Apagão no Amapá é uma vergonha nacional
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Apagão no Amapá — Foto Albenir Sousa Rede Amazônica |
Reinaldo Coelho
O Estado do Amapá tem em suas terras três geradoras de energia elétrica para o Brasil: Hidrelétrica Dr. Coaracy Nunes, (78 MW), Hidrelétrica Ferreira Gomes (252MW) e a Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão (219 MW) que geram um total de 549 MW e uma em conclusão que é a Hidrelétrica Santo Antônio do Jari, com 373 MW, que poderá somar as três em funcionamento localizada na Zona Sul do Estado, no munícipio de Laranjal do Jari. Essa potência de geração não foi suficiente pára que o Amapá não sofresse com um apagão histórico e surreal.
Isso acontece, pela situação que a Companhia de Eletricidade do Amapá vem passando. As incertezas politicas, ameaças de privatização, e econômicas, com dividas milionárias que vem sofrendo e as décadas de descaso com a infraestrutura, postes e fiação com mais de 30 anos em funcionamento, maquinários antigos e com problemas e o pior sem material de reposição em depósito, necessitando de compras fora do Estado, que tem problemas de mobilidade e trafegabilidade. Comprovado com a situação do gerador que pegou fogo e teve de receber os elementos de reposição fora do Amapá.
Geraçõ de energia
Essa produção de energia elétrica do Amapá está interligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e na última semana foi interrompida por um incêndio ocorrido na Subestação da Zona Norte de Macapá, administrado pela empresa concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), ligada à Isolux, empresa responsável por fazer a conexão da rede local ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Com essa situação surreal, os macapaenses, após uma tempestade com raios e trovões tiveram uma passagem de retorno ao passado, infelizmente, não era um filme de ficção é real e aterrorizante e que já perdura 4 dias. As famílias macapaense ficaram sem a comunicação através das redes socais e começaram a se reunir na frente das residências familiar e a conversar presencialmente e discutir suposições sobre a situação que estavamos convivendo. Muitos se refugiaram em sitios e balneários, onde já estão instalados a captação de energia solar, porém, os pobres, que são a maioria, continuaram em seus lares, que já é carente e sem a energia e água, único beneficio que ainda tem acesso, muitos através de ligações piratas, perderam tudo e voltaram ao inicio do século XX, onde a energia era interrompidas às 18 horas e voltava, às 06 da manhã. E até sem essa certeza o povo ficou, pois não foram informados o que aconteceu.
Isso veio mostrar a fragilidade do nossos sistemas de energia, redes de saúde, da educação, que somente surgem com toda sua realidade nesses momentos de catástrofe. É necessário e prioritário que seja investigados onde estavam as falhas e a culpa de que isso chegasse ao nível que estamos. A população refém da más gestões.
AMAPAENSES REFÉM DA INCOMPETÊNCIA
Mesmo sendo gerado por forças da natureza, o que é fato, o sistema de manutenção das subestações de energia elétrica estão sucateados e sem infraestrutura para reposição imediata de qualquer item que sejam necessários. As redes de fiação aérea de distribuição urbana, são velhas e com qualquer ventania arrebentam e são feitas "gambiarras' com emendas paliativas dos fios, tornando-as mais inconsistentes e trazendo transtornos para os equipamentos elétricos das residencias. Basta o consumidor, tirar um tempo e acompanhar as emendas nas redes elétricas nas ruas de Macapá. Os transformadores de energia, estouram, com qualquer sobrecargas e são 'consertados' e voltam a funcionar precariamente.
O Amapá, com problemas econômicos, sociais e de saúde, com o retorno da contaminação pelo COVID 19, perda de parentes e amigos, retorno do isolamento social e recebe esse impactante apagão elétrico, deixando-os mais atordoados e utilizando-se de estrategias para compensar a falha do abastecimento de energia elétrica e água, alimentos e principalmente cuidar da saúde.
Com esses problemas as famílias macapaense ficaram sem a comunicação através das redes socais e começaram a se reunir na frente das residências familiar e a conversar presencialmente e discutir suposições sobre a situação que estávamos convivendo.
Desde então, cenas apocalípticas geradas pela falta de energia tomaram as redes sociais. Filas de pessoas aglomeradas em shopping e aeroporto em busca de uma tomada para carregar os aparelhos celulares.
Muitos apelos foram registrados e compartilhados Brasil afora, um de maior destaque foi feito pela amapaense Heluana Quintas, que tem usado o Facebook para mostrar o que ela e seus conterrâneos têm enfrentado diante da falta de energia.
