O
rei que não ria
Por Rodrigo Alves de Carvalho
Na época medieval, num reino muito distante existia um poderoso
rei que tinha um grande problema. Desde que o pai morrera e ele herdara a
coroa, o rei nunca mais deu risada.
Isso mesmo, o rei achava tudo chato, tudo enfadonho e sem graça e
de seu rosto não saia um sorrisinho sequer, nem mesmo um pigarro de alegria.
Com todo esse mau humor, as coisas no reino também ficaram piores.
Já que o rei não tinha alegria em governar, os impostos sempre aumentavam.
Havia intolerância com qualquer demonstração de alegria da população e isso
gerou um decreto real onde nenhuma pessoa poderia rir em público. Se o
indivíduo fosse pego rindo, seria condenado à morte e guilhotinado sem dó.
Eram dias sombrios onde nem os passarinhos se atreviam a cantar
com medo de perderem as cabecinhas.
Para tentar resolver essa insanidade real, o príncipe e a princesa
conseguiram convencer o rei que não ria a realizar um concurso de piadas para
que a alteza máxima pudesse dar risada e sua alegria voltasse a contagiar todo
o reino. O rei aceitou o concurso, porém se o comediante não tivesse êxito em
extrair um sorriso da carranca de vossa majestade, ele seria sumariamente
decapitado, mas se o rei caísse na risada, uma grande fortuna seria presenteada
ao heroico humorista.
E assim foi. Podemos dizer que todos os humoristas, bobos de
cortes, comediantes de stand up e palhaços circenses perderam
suas estimadas cabeças.
E cada vez mais a situação no reino ficava pior, pois a cada
cabeça que rolava, mais o rei ficava de mau humor e irritadiço.
Cansado de tanto sofrer naquele reino de tristezas, um simples e
pobre camponês que não aguentava mais pagar altos impostos decide tentar a
sorte e se apresentou perante o soberano com a seguinte piada:
- Vossa majestade sabe porque não consegue dar risada e faz todo o
reino sofrer por isso?
- Não! Me diga por que pobre vassalo.
- Porque vossa majestade é um rei-tardado!
O rei ficou mais de um minuto pensativo, toda a corte com olhos
arregalados e estupefatos. De repente o rei começa a rir bem devagarinho e
depois não se contendo solta grandes gargalhadas que foram ouvidas em todo o
reino.
A paz retornou! Os impostos abaixaram e até os passarinhos
voltaram a cantar porque o rei estava rindo de novo.
E o pobre camponês? Ficou rico ao fazer o rei rir?
Não! Ele foi guilhotinado por ofender vossa majestade.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga
(MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários
estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas.
Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela
editora Clube de Autores.
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