"A partir de 1960 o meu
pai se transferiu para o Mercado Central e ai foi criado o Bar São Luiz de
Gonzaga que depois foi renomeado Bar Du Pedro, onde trabalhou por 34
anos".
Luiz
Gonzaga Sandim Nery - filho
Pedro
Nery da Cruz – empresário - (in memorium)
Reinaldo Coelho
Na cidade onde não faltam
quiosques na orla, o visitante encontra roteiros que conciliam praças, parques
e museus, tudo logo ali, bem pertinho dos locais que tem como cenário o
majestoso Rio Amazonas. Mas, se você olhar "sob os ombros", vai ver
majestosa letras escrito Bar Du Pedro, na fachada de um dos raros monumentos
arquitetônicos da Macapá antiga, o Mercado Central.
De acordo com Alcilene
Cavalcante o Bar du Pedro, no Mercado Central, é, talvez, o mais antigo bar de
Macapá. Suas paredes e prateleiras contam parte da história da cidade. Entre
garrafas de bebidas, a história é contada através de fotos de prédios,
solenidades, esporte e de autoridades e gente simples que frequentava o bar. Há
também recortes de jornais emoldurados e objetos antigos.
Uma pessoa que reinou atrás
do balcão do famoso bar foi Pedro Nery da Cruz, seu proprietário, que vivo
estivesse, teria completado no dia 15 de janeiro, 99 anos de idade.
Essa semana o editoria do
Pioneirismo do Tribuna Amapaense homenageia este homem que na sua humildade e
sabedoria adquirida pela convivência
com os clientes e que ensinou aos 11 filhos que a educação e a
democracia são importante para o cidadão brasileiro. O penúltimo da grande
prole do Pedro Luiz Gonzaga Sandim Nery, é quem forneceu as informações
contidas nesse texto.
O cidadão Pedro Nery que
emprestou seu nome ao um empreendimento que se tornou referência histórica na
capital amapaense o Bar Du Pedro e que está registrado em todas as fotos
espalhadas pelo mundo, do tradicional Mercado Central, nasceu em Macapá em
1915, quando ainda faziamos parte do
Pará.
Teve uma infância passada na
Macapá antiga correndo pela "praia" do Rio Amazonas, quando veio perder
os pais e como o mais velho de quatro irmãos, aos 12 anos, se dirigiu a Belém e
lá se espalharam em casas de amigos. "Meu pai foi trabalhar em um
restaurante de um casal português que o "adotou" e ali ficou até aos
22 anos de idade. Logo em seguida se tornou taifeiro de um barco a vela, o Luiz
Gonzaga, que fazia viaje entre Belém/Afuá/Macapá com carteira assinada".
Pedro Nery aos 25 anos
conheceu Maria Dalva Sandim Nery, que
tinha 17 anos, e se casaram e nasceram os 11 filhos.
Retorno a Macapá
Em 1947, o Amapá já
desmembrado do Estado do Pará e transformado em Território Federal pelo
presidente Getulio Vargas, que nomeou o então Capitão Janary Nunes para
governar esse novo torrão pátrio, Pedro retornou a sua terra natal. "Meu
pai aos 47 anos de idade retornou, pois estava acontecendo uma revolução na
estrutura da cidade que se tinha tornado um canteiro de obras. Se uniu ao seu
primo Clóvis Dias e montaram uma loja de material de construção, no bairro do
Trem, na Avenida Cônego Domingo Maltês
esquina com a Rua Odilardo Silva pois estava em construção a Escola Doméstica
de Macapá, a Vila Operaria e a Escola Alexandre Vaz Tavares e tinha grande
movimento financeiro no bairro".
Fez-se necessário a expansão
do comercio dos sócios e filiais foram criadas. Pedro Nery assumiu a loja
localizada na Doca da Fortaleza, pois ali aportavam as embarcações vindas do
Pará e entorno. "A partir de 1960 o meu pai se transferiu para o Mercado
Central e ali foi criado o Bar São Luiz de Gonzaga e depois renomeado Bar Du Pedro,
onde trabalhou por 34 anos".
