Qual Amazônia que interessa pra eles?
A jornalista Eliza que afirma está a serviço da produtora Temjin com o objetivo de realizar um documentário contando histórias de pessoas que moram ao longo da linha do Equador, aquela que divide a terra em dois hemisférios. Lógico Macapá está no roteiro. Ela me ligou para que eu pudesse lhe ajudar a encontrar uma das figuras que ela alega ser o protótipo das pessoas de quem pretendem contar história. Barbudo Sarrafo. Um sujeito controverso, que foi garimpeiro, dono de boate e político. Barbudo, com cordas de ouro extravagante que uma pecha de ter feito um prostíbulo ambulante que singrava o rio Jary pra cima e pra baixo.
Ponderei lógico. Quando alguém quer falar do Amapá logo me interesso em saber de qual prisma. Esse me pareceu folclórico e sem sentido, pois o que Barbudo poderia contar sobre a vida nos trópicos equatoriais? Perguntei logo porque Barbudo? Porque queremos contar história de garimpo de quem viveu em garimpo? Sugeri Antônio da Justa Feijão. Geólogo, advogado com especialização em direito agrário e garimpeiro. Não! Não. Foi enfática. Então o presidente da Cooperativa dos Garimpeiros? Não! Queremos pessoas que moram em garimpo para contar sua vida ou coletadores de açaí que tenham vinte filhos e que todos atuem nesse ofício.
Então caiu a ficha. E mais um documentário vocacionado a mostrar o bicho do mato que é o amazônida. A visão preconceituosa de quem vive ferrado nas grimpas da Amazônia, longe da civilização. Olha que legal, o Barbudo Sarrafo contando a história do garimpo do Amapá e o amazônida preguiçoso, fazer de filho sem esperança, sem atendimento médico, sem educação, relegado a planos secundários. Figuras que o Estado não alcança.
Sei que a lógica da comunicação estabelece como ordem de importância a informação que sai do centro para a periferia. E essa norma, contestável e discutível, acaba virando regra para eles. Como já disse, há controvérsia nessa lógica, até porque não existe verdade absoluta, portanto, nos que moramos no Amapá entendemos que nossas coisas e ações são importantes para nós.
Falo isso porque percebi no tom da conversa que a globalização, a internet ferramenta que aproximou pessoas de todo o planeta não chegou ao Amapá. Tive que ser duro e falar-lhe que praticamente todo interior tem internet. Hoje é muito natural que os agricultores estejam no interior e seus filhos estejam fazendo faculdade nas capitais da Amazônia e até de fora da nossa região e do País. Quem tem hoje uma prole dessa monta? Conclui.
Da Amazônia o que interessa é o bioma e a vida bizarra de alguns amazônidas. O homem vira protagonista só se em situação fora do eixo, daquilo que podemos estabelecer como civilizado nos padrões culturais do eixo sul.
Natural que se o objetivo fosse mostrar que na terra cortada pela linha do equador uma região rica em minérios onde o compromisso ambiental está permeando todas as atividades dos setores de desenvolvimento, inclusive o minerário, não seriam esses os perfis a serem mostrados dos nossos cidadãos. Esse é um problema que nós esforçamos para mudar, mas infelizmente o que interessa da Amazônia é o bizarro, o esquisito.
No diálogo sugeri o Antônio da Justa Feijão como pauta, mesmo que seja para mostrar o setor garimpeiro amapaense pela ótica da responsabilidade que permeia essa atividade. A discriminação da legislação federal para com os garimpeiros e as dificuldades que o setor tem para superar a burocracia federal. Elisa diz que a produtora quer fazer um “human documentar”
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