Estatísticas de Gênero
Indicadores
sociais das mulheres no Brasil


O Dia
Internacional da Mulher (8 de março) traz a oportunidade de aprofundar as
reflexões sobre o papel atual e esperado das mulheres na sociedade, as
desigualdades persistentes entre homens e mulheres em suas distintas dimensões
de análise, o exercício de direitos e equalização de oportunidades,
independentemente do sexo. Enquanto responsável pelas estatísticas oficiais
brasileiras, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, com a
divulgação do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres
no Brasil, reforça a importância da produção de indicadores de gênero com um
duplo objetivo: enriquecer o debate, proporcionando informações destacadas
sobre o tema, e corroborar a importância de se manter uma agenda pública
permanente, que coloque a igualdade de gênero como um dos eixos estruturantes
da formulação de políticas públicas no País.
As
estatísticas de gênero devem refletir, segundo informações do Manual de Gênero
da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (United Nations Statistics
Division - UNSD), as questões relacionadas aos aspectos da vida de mulheres e
homens, incluindo as suas necessidades específicas, oportunidades ou
contribuições para a sociedade. Em todas as sociedades existem diferenças entre
o que é esperado, permitido e valorizado em uma mulher e o que é esperado,
permitido e valorizado em um homem. Estas diferenças têm um impacto específico
sobre mulheres e homens em todas as fases da vida, e podem determinar, por
exemplo, diferenças na saúde, educação, trabalho, vida familiar e no bem-estar
geral de cada um. Produção de estatísticas de gênero implica, portanto, na
desagregação de dados individuais por sexo e outras características, de forma a
revelar essas diferenças e desigualdades, e na investigação de questões
específicas que afetam um sexo mais do que o outro. No caso brasileiro, essas
“outras características” assumem papel relevante à medida em que as séries
históricas de indicadores sociais, disponibilizadas pelo IBGE, mostram que a
cor ou raça, ser portador de deficiência, morar em áreas urbanas ou rurais,
entre outros, podem ter impactos significativos nas estatísticas, reforçando
desigualdades. O debate é, portanto, estrutural. É entender, a partir dos dados
apresentados, as condições sociais que permitirão, ou não, que determinados
grupos exerçam seus direitos de forma igualitária, a despeito de sua origem,
pontos de partida, contextos sociais e/ou características individuais.
Na
maioria das sociedades, há diferenças e desigualdades entre mulheres e homens
nas funções e responsabilidades atribuídas, atividades desenvolvidas, acesso e
controle sobre os recursos, bem como oportunidades de tomada de decisão. Estas
diferenças e as desigualdades entre os sexos são moldadas ao longo da história
das relações sociais, mudando ao longo do tempo e em diferentes culturas. É
importante sublinhar a diferença entre estatísticas desagregadas por sexo e
estatísticas de gênero. A palavra “sexo” refere-se aqui às diferenças
biológicas entre homens e mulheres. “Gênero”, por sua vez, refere-se às diferenças
socialmente construídas em atributos e oportunidades associadas com o sexo
feminino ou masculino e as interações e relações sociais entre homens e
mulheres. As questões concernentes à orientação sexual e novas identidades de
gênero para além de “mulher/feminino” e “homem/masculino” não estão no escopo
deste trabalho, não obstante a crescente relevância do tema e a necessidade de
participação nas discussões técnicas e conceituais em torno do desenvolvimento
de instrumentos de coleta e análise de dados, as quais o IBGE vem acompanhando
em nível nacional e internacional, de forma a retratar e conferir visibilidade
ao amplo espectro da diversidade de gênero em suas, ainda não consensuais,
categorias de identidade. Os parâmetros utilizados para a construção dos
indicadores nacionais estão baseados no Conjunto Mínimo de Indicadores de
Gênero - CMIG (Minimum Set of Gender Indicators - MSGI), organizado pela
Comissão de Estatística das Nações Unidas (United Nations Statistical
Commission) em 2013, para ser usado por países e regiões na produção nacional e
harmonização internacional de estatísticas de gênero. Os indicadores foram
organizados em cinco domínios:
1.
Estruturas econômicas, participação em atividades
produtivas e acesso a recursos;
2.
Educação;
3. Saúde
e serviços relacionados;
4. Vida
pública e tomada de decisão; e
5.
Direitos humanos das mulheres e meninas.
