sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

PIONEIRISMO



Antônio Munhoz Lopes, cidadão amapaense e do mundo.

Reinaldo Coelho

Essa editoria especial do Tribuna Amapaense, existe a 588 semanas, e homenageou igual números de cidadãos brasileiros, nascidos ou adotados por este rincão tucuju. Foram centenas de amapaenses, que contribuíram para escrever a história do Amapá. Todos contribuíram para enriquecer e solidificar os segmentos que compõem uma sociedade. Do pedreiro ao governador, aqui foi relatado suas histórias. Este ano tivemos 52 homenagens aos pioneiros ainda vivos e outros in memoriam.
Este ano de 2017 perdemos muitos pioneiros e para prestarmos uma homenagem a todos os pioneiros do Amapá e aos que estão começando a colocar sua marca na História do Amapá, e como não podemos elencar todos publicarmos a história de Antônio Munhoz Lopes, cidadão do mundo, mestre das letras, educador de gerações, conselheiro cultural, pesquisador incansável, consultor e consultado. Antônio Munhoz Lopes era nossa biblioteca mundial da diversidade. Tinha uma grandiosa e irrequieta capacidade em acumular informações de culturas diversas. Era portador de um patrimônio intelectual que hoje poucos se interessam, porque não dá dinheiro: muitas, muitas leituras acumuladas e uma diversidade invejável de visões culturais de mundo. E foi mestre de muitas gerações de amapaenses. Viveu 85 anos no Amapá e abraçou o mundo em suas viagens.

NATHÁLIA UCHÔA DOS SANTOS (*) enviou esta mensagem para ser lida na MISSA DE 7º DIA DE FALECIMENTO DO PROFESSOR MUNHOZ, em 28/05/2017, na CATEDRAL DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ.

Há sete dias o ilustre Prof. Antônio Munhoz Lopes fez a sua páscoa. Nesta Santa Missa estamos reunidos para celebramos o seu histórico, rezarmos por sua alma e agradecemos a Deus porque viveu entre nós um homem tão importante, que marcou a história do Amapá e influenciou a vida de muitos filhos deste rincão brasileiro.
Frequentava assiduamente esta catedral e sentava no mesmo lugar, para onde hoje olhamos e sentimos que falta aquela presença cativante, viva na memória. Levando um guarda-chuva e um livro nas mãos, tinha o prazer de caminhar pelo centro da cidade, nos arredores do Largo dos Inocentes, da Biblioteca Pública, do Teatro das Bacabeiras, dos Correios, do Colégio Amapaense, da Praça da Bandeira... com passos ritmados, espalhando um sorriso terno e a certeza de quem sabia para onde ir e o que fazer, aproveitando a vida.
O Prof. Munhoz tinha um jeito constante e peculiar para tudo. Era uma referência. Inconfundível sua fala em tom compassado, poético e pedagógico. Seu modo de se vestir, andar, sentar com as pernas cruzadas, transparecendo a elegância do intelectual que foi, e a docilidade de quem parecia ser um familiar daqueles que o cercavam.
Deixou órfã e enlutada uma enorme família de amigos, que construiu e solidificou, em mais de meio século de dedicação ao povo amapaense. Cidadão do mundo, viajante inveterado, o Prof. Munhoz percorreu diversos países, mas era para Macapá que ele voltava feliz, para compartilhar com generosidade tudo o que viu e experienciou. Conheceu os lugares mais desenvolvidos do mundo e sabia da conjuntura de Macapá, mas amou esta cidade e ensinou a valorizá-la, tanto que era fiel às atividades na Confraria Tucuju, onde deixou significativas contribuições. Ele acreditava em dias melhores e colaborava com o progresso mediante a educação do povo. Uma vida de lições cívicas.
Sua história é a rica herança com que nos presenteou. Mestre das letras, educador de gerações, escritor, radialista, conselheiro cultural, pesquisador incansável, difusor de saberes. Foi uma pessoa instruída bem acima da média, que consumia leitura assim como a necessidade vital de se alimentar. Apesar do poderio que o arsenal de conhecimento lhe investiu, mantinha a humildade, não se colocava em posição superior e sabia ouvir atentamente o que tinham a lhe falar. Perto dele todos se sentiam acolhidos e especiais, pois ele dava essa abertura para que ficássemos à vontade.
Era uma satisfação enorme trocar ideias com um mestre tão experiente e contemporâneo. Até os 85 anos teve um comportamento juvenil: não se acomodava, participava do fluxo de novidades tecnológicas e conseguia interagir plenamente com as atualidades do Século XXI. Ele se esforçava para manusear aparelhos modernos e utilizar os recursos das redes sociais. Fazia questão de prestigiar eventos culturais, lançamentos de livros, festividades religiosas, bailes de carnaval, rodas de bate-papo.
Amante das artes, tinha uma sensibilidade estética incrível para enxergar o belo nas pessoas, nos lugares, nos acontecimentos. Sua capacidade narrativa despertou sensações e vontades positivas em muitos alunos, que reconhecem o diferencial que o nobre Prof. Munhoz significou em suas escolhas e trajetórias. Não foram poucos os que decidiram seguir o exemplo do mestre e se tornaram professores, eternos aprendizes.
O Prof. Munhoz usou sua grandeza para se fazer instrumento de paz e, franciscamente, exemplificou que é dando que se recebe. Amou viver, procurou viver em abundância, amou os irmãos, doou sua vida pelo bem coletivo, na missão de educador. Um cristão que soube compartilhar o que tinha de mais valioso.
Quantas pessoas morrem desamparadas? São esquecidas ainda em vida? Sequer recebem a cortesia de uma dedicatória ou agradecimentos? O Prof. Munhoz nunca esteve sozinho. Soube cativar e aquecer corações que o seguiam. Até seus últimos momentos foi acompanhado por amigos fiéis.
O fato é que nenhuma homenagem póstuma superará as honrarias que em vida foram outorgadas ao Prof. Munhoz. Em sua passagem terrena, foi aplaudido de pé em incontáveis oportunidades; recebeu títulos, medalhas, comendas; a ele foram dedicados almoços, jantares, festas, passeios, viagens, aulas de saudade; ouviu o “muito obrigado” de centenas de admiradores.
Pensador, crítico, discreto, gentil, comunicador, leve, animado! Os melhores adjetivos ao Prof. Munhoz! Vamos dedicar essa bela canção ao mestre, com carinho. A ele, que nos ensinou a repartir tesouros, a respeitar os outros. Foi muito legal lhe ter aqui conosco, Prof. Munhoz: um amigo em quem pudemos acreditar. Queríamos lhe abraçar! Agradecermos por tudo e sentimos saudade. Fica o dever moral de seguirmos as suas lições, amado maestro orquestral de uma sinfonia feliz!

(*) Nathália Uchôa dos Santos é filha de Bernadeth e Tadeu Pelaes. Professora de Direito. Mestra em Direito Ambiental e Políticas Públicas. Analista Judiciária.

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