AUTONOMIA E ÉTICA MEDICA: DE HIPÓCRATES AO CRISTIANISMO.
Por Jarbas de Ataíde
As discussões
atuais sobre a atuação da profissão medica é tema que, para muitos, parece
polêmico, extrapolando as questões da saúde. Todos dão conceitos sobre doenças,
tratamentos e condutas. Minha intenção não é polemizar, mas chamar a atenção de
que a ética e bioética são assuntos milenares e até bíblico.
Não se trata
de tema desconhecido, proibido ou polêmico, pois já existe literatura vasta,
estudos e periódicos nacionais e internacionais sobre o assunto. O Livro de
Eclesiástico -- “Honra o Médico, porque ele é necessário; foi Altíssimo quem o
criou. De Deus lhe vem a Sabedoria, e do rei recebe presentes” ( Eclo 38,1-2)--
enobrece e enaltece a ciência medica, como
sendo de origem divina.
Diante de
tanta celeuma, vem a pergunta: a quem
obedecer e dar satisfação? Às autoridades ou às leis vigentes? Às exortações
divinas? À sua consciência? Ao seu
Código de Ética?
Esses preceitos e princípios
milenares, existentes desde Hipócrates (460 a.C-377 d.C), foram reformulados
neste século. O termo Bioética foi criado em 1971 pelo oncologista americano Van
Rensselaer Potter II,com a seguinte definição: “é o estudo sistemático das
dimensões morais- incluindo visão, decisão e normas morais – das ciências da
vida e do cuidado à saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num
contexto multidisciplinar ”.
A ética
estuda o comportamento moral dos homens em sociedade. Seu objeto de atenção são
os atos humanos conscientes e voluntários que afetam outros indivíduos, grupos
sociais e até mesmo toda a sociedade. Dessa forma, a profissão Médica é regida
por esses princípios.
Assim, ambos os termos (ética e
moral) “se referem a duas qualidades especificamente humanas: o "modo de
ser" ou o "caráter" de cada um, no quais se baseiam os
"costumes" ou as "normas adquiridas".
Quando o Médico decide, juntamente
com seu paciente, por uma conduta ou tratamento, ele possuiu a independência,
conhecimento e autonomia para executá-la, devendo, para isso, acatar e seguir
vários princípios éticos e morais. A Bioética é ampla. Trata do direito dos
indivíduos à saúde e à assistência médica. Extrapola o fisiologismo, o
partidarismo e o senso ideológico dos que se dizem “inovadores”,
“revolucionários”, “renovadores”, “democráticos”, mas que desconhecem os
princípios éticos da profissão médica e os preceitos bioéticos, a saber:
1) o princípio da autonomia que
requer do médico o respeito à vontade, crenças e valores morais do paciente ou
de seu responsável, respeitando sua individualidade e intimidade; 2) o
princípio da beneficência que assegura o bem-estar das pessoas evitando-lhes
danos e atendimento dos seus interesses; 3) o princípio da não-maleficência que
prega sejam minorados ou evitados danos aos pacientes; 4) o princípio da
justiça, que exige equidade na distribuição de bens e benefícios tanto pela
medicina, quanto pelas demais profissões e o, 5) princípio da proporcionalidade
que procura o equilíbrio entre riscos e benefícios visando o menor mal e o
maior benefício às pessoas.
Muitos desses conceitos entram em
confronto com os relacionados à política, à legislação, ao planejamento e às
estruturas sanitárias, gerando controvérsias e até imposições inescrupulosas e
insensíveis. Nada deve substituir o calor humano, a compaixão e a iniciativa
“do fazer algo mais que o necessário”. É
nessa mesclagem de técnica e fé, de ciência e religião, de obrigação e
caridade, de ética e moral cristã, que se diferenciam os profissionais.
Nas comemorações da Semana do Médico
deveria prevalecer e destacar a palavra
dádiva (dom, aptidão), que inclui na profissão médica o que para os cristãos é
o mesmo que carisma, dom maior que está acima dos atributos técnicos, inclusive
superando a própria vocação. (Fonte: artigos TA, O Médico e sua Missão,
18.10.2009; Ética Médica e Bioética em Saúde, 25.09.2015). JARBAS ATAÍDE,
04.10.2021.
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