Um sorvete era tudo que eu queria
Tomar um sorvete. Nooooosssssaaaaaa, quanto desejo. Sonhava passando a
língua naquela massa gelada e deliciosa. Eram os sorvetes da “Gelar”, lembram?
Pois então. Eu, criança, pobrezinho, sonhava com essa guloseima inacessível
para aquela conjuntura da minha vida.
Ser criança é do caralho. Porra! Olha só a minha preocupação: um
sorvete! Era tudo. Cara, era a minha meta. Mas mesmo sem entender bulhufas de
coaching, aliás, isso não existia naquela época, fui atrás do meu sonho. Fui
vender Picolé pro Piapau (um comerciante da Favela, bairro limítrofe com a CEA,
onde morava numa casinha pequeninha, estilo cachorro sentado) e vez ou outra.
Pimba! Lá estava o Roberto Gato na sessão da tarde do Cine João XXIII, cinema
da Igreja Católica, que ficava localizado na São José, ao lado da Igreja
Matriz, Centro, assistindo filme de Faroeste e, lógico, passando a língua num
sorvete. Pense num ar de satisfação.
Ser criança é maravilhoso, ninguém ta ligando pra pobreza ou riqueza. Na
real, ninguém sabe da onde vem o vil metal. Na hora do “rango” quando não tem
comida aí à coisa fica preta. Minha mãe encontrou uma fórmula de justificar as
poucas vezes que não tínhamos comida. Ela dizia, com a paciência e sabedoria de
uma MÃE espetacular, divina. “Hoje a comida é graças de Deus com farinha.” E
assim foram passando os anos.
Mas na boa. Na minha infância ninguém estava aí pra sexualidade. Éramos
punheteiros. Só! Ninguém ficava tirando onda com a cara do moleque que tinha
jeito afeminado, até porque eram bem poucos. Ser “veado” agora parece que virou
moda. Nós brincávamos de “Camone”, dividíamos a garotada em dois grupos e com
revolveres de madeira ficávamos caçando uns aos outros. Bandeirinha, outra
brincadeira esportiva, pois pegávamos dois ramos de árvore e colocávamos do
fundo de cada campo e as duas turmas se revezavam para pegar a bandeira do
outro e atravessar uma linha divisória que marcava o território de cada grupo
sem ser tocada. Civismo puro. Aquele ramo era sagrado.
Tinham outras brincadeiras legais. A pelada no meio da rua era
tradicional ao cair da tarde e melhor ficava quando a partida era disputada com
a molecada da outra rua.
Fiquei uma criança mais velha e, lógico, assustado com a quantidade de
jovens que optaram pelo homossexualismo. Nada contra, mas que assusta, assusta.
Parece que virou uma epidemia e aí a coisa foi ficando difícil de entender. Mas
essa molecada não enfrenta apenas esse problema, pelo menos ao meu sentir. A
falta de educação, de civismo, de respeito para com os mais velhos é algo
acintoso. Tem alguma coisa errada.
Não sou retrógrado, apenas saudosista e peremptoriamente afirmo que
minha infância era bem mais saudável que dessas crianças que comem, sem querer,
mas comem, agrotóxico, brincam no quarto de vídeo game, não jogam bola na rua e
não brincam de “camone” eles matam de verdade as outras crianças e adultos.
Tenho saudade do “pinga pinga”, do “sem dedo” do “perereca” “chibelão”
do “cutaca” e por aí afora. Isso não era bulling, era tratamento carinhoso. Quem
não tinha apelido naquela época. Quem?
Temos e devemos nos adaptar aos novos tempos, pois o tempo não pára.
Porém olho pro futuro com um pé na saudade e uma indisfarçável preocupação com
o futuro das nossas crianças.
Espero que o Brasil volte a ser um País do respeito, da ordem e do
progresso. Que voltemos a cantar o Hino Nacional na porta da escola e que
voltemos a amar a nossa pátria e continuarmos a ser criança sem ninguém nos
ensinando sexo na hora errada, ou escancarando as intimidades nos horários vespertinos.
Parabéns as crianças, mas vamos cuidar delas.
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