“A FUGA DE HERODES”: O COMBATE ÀS DOENÇAS DIARREICAS NA INFÂNCIA
Por Jarbas de Ataíde
A fuga da Sagrada Família, no texto bíblico em que o Rei Herodes da
Judéia “mandou matar todos os meninos de
Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o
tempo indicado pelos magos” (Mt 2, 13-18), com o objetivo de ceifar a vida
de Jesus, mostra que nós podemos contribuir pra que crianças
menores de 1 ano deixem de ser vítimas
das diarreias.
Não há fuga desse mal se nossos
dirigentes não tomarem as medidas, pois as diarreias são doenças de origem
sanitária, de falta de saneamento básico, e refletem a realidade da saúde
pública e das condições de vida dos habitantes da localidade. No Brasil, em
especial na região Norte, ocorre “21% de todos os óbitos de crianças com menos
de 5 anos”, acometidas de diarreias.
Assim como as medidas de controle
das demais doenças infecciosas e parasitárias, que precisam de atuação
constante, eficiente e não apenas emergencial, como Dengue, Malária, Sarampo,
H1N1, Covid-19 e outras mais, a Vigilância em Sanitária deve ser operante e
permanente, em todas as esferas de poder.
Com a posse dos novos Prefeitos e Vereadores, com o mesmo discurso de priorizar a saúde pública, volta o assunto do controle mais efetivo das instituições e secretarias que cuidam da estrutura urbana e do controle das endemias, em especial no Norte e Nordeste, onde o índice de saneamento básico é baixíssimo.
Em artigo anterior falei do estudo realizado
em Pernambuco, com crianças menores de 5 anos, no período de abril/maio de 1992
e 1994. Os dados obtidos foram alarmantes e mostraram os fatores de risco
associados a essa doença e condicionantes para sua aquisição: “ a idade da criança (menores de 2 anos),
a ausência de saneamento básico e falta de eletrodomésticos no domicilio” (Vásquez
M.L, et al, 1999).
Diferente, agora com a Covid-19, com
excesso de informação, o povo nessas regiões não possui informação e mínimos
meios de subsistência, e, portanto, vulneráveis às doenças: água contaminada, esgoto à céu aberto
(fossas biológicas inadequadas), lixo não coletado, moradias em locais
insalubres e alagados, alimentação inadequada e falta de assistência médica
para intervenção e tratamento imediato.
Muitas dessas situações são
responsáveis pelas condições desfavoráveis que levam a mortalidade pela doença
no Brasil, que no período de “2000 a 2010 ocasionou 53.551 óbitos, dos quais
50% na Região Nordeste, 25,6% na Sudeste, 9,4% na Norte, 8,7% na Sul e 6,3% na
Centro-Oeste”. ( UVHA/CGDT/DEVEP/SVS/MS, 2000-2011).
No Amapá a sazonalidade do período
chuvoso eleva os casos de diarreia, causada por disenterias parasitárias
(verminoses, amebíase, giardíase), infecções intestinais e enterites virais.
Daí a necessidade do poder público tomar as medidas adequadas para a prevenção
e o tratamento.
Poderemos nos livrar da “matança” de
várias pragas, doenças e epidemias, caso tenhamos uma atuação mais responsável,
sensível e cooperativa das autoridades publicas e dos gestores na aplicação das
medidas básicas, de responsabilidade primeira das Prefeituras, na tentativa de reduzir
as internações, como aconteceu no Brasil no quinquênio (2006-2010), que registrou
180.267 internações entre as crianças
com menos de 1 ano.
Nossas ruas asfaltadas indevidamente,
com asfalto precário, obras de duplicação de rodovias inacabadas, periferias
abandonadas com alagados e lixo a céu aberto, vias centrais com buracos abertos
recentemente, deixadas para o próximo gestor, são mostras de que a
infraestrutura urbana e sanitária de Macapá ainda é muito politiqueira e
emergencial.
Caberá ao novo Prefeito eleito, se
quiser frear os óbitos pelas doenças diarreicas e transmissíveis, primar por
uma gestão municipal mais voltada para a prevenção, atenção básica, vigilância
sanitária e saneamento básico. JARBAS ATAÍDE, 24.12.2020. Véspera de Natal.
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