Pobre Planeta: os humanos estão explorando 100
bilhões de toneladas de riqueza ao ano
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã”.
(O Sal da Terra, Beto Guedes)
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã”.
(O Sal da Terra, Beto Guedes)
[EcoDebate]
A humanidade está retirando riqueza do Planeta a uma taxa crescente para
produzir bens e serviços em benefício de um padrão elevado de consumo que
beneficia um enorme número de habitantes que, desafortunadamente, devolvem
esgoto, poluição e resíduos sólidos para a natureza. Esta lógica de retirar
riquezas ecossistêmicos e devolver lixo para o meio ambiente é adotada, de
maneira geral, por toda a população mundial, diferindo apenas em grau,
dependendo do nível de renda de cada indivíduo.
O relatório “Global Resources Outlook
2019, da UNEP (United Nations Environment Programme), divulgado ano passado,
constata: “Desde a década de 1970, a população global dobrou e o Produto
Interno Bruto global quadruplicou. Essas tendências exigiram grandes quantidades
de recursos naturais para impulsionar o desenvolvimento econômico e as
consequentes melhorias no bem-estar humano. No entanto, esses ganhos têm um
custo tremendo para o meio ambiente, impactando, em última instância, no padrão
de vida da população e exacerbando as desigualdades dentro e entre os países”.
O relatório informa que, entre 1970 e
2017, a extração global de materiais cresceu de 27 bilhões de toneladas para 92
bilhões de toneladas, triplicando nesse período e continuando a crescer. Desde
2000, o crescimento das taxas de extração acelerou para 3,2% ao ano,
impulsionado em grande parte por grandes investimentos em infraestrutura e
padrões de vida materiais mais elevados países em desenvolvimento,
especialmente na Ásia.
Portanto, a extração per capita de
recursos está aumentando e o sonho do desacoplamento entre crescimento
econômico e uso de recursos naturais está cada vez mais distante.
Em janeiro de 2020, o Instituto
“Circle Economy”, lançou o relatório “The Circularity Gap Report 2020”, pouco antes
do início do Fórum Econômico Mundial em Davos, mostrando que o uso
insustentável de recursos naturais está destruindo o planeta e agravando a
crise climática.
O relatório mostra que a quantidade
de material consumido pela humanidade já ultrapassa 100 bilhões de toneladas a
cada ano e, apesar deste alto volume de exploração da natureza, a proporção de
reciclagem está caindo. Os autores do relatório alertam que tratar os recursos
do mundo como ilimitado está levando a um desastre global, com aumento da taxa
de extinção de espécies e com o agravamento da emergência climática.
Embora o relatório tenha anotado que
algumas nações estão dando passos em direção a economias circulares nas quais a
energia renovável sustenta sistemas onde o lixo e a poluição são reduzidos a
zero, o executivo-chefe da Circle Economy, Harald Friedl, disse: “Arriscamos um
desastre global se continuarmos a tratar os recursos do mundo como se fossem
ilimitados. Os governos devem adotar urgentemente soluções de economia circular
se quisermos alcançar uma alta qualidade de vida para cerca de 10 bilhões de
pessoas até meados do século, sem desestabilizar processos planetários
críticos”.
O principal autor do relatório, Marc
de Wit, chamou atenção para a questão demográfica (tão negligenciada pelas
políticas públicas) e disse: “Ainda estamos alimentando nosso crescimento
populacional e a afluência das pessoas pela extração de materiais virgens. Não
podemos fazer isso indefinidamente – nossa fome de material virgem precisa ser
interrompida”.
Os números apresentados são
impressionantes. A exploração das riquezas da Terra chegou a 100,6 bilhões de
toneladas de materiais, sendo metade do total constituída por areia, argila,
cascalho e cimento usados na construção, somado a outros minerais extraídos
para produzir fertilizantes. Carvão, petróleo e gás compõem 15% e minérios
metálicos 10%. Cerca de 25% são culturas agrícolas e árvores usadas como
alimento e combustível (conforme pode ser visto na figura acima). São 13
toneladas para cada habitante do globo.
O relatório mostra que a maior parte
dos materiais (40%) é transformada em habitação. Outras categorias importantes
incluem alimentos, transporte, saúde, comunicações e bens de consumo, como
roupas e móveis. Quase um terço dos materiais anuais permanece em uso após um
ano, como edifícios e veículos. Mas 15% são emitidos na atmosfera como gases de
aquecimento climático e quase um quarto é descartado no meio ambiente, como
plástico em cursos d’água e oceanos. Um terço dos materiais é tratado como lixo,
a maioria vai para aterros sanitários e a mineração. Apenas 8,6% é reciclado.
O relatório afirma que o aumento da
reciclagem pode tornar as economias mais competitivas, melhorar as condições de
vida e ajudar a cumprir as metas de emissões e evitar o desmatamento. Ele
informou que 13 países europeus adotaram roteiros de economia circular,
incluindo França, Alemanha e Espanha, e que a Colômbia se tornou o primeiro
país da América Latina a lançar uma política semelhante em 2019.
O Banco Mundial havia lançado, em
2018, o relatório “What A Waste 2.0 : A Global Snapshot on Solid Waste
Management to 2050” onde mostra que o volume global de descarte de lixo e de
resíduos sólidos deve aumentar em cerca de 70% até 2050, quando chegará a 3,4
bilhões de toneladas, frente a 2,01 bilhões de 2016.
Desta forma, tem sido uma ilusão a
proposta de conciliar os imperativos gêmeos da sustentabilidade e do
desenvolvimento. A ideia do “desenvolvimento sustentável” tem sido apenas um
bordão cada vez mais difícil de ser vendido aos cidadãos (transformados em
consumidores) do mundo. O desenvolvimento sustentável virou uma contradição em
termos e o tripé da sustentabilidade virou um trilema.
Ou se muda o estilo de vida da
população mundial ou haverá um grande desastre ambiental e a vida na Terra será
afetada, por um lado, pela montanha de lixo e resíduo sólido que cresce em
ritmo acelerado e, por outro, pelas consequências dramáticas do aquecimento
global que se tornou um perigo existencial à civilização e uma ameaça concreta
à sobrevivência da vida humana e não humana.
Somente com um rápido decrescimento
demoeconômico será possível reduzir significativamente a exploração dos
recursos naturais e suas consequências, evitando ou mitigando um grande colapso
ecológico.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
WORLD BANK. What A Waste 2.0 : A Global Snapshot on Solid Waste
Management to 2050, 09/2018
https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/30317
https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/30317
UNEP. Global Resources Outlook 2019: Natural Resources for the Future We
Want, United Nations Environment Programme, 2019
https://www.resourcepanel.org/reports/global-resources-outlook
https://www.resourcepanel.org/reports/global-resources-outlook
Circle Economy. The Circularity Gap Report 2020, Circularity Gap
Reporting Initiative, Jan 2020
https://www.circularity-gap.world/
https://www.circularity-gap.world/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/03/2020
Pobre Planeta: os
humanos estão explorando 100 bilhões de toneladas de riqueza ao ano, artigo de
José Eustáquio Diniz Alves, in EcoDebate, ISSN
2446-9394, 4/03/2020, https://www.ecodebate.com.br/2020/03/04/pobre-planeta-os-humanos-estao-explorando-100-bilhoes-de-toneladas-de-riqueza-ao-ano-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
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