Luz Para
Todos: decisão judicial emperra programa no Amapá
Nova
etapa permitiria a interligação de 11.730 domicílios em 143 localidades de
todos os municípios do Estado
Janderson
Catanhedo
A região
amazônica é conhecida não somente por sua rica fauna e flora, mas também por
seu potencial energético. A grandeza fluvial tem atraído empreendimentos
hidrelétricos de todos os cantos do mundo. Infelizmente, essa riqueza não chega
a boa parte dos moradores amazônicos, que ainda enfrentam as noites com velas e
lamparinas, sem um bico de energia elétrica.
Para
tentar amenizar essa disparidade social, o governo federal criou o programa Luz
Para Todos, criado em novembro de 2003, com o objetivo de acabar com a exclusão
elétrica no país e prover acesso à eletricidade, gratuitamente. Durante a
execução, foram localizadas outras famílias que não recebiam o serviço e o Luz
para Todos foi prorrogado, por meio do Decreto nº 7.520/2011, para o período de
2011 a 2014.
A
iniciativa é coordenada pelo Ministério de Minas e Energia, operacionalizado
pela Eletrobras e executado pelas concessionárias de energia elétrica e
cooperativas de eletrificação rural em parceria com os governos estaduais.
Em 30 de
dezembro de 2014, o Decreto Nº 8.387 prorrogou até 2018 o programa no país. A
medida teve o objetivo de levar energia elétrica a 228 mil famílias do meio
rural.
O Luz
para Todos atendeu até novembro de 2015 um total de 3.184.946 famílias,
beneficiando cerca de 15,3 milhões de pessoas. Os investimentos contratados
superam R$ 22,7 bilhões, com recursos de R$ 16,8 bilhões do governo federal.
Mais de
10 mil no Amapá
No Amapá,
o Luz Para Todos iniciou em 2006, por meio de contrato firmado entre o
Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
Eletrobrás e Eletronorte, como executora das obras. A meta era atender cerca de
19 mil unidades consumidoras, contudo, em 2014, o Luz Para Todos foi paralisado
e apenas 7 mil unidades receberam o serviço.
Em
dezembro de 2016, por determinação do governador Waldez Góes, a Companhia de
Eletricidade do Amapá (CEA) e o Governo do Amapá retomaram as tratativas com os
órgãos do governo federal para restabelecer o programa, em primeiro momento,
atendendo as comunidades de Água Branca do Cajari, em Laranjal do Jari; Maracá,
em Mazagão, além dos distritos de Carnot e Lourenço, no município de Calçoene.
Após a
execução, o programa atenderá, aproximadamente, 2 mil domicílios. As demais
comunidades receberão o benefício até 2018.
O
processo de contratação da CEA pela União para execução das obras estava em
fase de conclusão. O Termo de Compromisso, primeiro passo, foi assinado e
publicado no Diário Oficial da União pela CEA, Ministério de Minas e Energia,
Eletrobrás e Aneel. A medida permitiria a interligação de 11.730 domicílios em
143 localidades de todos os municípios do Estado. Os investimentos nesta etapa
seriam de R$ 150 milhões.
Nesse
pedaço do país, o principal objetivo do programa foi garantir energia de
qualidade a comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e populações de
assentamentos universalizando o atendimento. No Amapá, mais de 200 localidades
são atendidas por meio de sistemas isolados, isto é, geradores que utilizam
óleo diesel, combustível financiado pelo Governo do Estado. Apesar do esforço,
a atual estrutura de geração não garante energia 24h.
Nova
etapa
No
primeiro semestre deste ano, uma audiência pública na Justiça Federal tratou do
cadastramento de cerca de 20 mil domicílios ainda não contemplados nesta
primeira etapa. O juiz federal João Bosco Soares presidiu a audiência e
designou o Instituto do Meio Ambiente e do Ordenamento Territorial do Amapá
(IMAP) para coordenar o Grupo de Trabalho, formado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), Secretaria Extraordinária de Políticas
para os Afrodescendentes (Seafro) e Secretaria Extraordinária de Políticas para
os Povos Indígenas (SEPI), que iria proceder com o cadastramento dos domicílios
que permitirá a assinatura de um novo contrato.
Com o Luz
Para Todos, as localidades serão atendidas pelo Sistema Interligado Nacional
(SIN) devem ter acesso a um fornecimento de energia mais estável proveniente de
fontes energéticas mais limpas e eficazes.
O SIN é o
sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, com predominância
de usinas hidrelétricas. Ele é constituído por quatro subsistemas: Sul,
Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte na região Norte.
Revés
social
Esta
semana, o desembargador federal Kassio Nunes Marques, do Tribunal Regional
Federal da Primeira Região, decidiu com base em uma ação movida pelo cidadão
Lourival Nascimento da Costa, anular uma decisão judicial anterior que
determinava o fornecimento de energia elétrica para toda a comunidade em que
vive Lourival, transformando a ação individual em coletiva.
Segundo o
desembargador Kassio, é inconteste que o ordenamento jurídico atual não permite
a conversão de ações individuais em coletivas. Nesse caso, a decisão anterior
extrapolou, no entendimento do desembargador, os limites subjetivos e objetivos
da demanda.
Enquanto
os próprios membros do Judiciário não se entendem quanto ao assunto, o material
(posteamento, rolos de cabos, entre outros) comprado para executar o Luz Para
Todos no Amapá está se deteriorando. Esse descaso foi denunciado esta semana,
pelo técnico do Incra no Amapá, Américo Távora, que levou o assunto ao
conhecimento do Tribuna Amapaense. “São milhares de famílias que esperam por
uma condição de vida mais digna no Amapá, pois não têm energia elétrica. Até
quando vão viver à luz de lamparina? E esse material apodrecendo, o que falar
desse descaso?”, indagou.
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