ARTIGO DO REI
SUICÍDIO NÃO ESCOLHE QUEM OU CLASSE
Reinaldo Coelho
Segundo a OMS, de 800 mil a um milhão de pessoas tiram a própria vida a cada ano no mundo. Uma a cada 40 segundos.
Esses números ainda não chegaram ao conhecimento da população mundial e nem foi encarada com preocupação entre as famílias, comunidade, bairros, cidade, estados e países. Ao tomarem conhecimento desse ato violento contra a própria pessoa, a maioria somente quer saber e especular quem e o porquê? Passou, esquece, e não olha para o lado para ver se alguém do seu meio é propenso ou apresenta os sinais que podem levar ao suicídio.
Suicídio é coisa de rico. Pobre não tem tempo para isso, é o que muitos dizem ou pensam, mas está errado, pois o suicídio atinge todas as camadas sociais, independentemente de sexo, raça ou idade. Embora existam fatores mais associados ao suicídio, ele está presente em todas as camadas sociais.
Talvez o menor número de suicídios entre a classe pobre, se deva ao fato que entre os pobres aprenderam a colaborar mais e a sentir compaixão pelo seu vizinho. Os homens se matam mais que as mulheres.
A maioria das pessoas, quando sabem que alguém que se suicidou, diz que quem “se mata é fraco”. Não é verdade. O que leva ao suicídio é uma dor psíquica insuportável, e não uma atitude de covardia ou de coragem. Não se deve fazer julgamento moral da pessoa que busca, no suicídio, a solução para seu sofrimento. A pessoa, muitas vezes, sofre de um transtorno que altera sua percepção dos fatos, o que a leva a buscar, na morte, a sua saída. Em lugar de julgamento, devem ser ofertados compreensão e acolhimento, tanto para a pessoa como para seus familiares.
A pessoa, muitas vezes, não deseja a morte, mas uma vida diferente, uma saída para seu sofrimento. O fato de dizer que quer morrer já representa um grave sinal que deve ser considerado como alerta. A tentativa de suicídio é o fator de risco mais importante a ser considerado na prevenção do suicídio.
As estatísticas mostram que, para cada suicídio consumado, ocorreram 10 tentativas, e que a pessoa pode tentar mais de uma vez. Isso aponta para a importância do tratamento por profissional devidamente preparado. Por isso dizer quem tentou uma vez, e não repetirá, não é verdade.
Embora a população mais velha seja mais propensa ao suicídio, os mais jovens não estão imunes. Por serem menos sujeitos a enfermidades comuns na velhice, o suicídio acaba se tornando uma das principais causas de morte nas décadas iniciais de vida. Outra população atingida por essa doença é os indígenas, onde as taxas de suicídio das crianças indígenas são consideravelmente mais altas do que as das não indígenas.
Suicídio acontece mais entre as classes medias e menos entre pobres |
Entre os negros, os adolescentes são os mais atingidos por esse espectro mental. A cada dez jovens (de 10 a 29 anos) que cometem suicídio, seis são autodeclarados negros. O levantamento, do Ministério da Saúde (MS), revela não somente uma disparidade racial, como também a necessidade de políticas públicas mais eficientes para a população negra. Pois, além dos outros motivos, o preconceito racial, os bullyings, levam vantagens para a perturbação mental do jovem negro, agravando assim sua depressão e humilhação.
O jovem negro, quando está na fase de construir sua própria identidade, a constrói a partir do entendimento de que ser negro é ser inferior, ser feio, ser menos valorizado. Essa percepção de não pertencimento faz com que esse jovem tenha um sofrimento e um adoecimento muito maior e pode, em muitos casos, levar ao suicídio.
E não é porque está doente, desempregado, perdeu um grande amor, é negro, pobre que se suicida. Os ricos, filhos de grandes famílias, estabilizados financeiramente e familiar, se suicidam. Casos recentes de grande repercussão de suicídio em colégios e universidades, bem como a morte de celebridades como o chef e apresentador Anthony Boudain e a designer Kate Spade - ambos no auge de suas vidas profissionais -, evidenciam a importância em falar sobre o tema e diminuir o estigma em torno da saúde mental.
Não é possível saber o que está por trás de cada uma dessas histórias, uma vez que o suicídio é multicausal, ou seja, não há um único fator ou culpado.
Mas especialistas apontam que, em grande parte dos casos, há um histórico de transtornos mentais, diagnosticados ou não: depressão, ansiedade, esquizofrenia, bipolaridade, borderline (de comportamento impulsivo e compulsivo), entre outros.
"Não é possível reduzir o suicídio a uma única causa, mas a depressão causa uma disfunção dos neurotransmissores do cérebro. É parte de um conjunto de fatores psicológicos, culturais, físicos e bioquímicos", diz à BBC News Brasil Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC), em São Paulo.
Então vamos cuidar do corpo e da mente, vamos olhar nossos amigos, filhos e parentes com olhar de cuidar e prevenir, os sintomas são relevantes, eles querem ser escutados e ajudados. Tenha o número da CVV ao seu lado. LIGUE 188
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