Desafios de mulheres negras migrantes é tema de livro
Obra é fruto da dissertação de mestrado de egressa do Mestrado em Estudos de Fronteira da Unifap
Sete trajetórias de vida de mulheres negras migrantes que adentraram as fronteiras da Amazônia franco-amapaense. Esse é o ponto de partida do livro “Atravessando fronteiras: mulheres negras migrantes no Amapá”, fruto da dissertação de mestrado da egressa do Programa de Pós-graduação em Estudos de Fronteira da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Lívia do Rosário, lançado este mês.
O livro traz a pesquisa de mestrado de Lívia, que investigou como se dá a questão de gênero e a construção da identidade da migrante negra em sua relação com a fronteira simbólica entre Amapá e Guiana Francesa.
“Meu interesse enquanto mestranda foram as fronteiras simbólicas e o entrecruzamento das categorias de gênero, raça, classe e nacionalidade. A pesquisa propôs duas perspectivas que influenciam nas relações estabelecidas na fronteira: a identidade e a alteridade. Tradicionalmente, a fronteira foi prioritariamente pensada no seu sentido geográfico, como linha divisória, entretanto, hoje as concepções de fronteira acentuam também sua importância na configuração das relações sociais que ocorrem no espaço fronteiriço”, explica Lívia.
Segundo a autora, o enfoque nas questões de gênero nas migrações internacionais possibilita questionar as visões universalistas do processo migratório, favorecendo as análises do perfil do migrante atual, dos contextos sociais nos quais se dá essa migração, assim como na formulação de políticas de migração.
“O gênero é analisado como um fator de subalternização que atravessa o movimento migratório e que, juntamente com outras condições como classe e etnia, configuram uma interseccionalidade entre os sujeitos desta pesquisa. Negros, mulheres, migrantes, representam vozes subalternas na construção do pensamento ocidental, que ganham lugar de fala no contexto pós-colonial. Essas três categorias podem ser articuladas através do conceito de interseccionalidade, assim, esse sujeito mulher-negra-migrante que engendra em si mesma múltiplas identidades e opressões é o objeto desta investigação. Habitando o limiar, essas mulheres perpassam fronteiras simbólicas e, através de suas histórias de vida, atendem ao chamado do movimento de mulheres negras: trazer a margem para o centro”, avalia a autora.
Sete mulheres migrantes, de origem do continente africano (Guadalupe, Guiné Bissau, Camarões, Angola e República Dominicana), foram entrevistadas para a pesquisa nos municípios de Macapá, Santana e Oiapoque e contaram aspectos das suas histórias de vida relacionadas com seus projetos migratórios. Lívia destacou que uma das surpresas nos depoimentos foi verificar que vir para o Amapá não estava no projeto inicial das entrevistadas, que acabaram incluindo o estado em seus processos migratórios.
Lívia ressalta também que o livro é uma contribuição para a construção de novos olhares sobre a questão da migração de mulheres negras e o papel da fronteira (geográfica ou simbólica) como lugar de discussão sobre questões sociais como o preconceito contra o migrante e o racismo.
“Diante da negação sistemática do racismo no Brasil, em um estado que enfrenta dificuldades para implementar a Lei 10.639/2003 que promove a história e cultura afro-brasileira, evidenciar as narrativas elencadas na pesquisa permite olhar a fronteira inclusive como campo de combate ao racismo e à limitação de pensamentos. Mulheres migrantes têm muito a contribuir na luta antirracista no Brasil, justamente por conseguir fazer com que o movimento negro e os promotores de políticas afirmativas tenham mais instrumentos para rever algumas apostas e posturas, mais instrumentos para pensar saídas”, afirmou a autora.
Quem tiver interesse em adquirir um exemplar do livro, pode contatar a autora pelo e-mail liviaverenac@gmail.com.
Sobre a autora - Lívia do Rosário é graduada em Licenciatura Letras Português/Espanhol pela Universidade do Estado do Amapá (Ueap) e bacharel em Relações Internacionais pela Unifap. Especialista no ensino de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola. Professora de Língua Espanhola no Governo do Estado do Amapá desde 2013 e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense (Poslit/UFF), atualmente pesquisando sobre a questão migratória, mais especificamente sobre a produção literária produzida por autoras negras.
Sobre o PPGEF - O Programa de Pós-graduação em Estudos de Fronteira, da Universidade Federal do Amapá, iniciou suas atividades em 2017 e tem a proposta de preparar seus discentes dando ênfase aos estudos fronteiriços em perspectiva multidisciplinar. Tem como área de concentração “Fronteira e Sociedade”, dividida em duas linhas de pesquisas: Estado, Fronteira e Políticas Públicas; e Cultura, Sociedade e Fronteira.
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