Numa das publicações, Heluana escreveu: “Não tem água encanada. Não tem internet e raras vezes funciona Claro e Vivo. Os postos de gasolina não podem operar sem energia, então não temos gasolina também. Não dá para sacar dinheiro nos caixas eletrônicos, nem comprar comida com cartão. Estamos num pico de contaminação e lotação nos hospitais devido à pandemia. Eles estão funcionando por gerador. Não sabemos por quanto tempo. As cirurgias foram interrompidas. Torçam, rezem, orem, mandem ‘positive vibration’ aos enfermos”, postou.
A publicação da moradora logo tomou as redes sociais acompanhada das hashtags #SOSOAmapa, #ApagaoNoAmapa e #AmapaPedeSocorro em publicações de políticos e famosos. A hashtag #Amapá foi aos trending topics (assuntos mais comentados do Twitter) no Brasil nesta sexta-feira (6).
RETORNO PARCELADO
Na madrugada deste sábado (7), o sistema elétrico de Macapá voltou a ser conectado à rede de Transmissão do Sistema Interligado Nacional – SIN, com a conclusão de reparos em um dos transformadores da Subestação Macapá (230/69 kV) e o início gradativo do atendimento aos consumidores. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a religação o fornecimento de eletricidade está sendo feita de forma escalonada, e a capital do Amapá já estaria recebendo cerca de um terço da carga típica para o horário.
Ainda na sexta-feira, aviões das Forças Armadas começaram a transportar 51 toneladas de materiais que foram utilizados para restabelecer o fornecimento de energia na região, como máquinas de purificação de óleo e geradores.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é do Amapá, se reuniu com o ministro Bento Albuquerque para tratar da crise no estado. Em tom otimista, ele disse que em um “curto espaço de tempo”, vai ser possível restabelecer de setenta a oitenta por cento do serviço.
O senador falou em investigar o caso para encontrar os possíveis culpados. “Foi uma fatalidade, um acidente natural, lógico que em algum momento as autoridades vão averiguar, investigar os responsáveis que com certeza serão punidos lá na frente, mas foi uma fatalidade e agora nós estamos buscando uma solução para o problema”, disse.
INVESTIGAR
O Ministério Publico Federal abre inquérito para investigar responsabilidades de instituições no apagão que atinge o Amapá. Órgão deu 24 horas para Estado, empresa responsável por subestação e CEA que expliquem o que aconteceu e quais medidas são adotadas para restabelecer fornecimento de energia.
O QUE ACONTECEU?
Desde a noite da última terça-feira, 3 de novembro, 13 das 16 cidades do Estado do Amapá sofrem com um apagão por conta de um incêndio na Subestação de Macapá, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A falta de energia, que já dura mais de 60 horas, impacta nas necessidades básicas de 90% da população, inclusive da capital amapaense e toda a região metropolitana, e obrigou o Governo estadual a declarar estado de emergência. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, prometeu 100% da energia retomada no Estado em até 10 dias.
OS QUATRO DIAS DE AGONIA
A situação caótica dos amapaenses nestas quatro noites e três dias, sem energia e água, junto com o isolamento social e de comunicação, pois sem internet, sem celular (descarregados), comida estragando na geladeira, falta de água nas torneiras e filas quilométricas para sacar dinheiro vivo e abastecer o carro, pois a maioria dos postos de gasolina não possuem gerador de energia e sem acesso aos meios de comunicação, estavam todos desnorteados e sem direção. Internet e serviços de telefonia também estão fora do ar há três dias. Ainda existem problemas com os estoques do comércio local, uma vez que muitas mercadorias necessitam de refrigeração para não estragar.
Neste sábado (07), com o retorno progressivo da energia e da internet, o acesso as redes de comunicação de televisão e rádio, a a população começou a tomar ciência da real situação de Macapá e do Estado do Amapá, frente a pandemia elétrica.
Em Macapá, os geradores permitem o funcionamento de alguns hospitais. E foram formadas filas para coletar água e comprar outros itens básicos de necessidade. Falta água mineral, água encanada e gelo, e as compras são dificultadas pela impossibilidade de usar caixas eletrônicos e máquinas de cartão.
Além disso, como máquinas de cartão de crédito e débito estão desligadas no comércio, milhares de pessoas esperam horas em frente aos poucos estabelecimentos com caixas eletrônicos que funcionam por meio de geradores — um deles está no aeroporto internacional de Macapá, lotado de pessoas em busca de dinheiro.
