1889 - 2017
O que fizemos da República?
De Deodoro a Temer, passando por Lula e a incógnita
chamada Bolsonaro.
Reinaldo Coelho
A República brasileira foi implantada no
dia 15 de novembro de 1889. Federalismo, sistema presidencialista, independência
dos poderes e separação entre igreja e Estado, foram características que
surgiram juntamente com esse novo sistema de governo.
Uma República que o povo não queria, existe
uma interpretação de que a população assistiu "bestalizada" à
proclamação da república. Essa é uma teoria do historiador José Murilo de
Carvalho. Ele diz que a república não era uma aspiração do povo brasileiro, que
viu acontecer aquilo sem uma adesão (...). A própria monarquia estava
fragilizada. Um dos pilares mais forte era a escravidão. Terminar a escravidão
era enfraquecer a monarquia e tanto o Imperador D. Pedro II e a Princesa Izabel
sabia disso, porém deu esse passo importante para imagem brasileira, o único
país escravocrata na época.
Assim, estava criada a Republica
Brasileira, com a denominação de Estados Unidos do Brasil. Perdurando por
quase 75 anos, os "Estados Unidos do Brasil" eram o sucessor do
monárquico "Império do Brasil", estabelecido pela Constituição de
1824 e que vigorou até 1889. Ao usar "Estados Unidos", a Constituição
de 1891 procurava explicitar a postura do novo regime republicano, que deu fim
ao Estado unitário que vigorava no Império.
Há 50 anos, o Brasil deixava de usar o nome oficial
"República dos Estados Unidos do Brasil", que perdurava oficialmente
desde 1891, época da primeira Constituição republicana do país. A mudança foi
estabelecida com a entrada em vigor da Constituição brasileira de 1967.
Elaborada pelo regime militar sob o comando do general Arthur da Costa e Silva,
ela entrou em vigor em 15 de março daquele ano e passou a ser denominado
Republica Federativa do Brasil.
Antes da independência, o Brasil foi
chamado Terra de Santa Cruz, Vice-Reino do Brasil e Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, e até mesmo Pindorama (pelos índios), entre outros nomes.
Uma
república não festejada
O dia da Proclamação da República (15 de
novembro) não é festejado como o acontece com o Dia da Independência (7 de
setembro). O que
parece é que o evento em si tem um peso menor do que a Independência, que tem
um charme. Isso se deve ao caráter elitista inicial da república que dificultou
o reconhecimento do povo em se identificar com aquilo, já que o primeiro
presidente eleito por voto direto só tomaria posse cinco anos depois da proclamação.
Prudente de Moraes foi o terceiro presidente da república, eleito por voto
popular em 1894. Muitos historiadores e pessoas do meio político vêem na
proclamação uma espécie de golpe
No Brasil atual, a falta de empatia com
o dia da proclamação da república se faz pelas constantes "quebras do
pacto democrático". Em toda república, de 1889 até 2016, os períodos
políticos no Brasil se intercalam entre ditadura e estado de sítio, com
rompimentos do pacto democrático por parte de uma suposta normalidade
constitucional. São vários momentos de rompimento. A república ainda é uma
instituição jovem que precisa mostrar que a força vem da população. E seus
mandatários e representante parlamentar, devem apreender isso, que eles são
servidores da Nação e seus “patrões” é o Povo.
De
Deodoro a Temer
No início da República, Deodoro da
Fonseca, após ter fechado o Congresso Nacional, permaneceu mais uma quinzena no
poder antes de ser obrigado a renunciar, após a rebelião da Marinha, entregando
o governo a Floriano Peixoto. Mais de meio século depois, Getúlio Vargas
resistiu 19 dias até a tragédia do dia 24 de agosto de 1954. A crise de
novembro de 1955 foi resolvida no próprio mês, mesmo tendo três presidentes em
um curto espaço de tempo. E finalmente a 31 de janeiro realizou-se a cerimônia
de posse de Juscelino Kubitschek e de João Goulart. Já em 1961, após a renúncia
de Jânio Quadros, em duas semanas, fundamentalmente, foi possível encontrar uma
solução para o impasse sucessório. Três anos depois — e, neste caso, com a
decisiva presença militar — em alguns dias foi construída uma nova situação
política, ganhamos a Ditadura Militar, linha dura.
Agora, mesmo tendo instituições um pouco
mais sólidas do que nos momentos históricos citados, nada indica que seja
possível encontrar, em curto prazo, um caminho que retire o país da mais
profunda crise da nossa história.
Com a redemocratização, foi construído
um estado democrático de direito que não conseguiu lançar os fundamentos de uma
República democrática. Pelo contrário, a institucionalidade acabou — graças à
sua complexidade e ausência de controle público — dando guarida segura àqueles
que conspiraram sistematicamente contra os valores republicanos.
Os republicanos passaram por diversos
momentos de desilusão política. A cada aparente ruptura, vinha — em seguida — a
desilusão. E isso desde o 15 de novembro de 1889, passando por 1930, 1945,
1964, 1985 e, especialmente para a conjuntura que vivemos, 1988 e a sua
“Constituição cidadã”. A cada dia fica
mais profundo o fosso que separa o cidadão comum da elite dirigente — elite
dirigente, entenda-se, dos Três Poderes da República.
O poder continua petrificado, de costas
para a sociedade. Não quer saber de mudança. Quer manter, na essência, tudo
como está. Basta recordar que estamos a cerca de um ano das eleições
presidenciais e nada indica que haverá uma profunda alteração do que vivemos no
processo eleitoral de 2014. Michel Temer deve logo abandonar o Palácio do
Planalto. Mas a crise sistêmica vai permanecer. Ela é muito mais profunda do
que a mera substituição do presidente.
O
povo quer mudança
A saída estará em 2018? Poderemos
começar amadurecer uma República Democrática? O povo está querendo experimentar
uma nova forma de ação de governo, e afastando do sistema políticos
“permanentes” por “novos” candidatos com novas idéias e propostas. Ocupando
este espaço estão surgindo os populistas, como o Lula (o velho, com novo discurso)
e Bolsonaro (o novo, com o velho discurso).
Lula x Bolsonaro vem se consolidando
como o vetor eleitoral do ano que vem, até mesmo em estados mais distantes da
vida de Brasília. Claro
que ainda há muita água para rolar, mas a crise política instalada no poder
central obriga os brasileiros a anteciparem esta decisão.
Falta ainda os políticos de outros
espectros ideológicos, mas de verve democrática, e até mesmo os agentes
econômicos, acordarem para o fato de que o tempo é cada vez menor para pensarem
neste cenário que vêm resistindo em aceitar.
O deputado Jair Bolsonaro quer ser
presidente do Brasil. O deputado Jair Bolsonaro tem chances reais de vir a ser
presidente do Brasil. No passado, essas duas frases pareciam distantes da
realidade. Hoje, elas são cada vez mais reais. Com suas ideias extremistas, o
presidenciável já alcançou 17% das intenções de voto na última pesquisa
Datafolha.
Enquanto isso, Lula lidera todas as
pesquisas, porém, pela primeira vez na história do Brasil um ex-presidente da
República foi condenado na Justiça. O juiz federal Sérgio Moro condenou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão,
pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pela decisão, Lula
também fica proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 19 anos. Destino de
Lula está nas mãos de trio de desembargadores que atua em Porto Alegre.
Mais
do que nunca, cabe dizer "acorda, Brasil".
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