A JORNADA DE UM CABOCLO: TRAJETÓRIA DE 35 ANOS NA SAÚDE
DR. JARBAS DE ATAÍDE
Quebrando um pouco a rotina, vamos iniciar 2021 com reflexão da trajetória pessoal de 35 anos no Amapá. Muitos começam a contar a partir da graduação e a formação acadêmica. Eu começo antes, ainda na infância humilde, na pacata Curuçá, nordeste do Pará, minha terra natal. A origem cabocla e ribeirinha, me incentivou a valorizar o berço, o exemplo e estudo, mostrado por meus pais e irmãos.
Depois veio a fase de cidade grande, na metrópole Belém, morando na periferia, numa adolescência difícil, mas sempre refletindo os exemplos da família. Meu pai concluiu seu 2º grau como Professor e logo passou na Faculdade de Direito-UFPa. Foi meu grande norte. Queria obter o grau de Advogado.
Na década de 70, já terminando o 2º grau, perdi meu pai aos 19 anos. Grande abalo familiar. Ele não concluiu o curso de Direito e eu estudava para o Vestibular. Após o insucesso de 1979, finalmente passei em Medicina/UFPa em 1980. Começou outra batalha, que era cursar a faculdade com poucos recursos e livros caros.
Vários degraus já ultrapassados. Agora era sair para luta. Consegui uma bolsa trabalho, por 4 anos, na UFPa. Atuei na Santa Casa de Misericórdia como Auxiliar administrativo e em 1985 foi admitido como servidor efetivo. Após a conclusão fui prestar o serviço militar, já como Médico, indo para o Oiapoque ( Vila Militar de Clevelândia do Norte), onde cheguei em 29.03.1986.
Dos porões da Santa Casa para a fronteira Brasil/Guiana Francesa,Outro grande salto. Como Ten. Med. do Exército-EB, tive contato com a realidade das fronteiras, onde servi ao Brasil com bravura, atendendo militar, índio, civil, estrangeiro, sem distinção. Foi uma verdadeira “Residência Médica”, onde os preceptores foram os livros. Quase no final fui infectado pela Malária.
Após a baixa do EB, veio um salto maior: seguir para Macapá. Saí da fronteira para a periferia, indo morar no recente Congós. Cheguei no antigo Território do Amapá em 30.01.1987, iniciando na SEGUP-AP, no Deptº de Polícia Técnica-POLITEC, como Médico Legista, e, em 1988, como Médico da SESA. Com a criação do Estado, em 1988, passei a integrar o quadro Policial e Médico no Hospital São Camilo.
No final de 80 e início de 1990, houve um intenso engajamento na política partidária, atividades sóciocomunitária, literária, pastoral, entidades de classe e atuação na Medicina Natural (IEPA). Em seguida começou a fase das pós-graduações: Epidemiologia (2000) Plantas Medicinais (2006), Ciências Forenses (2008) e mais recente (2017) Medicina de Trafego. Uma formação eclética que abriu muitos caminhos.
Em 2005 ingressei, como concursado, no quadro efetivo da saúde Estado. Parte dessa jornada foi concluída agora, em 03.12.2020, com minha aposentadoria federal na POLITEC, onde fui Diretor-Presidente em 1995 e 2002. Foram 35 anos de serviço auxiliar da justiça, atuando como Perito Médico Legista.
O Amapá abriu as portas para o caboclo paraense e eu dei o meu coração. Pisei firme nas terras tucujus e aqui fixei raízes profundas. Casei com a amapaense Marcia Ataíde, ribeirinha do Oiapoque, com quem tenho 5 filhos e uma união de 34 anos. Dediquei toda minha vida profissional, cultural, literária e espiritual ao Amapá.
Muitas lembranças e recordações fluem na mente, impossíveis de contar num artigo tão pequeno. Muito foi contado nas páginas dos jornais: Fronteira, O Dia, Folha do Amapá, Diário do Amapá, O Ponteiro, e agora no Tribuna Amapaense (tribuna.amapaense@gmail.com). Poesias, crônicas, artigos, permeiam toda essa intensa vivencia, que incorpora sonhos, projetos, dor, esperança e a crença de poder continuar a servir ao povo, através de uma Medicina democrática, humanística e social. (Jarbas Ataíde. 03.01.2020. Aposentadoria da POLITEC)
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