A partir
dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD
Contínua, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, da Projeção da
População por Sexo e Idade, das Estatísticas do Registro Civil, da Pesquisa
Nacional de Saúde- PNS e da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais -
Estadic, no âmbito do IBGE; e também de fontes externas oriundas do Ministério
da Saúde, da Presidência da República, do Congresso Nacional, do Tribunal
Superior Eleitoral - TSE, e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira - INEP, foi possível realizar a construção de 38
indicadores do CMIG, em consonância com a metodologia apresentada nos metadados
disponibilizados pela UNSD, sendo parte deles destacados neste estudo,
organizados de forma a ressaltar cada um dos cinco domínios.
Em
virtude de que o conjunto de Indicadores trazem poucas informações em nível
estadual, este informativo trará apenas os destaques do Amapá.
Em 2017,
as mulheres amapaenses recebiam R$ 1935 por mês. Um valor R$ 53 a menos que os
homens (2,7%). Apesar disso, ainda era a menor diferença salarial entre homens
e mulheres por Unidade da Federação.
O Amapá
tinha 847 mulheres docentes de ensino superior em 2016, de acordo com o
Ministério da Educação. Em percentuais, esse número correspondia 45,9% do total
de docentes nesse nível de ensino.
O estado
com a maior proporção de mulheres docentes de ensino superior era o Piauí com
51,4% e a menor proporção era em São Paulo (41,6%). O Amapá fica na 20ª
colocação nesse ranking, a última colocação entre os estados da Região Norte. O
Pará é o melhor colocado em nossa Região. Ficando em 11º, com 47,8%.
Em
relação à representação política, as mulheres amapaenses ocupam 3 das 8
cadeiras na Câmara dos Deputados. Proporcionalmente, eram 37,5% dos nossos
parlamentares da Câmara baixa.
No Senado
Federal, o Amapá não tem nenhuma mulher ocupando um dos três assentos. Apenas
13 estados têm representação na Câmara alta. E cada um desses tem apenas uma
representante.
No
cenário internacional, o Brasil ocupava, em dezembro de 2017, a 152ª posição
entre os 190 países que informaram à Inter-Parliamentary Union - IPU o
percentual de cadeiras em suas câmaras baixas ou parlamento unicameral ocupadas
por mulheres em exercício, com 10,5%. Foi o pior resultado entre os países
sulamericanos. No mundo, as mulheres ocupavam 23,6% dos assentos nas câmaras
baixas ou parlamentos unicamerais.
O Amapá é
o estado com a maior proporção de policiais mulheres (militares e civis):
23,4%. Eram 1.125 mulheres nos efetivos ativos das duas polícias.
Nas
fileiras da polícia militar eram 754 policiais mulheres e na polícia civil eram
371.
O Estado
do Rio Grande do Norte tinha apenas 5,1% de policiais femininas. Na média
nacional, eram 13,4%.
Em 2016,
a cada mil mulheres amapaenses de 15 a 19 anos, praticamente 87 tiveram filhos.
No ano de 2011, essa taxa era de 106‰ (lê-se 106 por mil).
O Amapá
apresenta a quinta maior taxa de fecundidade de mulheres de 15 a 19 anos. As
quatro primeiras posições desse ranking são ocupadas por estados da Região
Norte. Sendo que o Acre apresentou a taxa mais alta: 98‰. A média nacional
ficou em 56‰. Em 2011 era de 64,5‰.
Homens e
mulheres não são grupos homogêneos e, para melhor entender suas dinâmicas, a
interação com outras dimensões, grupos e categorias é de suma importância.
Idade, escolaridade, raça/etnia, religião, deficiência, orientação sexual,
migração e status de cidadania, assim como viver em áreas urbanas e rurais, são
interseções que influenciam a análise de gênero e devem ser consideradas sempre
que os dados e as informações disponíveis permitirem tais desagregações.
O esforço
ora empreendido neste estudo foi evidenciar a persistência da desigualdade de
gênero entre homens e mulheres no Brasil, a partir de um sistema de indicadores
internacional que visa o monitoramento de agendas de desenvolvimento e
comparabilidade entre países. Ao mesmo tempo, considerando a ressalva da Agenda
2030 de “não deixar ninguém para trás”, para além dos indicadores propostos,
foram realizadas desagregações possíveis nas bases de dados existentes de forma
a refletir a realidade brasileira na qual as desigualdades se estruturam em
torno de desvantagens historicamente acumuladas.
De uma
forma geral, o caminho a ser percorrido em direção à igualdade de gênero, ou
seja, em um cenário onde homens e mulheres gozem dos mesmos direitos e
oportunidades em todas as dimensões aqui analisadas, ainda é longo para as
mulheres e ainda mais tortuoso se esta for preta ou parda e residir fora dos
centros urbanos das Regiões Sul e Sudeste.
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