Antônio Munhoz Lopes, cidadão amapaense e do mundo.
Reinaldo Coelho
Essa editoria especial do Tribuna Amapaense,
existe a 588 semanas, e homenageou igual números de cidadãos brasileiros,
nascidos ou adotados por este rincão tucuju. Foram centenas de amapaenses, que
contribuíram para escrever a história do Amapá. Todos contribuíram para
enriquecer e solidificar os segmentos que compõem uma sociedade. Do pedreiro ao
governador, aqui foi relatado suas histórias. Este ano tivemos 52 homenagens
aos pioneiros ainda vivos e outros in memoriam.
Este ano de 2017 perdemos muitos pioneiros e
para prestarmos uma homenagem a todos os pioneiros do Amapá e aos que estão começando
a colocar sua marca na História do Amapá, e como não podemos elencar todos
publicarmos a história de Antônio Munhoz Lopes, cidadão do mundo, mestre das
letras, educador de gerações, conselheiro cultural, pesquisador incansável,
consultor e consultado. Antônio Munhoz Lopes era nossa biblioteca mundial da
diversidade. Tinha uma grandiosa e irrequieta capacidade em acumular
informações de culturas diversas. Era portador de um patrimônio intelectual que
hoje poucos se interessam, porque não dá dinheiro: muitas, muitas leituras
acumuladas e uma diversidade invejável de visões culturais de mundo. E foi
mestre de muitas gerações de amapaenses. Viveu 85 anos no Amapá e abraçou o
mundo em suas viagens.
NATHÁLIA UCHÔA DOS SANTOS (*) enviou esta
mensagem para ser lida na MISSA DE 7º DIA DE FALECIMENTO DO PROFESSOR MUNHOZ,
em 28/05/2017, na CATEDRAL DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ.
Há sete dias o ilustre Prof. Antônio Munhoz
Lopes fez a sua páscoa. Nesta Santa Missa estamos reunidos para celebramos o
seu histórico, rezarmos por sua alma e agradecemos a Deus porque viveu entre
nós um homem tão importante, que marcou a história do Amapá e influenciou a
vida de muitos filhos deste rincão brasileiro.
Frequentava assiduamente esta catedral e
sentava no mesmo lugar, para onde hoje olhamos e sentimos que falta aquela
presença cativante, viva na memória. Levando um guarda-chuva e um livro nas
mãos, tinha o prazer de caminhar pelo centro da cidade, nos arredores do Largo
dos Inocentes, da Biblioteca Pública, do Teatro das Bacabeiras, dos Correios,
do Colégio Amapaense, da Praça da Bandeira... com passos ritmados, espalhando
um sorriso terno e a certeza de quem sabia para onde ir e o que fazer,
aproveitando a vida.
O Prof. Munhoz tinha um jeito constante e
peculiar para tudo. Era uma referência. Inconfundível sua fala em tom
compassado, poético e pedagógico. Seu modo de se vestir, andar, sentar com as
pernas cruzadas, transparecendo a elegância do intelectual que foi, e a
docilidade de quem parecia ser um familiar daqueles que o cercavam.
Deixou órfã e enlutada uma enorme família de
amigos, que construiu e solidificou, em mais de meio século de dedicação ao
povo amapaense. Cidadão do mundo, viajante inveterado, o Prof. Munhoz percorreu
diversos países, mas era para Macapá que ele voltava feliz, para compartilhar
com generosidade tudo o que viu e experienciou. Conheceu os lugares mais
desenvolvidos do mundo e sabia da conjuntura de Macapá, mas amou esta cidade e
ensinou a valorizá-la, tanto que era fiel às atividades na Confraria Tucuju,
onde deixou significativas contribuições. Ele acreditava em dias melhores e colaborava
com o progresso mediante a educação do povo. Uma vida de lições cívicas.
Sua história é a rica herança com que nos
presenteou. Mestre das letras, educador de gerações, escritor, radialista,
conselheiro cultural, pesquisador incansável, difusor de saberes. Foi uma
pessoa instruída bem acima da média, que consumia leitura assim como a
necessidade vital de se alimentar. Apesar do poderio que o arsenal de
conhecimento lhe investiu, mantinha a humildade, não se colocava em posição
superior e sabia ouvir atentamente o que tinham a lhe falar. Perto dele todos
se sentiam acolhidos e especiais, pois ele dava essa abertura para que
ficássemos à vontade.
Era uma satisfação enorme trocar ideias com
um mestre tão experiente e contemporâneo. Até os 85 anos teve um comportamento
juvenil: não se acomodava, participava do fluxo de novidades tecnológicas e
conseguia interagir plenamente com as atualidades do Século XXI. Ele se
esforçava para manusear aparelhos modernos e utilizar os recursos das redes
sociais. Fazia questão de prestigiar eventos culturais, lançamentos de livros,
festividades religiosas, bailes de carnaval, rodas de bate-papo.
Amante das artes, tinha uma sensibilidade
estética incrível para enxergar o belo nas pessoas, nos lugares, nos
acontecimentos. Sua capacidade narrativa despertou sensações e vontades
positivas em muitos alunos, que reconhecem o diferencial que o nobre Prof.
Munhoz significou em suas escolhas e trajetórias. Não foram poucos os que
decidiram seguir o exemplo do mestre e se tornaram professores, eternos
aprendizes.
O Prof. Munhoz usou sua grandeza para se
fazer instrumento de paz e, franciscamente, exemplificou que é dando que se
recebe. Amou viver, procurou viver em abundância, amou os irmãos, doou sua vida
pelo bem coletivo, na missão de educador. Um cristão que soube compartilhar o
que tinha de mais valioso.
Quantas pessoas morrem desamparadas? São
esquecidas ainda em vida? Sequer recebem a cortesia de uma dedicatória ou
agradecimentos? O Prof. Munhoz nunca esteve sozinho. Soube cativar e aquecer
corações que o seguiam. Até seus últimos momentos foi acompanhado por amigos
fiéis.
O fato é que nenhuma homenagem póstuma
superará as honrarias que em vida foram outorgadas ao Prof. Munhoz. Em sua
passagem terrena, foi aplaudido de pé em incontáveis oportunidades; recebeu
títulos, medalhas, comendas; a ele foram dedicados almoços, jantares, festas,
passeios, viagens, aulas de saudade; ouviu o “muito obrigado” de centenas de
admiradores.
Pensador, crítico, discreto, gentil,
comunicador, leve, animado! Os melhores adjetivos ao Prof. Munhoz! Vamos
dedicar essa bela canção ao mestre, com carinho. A ele, que nos ensinou a
repartir tesouros, a respeitar os outros. Foi muito legal lhe ter aqui conosco,
Prof. Munhoz: um amigo em quem pudemos acreditar. Queríamos lhe abraçar!
Agradecermos por tudo e sentimos saudade. Fica o dever moral de seguirmos as
suas lições, amado maestro orquestral de uma sinfonia feliz!
(*) Nathália
Uchôa dos Santos é filha de Bernadeth e Tadeu Pelaes. Professora de Direito. Mestra
em Direito Ambiental e Políticas Públicas. Analista Judiciária.

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