Em pronunciamento na sexta-feira (06/11), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o restabelecimento dos 100% de energia elétrica no Amapá é "complexo" e deve demorar pelo menos dez dias.
"Estamos abandonados e desesperados. Não tem como esperar 10 ou 15 dias para essa situação se resolver", diz Mario Lobato, professor de Educação Física.
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Sem energia nos bancos da cidade, houve longas filas nos caixas eletrônicos do aeroporto da capital do Estado |
Neste sábado (7), as donas de casa, retiraram os últimos itens perecíveis de suas geladeiras ou freezer e constaram a perda da maioria e em pior situação estar os empreendedores que atuam no setor de alimentação, desde do ambulante aos grandes restaurantes, muitos com a perda total dos estoques alimentícios, carne, frango e peixe estragados.
As padarias, que tinham as massas em andamentos tiveram perda total e deixaram de produzir pães devidos que a maioria possuem fornos elétricos.
"Em casa nós perdemos toda a comida que havia na geladeira. Estamos usando água da chuva ou pegando de alguns moradores que têm poço artesiano. Também há uma única torneira funcionando, da empresa de saneamento, mas a água vem barrenta e não dá para beber", explica.
O estudante conta que, na noite de sexta-feira 6, ficou duas horas na fila de um dos poucos postos de gasolina que estão abastecendo veículos. "Mas, em outros postos, mais centralizados, há pessoas esperando até oito horas para conseguir abastecer", diz.
Falta energia, água e dinheiro
A maioria das famílias macapaense está buscando água potável, onde há uma torneira em funcionamento. É com ela que a família toma banho, cozinha e mata a sede. Mesmos os que tem poço em casa, mas, como não tem energia, não conseguem bombear a água.
Segundo os moradores dos bairros periféricos que têm energia elétrica fornecida por geradores, estão disponibilizando água a vizinhos. A maioria denúncia que alguns supermercados aumentaram muito o preço da água mineral, para lucrar. Um galão de cinco litros está custando R$ 12, e antes custava R$ 5 ou R$ 6.
O que aconteceu?
O apagão começou na noite de terça-feira, quando Macapá foi atingida por uma forte tempestade e, segundo suspeita do Governo local, um raio atingiu o transformador 1 da Subestação de Macapá, de propriedade da empresa LMTE e responsável pela energia do Estado, causando um incêndio no local. Um Relatório de Análise de Perturbação já foi pedido para confirmar a causa do incêndio, mas pode demorar até 30 dias para ser concluído. Entre as cidades amapaenses, apenas Oiapoque, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, que usam sistemas de energia independentes, não foram afetadas pelo apagão.
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Fila nos postos de gasolina |
Estado de emergência
Na sexta-feira (6), o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), assinou a declaração de estado de emergência, que estabelece um plano de emergência para atender a população e possibilita ao Estado solicitar recursos do Governo federal para atender às cidades. A mesma atitude foi tomada pelo prefeito de Macapá, Clécio Luis (PT), que decretou estado de calamidade pública por 30 dias na cidade por conta das dificuldades causadas pelo apagão somadas à situação da pandemia de covid-19.
Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou em suas redes sociais que estaria entrando com uma ação na Justiça Federal do Amapá pedindo ao Governo federal abastecimento de água e cestas básicas, instauração de inquérito de investigação por parte da Polícia Federal e condenação dos responsáveis, de forma a “ressarcir os danos materiais e morais de cada amapaense que foi atingido pelo caos". Outras figuras importantes da oposição, como Fernando Haddad e Ciro Gomes, também cobraram publicamente medidas do Governo Bolsonaro com a hashtag #SOSAmapá.
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FILAS NOS SUPERMERCADOS |
Desde o início do apagão, o Ministério de Minas e Energia estabeleceu um Gabinete de Gestão de Crise que, além da ONS, conta com a participação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), da Eletrobrás e da LMTE. Em seu último pronunciamento, o ministro Bento Albuquerque garantiu que existe um plano para a “pronta” recuperação de 70% da energia, mas a operação é “complexa”. “O equipamento já foi reparado na sua parte física e agora está havendo a filtragem do óleo do equipamento. Para se ter noção do volume, são 45 mil litros de óleo, e temos que ter certeza de que ele está em condições de operação”, afirmou Albuquerque.
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