Análise da PNAD 2017 confirma que consumo do GLP nos lares brasileiros está estável
Dados revelam que aumento do uso da lenha e do carvão indica que esses combustíveis são usados de forma auxiliar e não em substituição ao GLP
A análise dos dados abertos da PNAD 2017 revela que a resposta positiva de 12,3 milhões de domicílios à pergunta "Este domicílio utiliza lenha ou carvão na preparação de alimentos?" significa que 17,6% dos domicílios utilizam a lenha e o carvão de forma auxiliar. Essa parcela não substituiu o botijão de gás pela lenha ou carvão na preparação de alimentos em virtude do aumento do preço desse combustível nos últimos anos, conforme amplamente noticiado. O total de domicílios que utilizam gás de botijão ou encanado permaneceu em 98,4% dos lares.
A tabela 2 mostra que não houve queda significativa no consumo de GLP entre 2016 e 2017. Nota-se ainda que o GLP apresenta um alto grau de inelasticidade (elasticidade muito próxima de 0), o que condiz com a essencialidade do bem e a ausência de bens substitutos. Apesar do expressivo aumento de 11% do uso de carvão ou lenha nos lares brasileiros, nenhuma região apresentou decréscimo superior a 1% no consumo de gás de botijão ou encanado.
Tabela 1 – Domicílios que utilizam lenha ou carvão na cocção de alimentos (Fontes: IBGE, ANP)
Este domicilio utiliza lenha ou carvão na preparação de alimentos? (em domicílios)
| ||||||
Combustível | PNAD 2016 | % PNAD 2016 | PNAD 2017 | % PNAD 2017 | ||
Lenha ou carvão (sim) | 11.110.456,59 |
16,05%
| 12.300.922,88 |
17,63%
| ||
Lenha ou carvão (não) | 58.106.786,16 |
83,95%
| 57.472.462,63 |
82,37%
| ||
Tabela 2 – Variação no preço do GLP x Variação no consumo
UF
|
Variação do preço em 2017 - GLP 13 kgs 2017 (ANP)
| Variação entre 2016-2017 do consumo de GLP (ANP) | Elasticidade preço demanda (Δ % p / Δ % q) | Crescimento de domícliios com gás encanado ou botijão (PNAD) |
Piauí |
18%
|
2,26%
|
8,14
|
-0,7
|
Paraíba |
25%
|
1,99%
|
-0,08
|
-0,6
|
Pará |
16%
|
0,67%
|
-0,04
|
0,2
|
Maranhão |
28%
|
2,22%
|
-0,08
|
0,2
|
Bahia |
17%
|
1,99%
|
-0,12
|
-0,4
|
Acre |
26%
|
-2,12%
|
0,08
|
0,3
|
Tocantins |
21%
|
0,81%
|
-0,04
|
-0,9
|
Minas Gerais |
19%
|
3,16%
|
-0,17
|
0,5
|
Ceará |
15%
|
3,94%
|
-0,26
|
-0,2
|
Sergipe |
35%
|
2,23%
|
-0,06
|
-0,5
|
Amapá |
5%
|
2,39%
|
-0,44
|
-0,2
|
Pernambuco |
25%
|
-1,07%
|
0,04
|
-0,4
|
Rio Grande do Sul |
18%
|
-3,87%
|
0,22
|
0,5
|
Paraná |
12%
|
-0,06%
|
0,01
|
-0,3
|
Amazonas |
30%
|
2,56%
|
-0,08
|
-0,5
|
Rondônia |
24%
|
0,41%
|
-0,02
|
0,5
|
Mato Grosso |
24%
|
1,96%
|
-0,08
|
-0,2
|
Alagoas |
23%
|
1,30%
|
-0,06
|
0,7
|
Rio Grande do Norte |
14%
|
0,38%
|
-0,03
|
0,1
|
Santa Catarina |
22%
|
1,15%
|
-0,05
|
0,1
|
Espírito Santo |
14%
|
-2,66%
|
0,18
|
-0,2
|
Mato Grosso do Sul |
16%
|
2,16%
|
-0,13
|
-0,4
|
Goiás |
21%
|
3,95%
|
-0,19
|
-0,9
|
Roraima |
26%
|
-0,62%
|
0,02
|
-0,2
|
São Paulo |
23%
|
-0,47%
|
0,02
|
0,1
|
Rio de Janeiro |
17%
|
-0,09%
|
0,01
|
-1,9
|
Distrito Federal |
14%
|
1,55%
|
-0,11
|
-0,2
|
Na tabela abaixo, observa-se que oito Estados representaram 73,16% do crescimento de domicílios que utilizam lenha ou carvão, o que sugere que esse evento possa estar fortemente correlacionado às tradições e culturas locais.
