolescentes e
que pode estar a solução dos grandes problemas, como o de segurança pública.
Existe uma máxima que passa pelos órgãos judiciários que diz: ‘Você educa a criança,
para não ter que punir o adulto. A educação, também pode vir como solução para
o que a sociedade enfrenta hoje: A corrupção, que destrói as instituições
públicas, que destrói os serviços que são oferecidos a população que está tão
indignada, insatisfeita e esgotada de encarar esses problemas. Então, eu
acredito sim que o Estatuto é uma grande lei e que precisamos prestar atenção,
nós o Estado, a sociedade civil, a família precisamos prestar atenção neste
estatuto e garantir os direitos das Crianças e Adolescentes, isso para que
tenhamos daqui a 10 a 15 anos uma sociedade mais segura, menos corrupta, mas
digna, mas cidadã, para que possamos construir o cidadão de nosso futuro.”
Pastor Bezeliel
Rodrigues
No
atual contexto em que vivemos, penso que não, pois, tenho a impressão de que, a
cada dia que passa, nossa sociedade entra em mais decadência, tanto no sentido
moral, como espiritual etc.
As
crianças são fortes indicadoras do avança dessa degradação social progressiva.
Elas estão mendigando nas ruas, sendo inseridas no mundo das drogas, da
prostituição, da criminalidade; estão sofrendo abusos sexuais, principalmente
dentro dos lares, onde deveriam está mais protegidas. Até no âmbito da cultura,
pelos museus mundo afora, estão sendo expostas à pedofilia, ao estupro de
vulneráveis, tudo às claras, com direito à divulgação com alta repercussão nas
mídias sociais.
O
absurdo é tão extremo que até projetos de lei estão a atacar a infância e tudo
em nome da modernidade, da cultura, dos novos tempos. O caso é grave.
Mas
algo na Bíblia pode ou deve nos fazer refletir. São aquelas palavras de Jesus
em Mateus 19.14: “Mas Jesus lhes ordenou: “Deixai vir a mim as crianças, não as
impeçais, pois o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas””.
Pensemos
nisso e sejamos mais responsáveis com as crianças.
De acordo com o
sociólogo Renivaldo Costa, do ponto de vista da sociologia da infância, as
crianças são entendidas como atores sociais e como sujeitos dos seus processos
de socialização, produtoras da diferença e da pluralidade.
Ele explica que
num momento em que autores como Marx voltam a ser cultuados pelo Nova Esquerda,
especialmente entre educadores que abraçam essa corrente, datas como Dia dos
Pais, Dia das Crianças e Dia das Mães perdem força nas escolas – e
consequentemente nas famílias. “Há escolas tradicionais do Amapá que nem
celebram mais essas datas. Somente celebram o Dia da Família, alegando respeito
à diversidade”, explica.
Para o sociólogo,
vivemos no “tempo de gentilezas perdidas”, onde vai se desconstruindo a figura
da família e seus principais personagens vão perdendo força. Ele explica que
hoje as crianças são vistas socialmente como “mini-adultos”, que consomem
praticamente os mesmos itens que seus pais. O brinquedo vai deixando de existir
em nome dos jogos eletrônicos e dos artigos de luxo. “A data vai continuar a
existir, mas não como dantes”, explica.
Padre Paulo
Roberto Rodrigues
A Igreja Católica defende todos os tratados internacionais que defendem a vida e a dignidade das crianças. Condena a ingerência do estado e da sociedade quando violam de várias formas esses direitos. Segundo a igreja. Católica há uma violação da dignidade das crianças quando ela é violentada, lhe é negado o direito a brincar, estudar, a afeto, amor, família, saúde, liberdade e a uma infância
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