Luiz Gonzaga destaca que seu
pai tinha uma personalidade forte e era muito carismático. "Ele
conquistava os seus clientes e mesmo durante os fortes efeitos etílicos fazia
se respeitarem mutuamente. Ele dava segurança a quem ali freqüentava. Isso
atraia todos os boêmios da Macapá antiga, pois se tornou um point. Além disso,
a Guarda Territorial funcionava na Fortaleza de São José e todos os
funcionários do governo freqüentavam o bar. Os embarcadiços que aportavam na
Doca da Fortaleza, Baixada da Maria Mucura, Remanço. Ali todos chegavam tanto
para as "farras", quando para bater um papo e discutir política,
namorar. A música era através do radio. Os encontros maiores se davam no dias
de jogos do clássico paraense Remo e Paissandu".
Questionado a dar uma
opinião sobre o seu pai, Luiz Gonzaga se emociona e narra as posições firmes e
o caráter desse homem. "Lembro de um detalhe ele fixou uma placa "NÃO
FUME E NÃO BEBA.ESTUDE E TRABALHE", isso dentro de um bar. Tinha uma outra:
"VOCÊ NÃO PODE GASTAR MAIS DO QUE GANHA E NEM O GOVERNO" . Essa
período da ditadura militar meu pai era determinadamente democrático e lutava
para isso, ele tinha uma empatia muito grande com os jovens e seu principio
maximo era a educação. Ele foi determinante em estabelecer para os 11 filhos e
13 netos a importância da educação, tanto que minhas seis irmãos se tornaram
professoras".
Para o Luiz Gonzaga como
filho ver essa trajetória de um bar se tornar tradição no Estado, pois vai
completar 54 anos de criação é um orgulho. "Meu sempre amou e lutou pelo
Amapá, uma das suas bandeiras foi a transformação do Amapá em Estado, ele era
um ferrenho defensor dessa transformação e quando aconteceu ele ficou muito
feliz, porém ele esperava muito mais. O principal foco dele sempre foi a
educação. Meu pai se alfabetizou muito tarde e ele era autodidata".
Os clientes do bar Du Pedro
eram diversificados e não deveriam faltar os políticos. "Politicamente meu
pai acompanhava a ânsia da juventude. Na década de 70 ele optou pela
candidatura do professor Antonio Pontes, correndo um risco empresarial. Ele
percebeu que aquele momento era de mudança. Ele lutou muito contra a
ditadura".
As amizades de Pedro Nery
sempre traziam conteúdos intelectuais e ele tinha ânsia pelo saber e um dos
amigos próximos foi o Jornalista e Historiador Hélio Penafort "Meu pai era
muito amigo do Helio Penafort, sempre que ele vinha tomar sua dose de conhaque
ficava horas batendo papo com meu pai, era uma troca de informações, era uma
aprendizagem".
O Bar Du Pedro hoje
Luiz Gonzaga conta que a
transformação do Mercado Central em um centro cultural da forma como vem sendo
conduzida não manterá a tradição. "No tempo do meu pai, na década de 80 e
90, já vinha acontecendo a crise do
Mercado Central, pela expansão urbana e a descentralização das vendas de carne
e hortaliças, principalmente pelas novas regras de higienização. O que deveria
ter sido feita, o que aconteceu em outras capitais, como em Belém no Mercado
Bolonha , continua funcionando os talhos e vendas, porém adequados colocando
frigoríficos e sistema hidráulico e de esgoto. Mais os tradicionais vendedores
continuando o seu trabalho. Aqui não, tiraram tudo, transformaram em uma Praça
de alimentação. Ainda existem de antigo, o Bar Du Pedro, a Ervaria Amazônia, o
Bazar Brasil, Bazar São Luiz, da recém-falecida Dona Nazaré e alguns quiosques
que mantém o estilo original"
Para o Luiz Gonzaga Nery
esse patrimônio macapaense que é o Bar Du Pedro se mantenha por mais cinqüenta
anos. "Espero agora que um neto, sobrinho, primo alguém da família dei
prosseguimento a este empreendimento que de comercial se tornou histórico e um
patrimônio dos amapaenses. E que lutem para que o que resta de histórico na
cidade não seja destruído ou descaracterizado pelo afã do progresso".

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