Tabela 3 – Participação dos principais Estados consumidores de lenha e carvão
UF
| % domicílios em2016 | % domicílios em 2017 | % crescimento nacional em 2017 |
Pará
|
45,00%
|
51,80%
|
14,95%
|
Minas Gerais
|
17,50%
|
19,60%
|
14,03%
|
Bahia
|
20,70%
|
23,70%
|
13,57%
|
Paraná
|
14,70%
|
17,10%
|
8,06%
|
Piauí
|
32,60%
|
39,20%
|
5,87%
|
Maranhão
|
44,90%
|
47,80%
|
5,71%
|
Rio Grande do Sul
|
33,70%
|
35,00%
|
5,60%
|
Mato Grosso
|
13,50%
|
19,00%
|
5,37%
|
Em Belém, capital com a maior presença da lenha no Brasil, o crescimento foi distribuído pelas faixas de renda, porém, o peso naturalmente recaiu sobre a faixa de menor renda pela quantidade de domicílios incluídos nesse intervalo. Chama a atenção que a maior taxa de crescimento ocorreu na faixa mais rica do município. A ANP não divulga os dados de consumo de gás por faixas de renda, o que impossibilita uma análise estratificada. O fato é que o consumo de GLP no Estado do Pará aumentou em 2,26%.
Tabelas 5 e 6 – Participação da lenha ou carvão em Belém e Curitiba
Variação no total de domicílios que utilizam lenha ou carvão no Pará por faixa de rendimento domiciliar per capita | ||||
Faixa de rendimento | Domicílios que utilizam lenha ou carvão (2016) | Domicílios que utilizam lenha ou carvão (2017) | Crescimento absoluto 2017 | Taxa de crescimento por faixa de renda |
Até 1 salário mínimo |
83.173
|
121.220
|
38.047
|
46%
|
Mais de 1 até 2 salários mínimos |
29.027
|
33.482
|
4.455
|
15%
|
Mais de 2 até 3 salários mínimos |
7.673
|
11.494
|
3.821
|
50%
|
Mais de 3 até 5 salários mínimos |
5.460
|
7.271
|
1.811
|
33%
|
Mais de 5 salários mínimos |
3.888
|
6.766
|
2.878
|
74%
|
Total |
129.220
|
180.232
|
51.013
|
39%
|
Em Curitiba, por outro lado, o maior crescimento no uso da lenha ou carvão foi no intervalo de renda superior, que aumentou 426%. Curitiba foi a cidade com maior taxa de crescimento do país, saltando de 18 mil para 51 mil domicílios. Pode-se supor que, em Curitiba, possa ter aumentado o uso de churrasqueira de varanda gourmet, lareira ou qualquer outro evento ainda não observável.
Variação no total de domicílios que utilizam lenha ou carvão em Curitiba por faixa de rendimento domiciliar per capita
| ||||
Faixa de rendimento | Domicílios que utilizam lenha ou carvão (2016) | Domicílios que utilizam lenha ou carvão (2017) | Crescimento absoluto 2017 | Taxa de crescimento por faixa de renda |
até 1 salário mínimo | 3.419 | 7.287 | 3.868 |
113%
|
Mais de 1 até 2 salários mínimos | 4.449 | 11.853 | 7.404 |
166%
|
Mais de 2 até 3 salários mínimos | 3.704 | 10.512 | 6.808 |
184%
|
Mais de 3 até 5 salários mínimos | 3.758 | 7.927 | 4.169 |
111%
|
Mais de 5 salários mínimos | 2.621 | 13.776 | 11.155 |
426%
|
Total | 17.951 | 51.355 | 33.404 |
186%
|
Tabela 7 – Participação da lenha ou carvão nos domicílios brasileiros
Variação no total de domicílios que utilizam lenha ou carvão no Brasil por faixa de rendimento | ||||||
Faixa de rendimento (efetivo) domiciliar per capita | Domicílios em 2016 que utilizam lenha ou carvão | % por faixa de renda | Domicílios em 2017 que utilizam lenha ou carvão | % por faixa de renda2 | Crescimento absoluto 2017 | Taxa de crescimento por faixa de renda |
Até ¼ salário mínimo | 2.342.433 |
35%
| 2.681.487 |
36%
| 339.054 |
14%
|
Mais de ¼ até ½ salário mínimo | 2.299.253 |
24%
| 2.406.838 |
24%
| 107.585 |
5%
|
Mais de ½ até 1 salário mínimo | 3.307.730 |
17%
| 3.553.175 |
18%
| 245.445 |
7%
|
Mais de 1 até 2 salários mínimos | 2.057.486 |
11%
| 2.348.535 |
13%
| 291.049 |
14%
|
Mais de 2 até 3 salários mínimos | 540.701 |
8%
| 668.799 |
10%
| 128.098 |
24%
|
Mais de 3 até 5 salários mínimos | 314.096 |
7%
| 369.130 |
8%
| 55.034 |
18%
|
Mais de 5 salários mínimos | 248.758 |
6%
| 272.959 |
7%
| 24.201 |
10%
|
Total | 11.110.457 | 12.300.923 | 1.190.466 |
11%
|
A tabela 7 indica que o crescimento da lenha ou carvão no Brasil, ocorrido em 1.190.466 domicílios, não aparenta ser um evento correlacionado com o aumento de preços do botijão de gás, já que novamente ocorreu em todas as faixas de rendimento.
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