Crônica: O Homem do
Saco
Por Rodrigo Alves de Carvalho
- Fica aí na rua que o Homem do
Saco vai te pegar!
Era assim que minha mãe fazia
um certo terrorismo para que eu entrasse logo em casa para tomar banho e
jantar.
Nunca tive medo do Homem do
Saco e sim muita curiosidade em saber como ele era, como é que as crianças
ficavam dentro do saco, onde ele as levava. O Homem do Saco poderia nos
submeter a cruéis castigos insanos como por exemplo, nos forçar a comer quiabo,
ou então algo mais tenebroso nos cozinhando num caldeirão fervendo como faziam
as bruxas.
Para as outras crianças, o medo
do Homem do Saco imperava naquele mundo infantil cheio de mistérios e fantasias
e o melhor a fazer era obedecer aos pais, não teimar em ficar brincando por
muito tempo na rua depois que éramos chamados, até porque se o Homem do Saco
não aparecesse, com certeza o chinelo da mãe apareceria.
Certa tarde eu estava brincando
sozinho na calçada, aproveitando a água que descia junto ao meio fio, construía
uma represa com paus e tijolos velhos. Quando olhei para baixo, subia um homem
alto, com chapéu engraçado, andar lento, que não tirava os olhos de mim. Meu
desespero começou quando observei que segurava um saco enorme nas costas que
sacolejava para lá e para cá.
Em pânico, minhas perninhas
tremiam e com muita dificuldade consegui ficar em pé. O Homem do Saco se
aproximou, sempre me olhando sem parar, consegui dar uns passos para trás e
fiquei próximo ao portão de casa. Porém, mesmo com as pernas bambas, não queria
gritar chamando minha mãe, pelo contrário, havia curiosidade em saber o que ele
faria e como eu iria caber naquele saco que devia estar repleto de crianças.
- Sua mãe está aí?
Ao perguntar isso, tive certeza
que minha hora havia chegado, mas decidi juntar forças e lutar, principalmente
porque um instinto heroico tomou conta de mim e iria acabar com aquela história
de Homem do Saco. Então xinguei da maneira mais vil e ofensiva já existente
para uma criança:
- Bobão! Feio! Cara de mamão!
Boboooo!
Minha mãe ao ouvir tais ofensas
saiu de casa e se deparou com o filho se preparando para o fatal pontapé na
canela do tenebroso vilão que carregava um saco nas costas...
À tarde quando meu pai chegou,
vieram conversar comigo e explicar que não podia xingar as pessoas simplesmente
por estarem carregando um saco nas costas e que o Homem do Saco não existia de
verdade.
E minha mãe não ficou chateada
por eu ter me assustado com o Homem do Saco e sim porque teve que pedir
desculpas ao humilde pedinte que só queria um copo d’água.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga
(MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários
estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas.
Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela
editora Clube de Autores.
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