Pazuello se soma a Mandetta e Teich, que caíram na pandemia
Conflitos com Bolsonaro em razão de cloroquina, isolamento social e ritmo na vacinação motivaram trocas
A condução da crise sanitária fez com o que o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello se juntasse aos médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich na lista de ministros da Saúde que ocuparam a pasta durante o governo de Jair Bolsonaro. Foram três exonerações em menos de um ano.
O primeiro esteve desde o primeiro dia da gestão Jair Bolsonaro e informou que sairia em 16 de abril em meio a embates públicos com o chefe pela condução política e técnica no enfrentamento à pandemia. Na coletiva de imprensa em que anunciou sua demissão, Mandetta disse que estava "cansado". Dias antes, afirmou que os brasileiros não sabiam se ouviam o ministro ou o presidente, o que criou um desconforto até mesmo entre os militares no governo, que defendiam a permanência dele.
Bolsonaro, já naquela época, criticava as medidas de distaciamento social, temendo um baque na economia e o consequente desgaste do seu governo, o que se concretizou. O presidente pregou durante a gestão de Mandetta o "isolamento vertical", ou seja, afastamento do convívio social somente para idosos e pessoas do chamado grupo de risco. A postura era contrária à adotada pelo até então ministro da Saúde, que recomendava a adoção das normas da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a contenção do coronavírus.
O presidente, então, escolheu o nome do oncologista Nelson Teich para o posto. O médico assumiu o cargo em 17 de abril e sua principal missão era equilibrar isolamento e economia. Não durou nem sequer um mês.
Em 15 de maio pediu demissão e a a principal razão foi a discordância do profissional de saúde com o presidente da República em relação ao medicamento hidroxicloroquina no tratamento de infectados.
Em uma de suas lives semanais, em 14 de maio, Bolsonaro disse que conversou com Teich para ele rever o protocolo de uso do medicamento, determinado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta à época apenas para pacientes em estado grave.
Teich, por sua vez, reforçava que faltavam dados científicos que comprovassem a eficácia do remédio. Ele chegou a dizer, inclusive, que só se basearia na ciência para defender qualquer tratamento, seja ele precoce ou avançado.
Estudos apresentados nos meses seguintes mostraram que o oncologista estava certo e que remédio não tem eficácia para pacientes em qualquer estágio de evolução da doença.
Era Pazuello
Com a saída de mais um ministro no auge da primeira onda da pandemia, coube ao general da ativa, Eduardo Pazuello, que havia sido nomeado secretário-executivo da pasta em 22 de abril, assumir interinamente o Ministério da Saúde.
Quatro meses depois, em 16 de setembro de 2020, assumiu oficialmente o cargo de titular. Em seu discurso de posse disse que a solução definitiva para a pandemia de coronavírus viria com a vacina e que medidas estavam sendo tomadas. "Os desafios são reais, enormes e muitos, mas sei que a Nação é mais forte que tudo isso, e trabalho integrado seguirá com muito esforço e foco para salvar vidas."
A primeira vacina chegou apenas em 17 janeiro de 2021, vinda do Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. A autarquia é ligada ao Governo de São Paulo, de João Doria (PSDB), inimigo político declarado do chefe de Pazuello, Jair Bolsonaro.
O ministro apostou todas as suas fichas no imunizante da AstraZeneca/Oxford e recusou três propostas de venda da Pfizer, a primeira feita em 15 de agosto, com 70 milhões de doses. Se tivesse aceito a oferta, a farmacêutica disse que em dezembro o Brasil já teria vacinas disponíveis.
Além da lentidão da imunização, com cronogramas sendo revisados para baixo, a gestão de Pazuello foi criticada devido ao colapso no sistema de abastecimento de oxigênio medicinal nos hospitais estaduais e federal de Manaus e distribuição de cloroquina em postos de saúde.
No fim de janeiro, o TCU (Tribunal de Contas do Município) determinou que o Ministério da Saúde explicasse a posição da pasta em relação ao uso de recursos do SUS na distribuição de cloroquina e hidroxicloroquina para tratar pacientes diagnosticados com covid-19.
Vale ressaltar que Pazuello é formalmente investigado em inquérito pedido pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e aberto por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre sua conduta na crise da saúde em Manaus.
Na semana passada, o ministro disse que o Brasil não entraria em colapso, mesmo com os números crescentes de ocupação em hospitais. A pressão, principalmente por vacinas, cresceu nos últimos dias e o Congresso, especialmente o centrão, que cobiça emplacar um nome de sua preferência na pasta, também passou a contestá-lo.
O governo trabalha para conseguir o mais rápido possível ampliar a quantidade de imunizantes, mas o País convive com recordes de mortos e infectados a cada dia, o que forçou prefeitos a tentarem comprar imunizantes por conta própria.
As falhas na gestão de Pazuello frente à pandemia passaram a respingar no governo federal, com queda de popularidade de Bolsonaro. Escudo do presidente durante a crise sanitária, as críticas contaminaram a imagem do presidente e comprometem seus planos para 2022. A avaliação dos ministros, inclusive os da ala militar, era de que a permanência do general da ativa no cargo prejudicava todo o governo.
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