quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

“A FUGA DE HERODES”: O COMBATE ÀS DOENÇAS DIARREICAS NA INFÂNCIA

 “A FUGA DE HERODES”: O COMBATE ÀS DOENÇAS DIARREICAS NA INFÂNCIA



Por Jarbas de Ataíde 

         A fuga da Sagrada Família,  no texto bíblico em que o Rei Herodes da Judéia “mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos” (Mt 2, 13-18), com o objetivo de ceifar a vida de Jesus, mostra que nós podemos contribuir pra que  crianças  menores de 1 ano deixem de ser  vítimas das diarreias.

            Não há fuga desse mal se nossos dirigentes não tomarem as medidas, pois as diarreias são doenças de origem sanitária, de falta de saneamento básico, e refletem a realidade da saúde pública e das condições de vida dos habitantes da localidade. No Brasil, em especial na região Norte, ocorre “21% de todos os óbitos de crianças com menos de 5 anos”, acometidas de diarreias.

           Assim como as medidas de controle das demais doenças infecciosas e parasitárias, que precisam de atuação constante, eficiente e não apenas emergencial, como Dengue, Malária, Sarampo, H1N1, Covid-19 e outras mais, a Vigilância em Sanitária deve ser operante e permanente, em todas as esferas de poder.     

          Com a posse dos novos Prefeitos e Vereadores, com o mesmo discurso de priorizar a saúde pública, volta o assunto do controle mais efetivo das instituições e secretarias que cuidam da estrutura urbana e do controle das endemias, em especial no Norte e Nordeste, onde o índice de saneamento básico é baixíssimo.  


           Em artigo anterior falei do estudo realizado em Pernambuco, com crianças menores de 5 anos, no período de abril/maio de 1992 e 1994. Os dados obtidos foram alarmantes e mostraram os fatores de risco associados a essa doença e condicionantes para sua aquisição: “ a idade da criança (menores de 2 anos), a ausência de saneamento básico e falta de eletrodomésticos no domicilio” (Vásquez M.L, et al, 1999).

          Diferente, agora com a Covid-19, com excesso de informação, o povo nessas regiões não possui informação e mínimos meios de subsistência, e, portanto, vulneráveis às doenças: água contaminada, esgoto à céu aberto (fossas biológicas inadequadas), lixo não coletado, moradias em locais insalubres e alagados, alimentação inadequada e falta de assistência médica para intervenção e tratamento imediato.  

          Muitas dessas situações são responsáveis pelas condições desfavoráveis que levam a mortalidade pela doença no Brasil, que no período de “2000 a 2010 ocasionou 53.551 óbitos, dos quais 50% na Região Nordeste, 25,6% na Sudeste, 9,4% na Norte, 8,7% na Sul e 6,3% na Centro-Oeste”. ( UVHA/CGDT/DEVEP/SVS/MS, 2000-2011).

           No Amapá a sazonalidade do período chuvoso eleva os casos de diarreia, causada por disenterias parasitárias (verminoses, amebíase, giardíase), infecções intestinais e enterites virais. Daí a necessidade do poder público tomar as medidas adequadas para a prevenção e o tratamento.

           Poderemos nos livrar da “matança” de várias pragas, doenças e epidemias, caso tenhamos uma atuação mais responsável, sensível e cooperativa das autoridades publicas e dos gestores na aplicação das medidas básicas, de responsabilidade primeira das Prefeituras, na tentativa de reduzir as internações, como aconteceu no Brasil no quinquênio (2006-2010), que registrou 180.267 internações  entre as crianças com menos de 1 ano.

          Nossas ruas asfaltadas indevidamente, com asfalto precário, obras de duplicação de rodovias inacabadas, periferias abandonadas com alagados e lixo a céu aberto, vias centrais com buracos abertos recentemente, deixadas para o próximo gestor, são mostras de que a infraestrutura urbana e sanitária de Macapá ainda é muito politiqueira e emergencial.

           Caberá ao novo Prefeito eleito, se quiser frear os óbitos pelas doenças diarreicas e transmissíveis, primar por uma gestão municipal mais voltada para a prevenção, atenção básica, vigilância sanitária e saneamento básico. JARBAS ATAÍDE, 24.12.2020. Véspera de Natal.

   

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