Rainha Elizabeth II morre aos 96 anos
MARIANA
STOCCO
08/09/2022 - 14:33
A Rainha Elizabeth II faleceu
aos 96 anos de idade. A monarca, que ocupou o trono britânico por mais de sete
décadas e foi uma das monarcas mais longevas da história, deve ser sucedida
pelo filho mais velho, o príncipe Charles, de 73 anos.
Na quinta-feira (8), o Palácio de
Buckingham emitiu um comunicado falando sobre o estado de saúde delicado da
monarca. Na ocasião, Membros da família real foram chamados para ir ao palácio
de Balmoral, na Escócia, residência de férias onde Elizabeth II estava há mais
de uma semana.
A história
Elizabeth Alexandra Mary, conhecida
a partir de 1952 como rainha Elizabeth II, nasceu em Londres, no dia 21 de
abril de 1926. Ele era filha de Albert Frederick Arthur George, o duque de
York, e de Lady Elizabeth Bowes-Lyon. Durante o nascimento de Elizabeth, o rei
do Reino Unido era Jorge V, e seu pai, o duque de York, era o segundo na linha
de sucessão ao trono inglês.
Elizabeth virou herdeira direta do
trono quando seu tio, Eduardo VIII, abdicou do trono para casar-se com uma
norte-americana divorciada chamada Wallis Simpson. Com isso, Elizabeth
tornou-se a herdeira imediata ao trono britânico. No entanto, como mencionado,
se seu pai tivesse um filho, este tomaria seu lugar na linha de sucessão.
Quando seu pai foi coroado rei do Reino Unido, Elizabeth tinha apenas 10 anos
de idade.
Elizabeth casou-se em 20 de novembro
de 1947 com Philip, príncipe da Grécia e da Dinamarca. Ele faleceu aos 99 anos
em 9 de abril de 2021. Ele foram casados por 73 anos.
Aos 25 anos, Elizabeth tornou-se
rainha do Reino Unido, no dia 6 de fevereiro de 1952, o dia que seu pai, Jorge
VI, faleceu. Neste ano, a Rainha completou 70 anos de reinado e se tornou o
primeiro monarca britânico a celebrar o Jubileu de Platina.
Desde a morte do marido, o príncipe
Philip a rainha vinha diminuindo o número de compromissos oficiais, que se
tornaram cada vez mais esparsos na agenda da soberana depois que ela teve
Covid-19 em 2022. No dia 2 de junho, ela deu íncio às festividades do jubileu
de platina, festejando seus 70 anos de reinado. Aguentou com garbo o primeiro
dia do aniversário especial, acompanhada por membros de sua família na varanda
do Palácio de Buckingham, mas, “indisposta” se ausentou da missa na Catedral de
São Pedro em sua homenagem.
A soberana já vinha apresentando
problemas de mobilidade, passando a andar com o auxílio de uma bengala. A
preocupação com sua saúde levou seus médicos a cortarem os drinques diários que
ela consumia, reduzir suas atividades e evitar que ela se estressasse, tarefa
cada vez mais difícil nos últimos tempos.
Conhecida por ser discreta e
rigorosa com na preservação da realeza, a rainha enfrentou duros golpes
recentemente. Além da perda do duque de Edimburgo, viu o filho favorito, o
príncipe Andrew, de 62, envolvido em um escândalo sexual. Acusado de manter
relações sexuais com uma adolescente de 17 anos em 2001, a quem teria
apresentado pelo pedófilo Jeffrey Epstein, Andrew fez uma acordo financeiro com
ela para o caso não ir adiante como processo criminoso e foi afastado das
funções na Família Real.
A monarca também viu o príncipe
Harry, filho mais novo de Charles e da princesa Diana, que morreu em 1997,
deixar a realeza com a mulher, Meghan Markle. O casal, bastante atacado pelos
tabloides britânicos, se mudou para os Estados Unidos, onde está criando os
filhos, e já deu várias entrevistas sobre a vida na Família Real, inclusive
acusando um de seus membros de racismo.
As duas crises não foram as
primeiras no longuíssimo reinado de Elizabeth II. Ela sofreu com os rumores
nunca confirmados sobre os problemas em seu casamento com Phlip; os escândalos
envolvendo a irmã, a princesa Margareth, nos anos 60 e 70; e a erosão do
casamento de Charles e Diana, marcada pela traição do futuro rei com Camilla
Parker-Bowles, que virou manchete dos jornais e foi explorado em detalhes em um
livro sobre sofrimento da princesa no casamento conto de fadas – uma
constrangedora conversa entre o príncipe e amante, na qual ele dizia que
‘queria ser um absorvente interno’ para viver em Camila.
Muito religiosa, a rainha, que era
chefe da Ingreja Anglicana, viu ainda Andrew e Sarah Ferguson se separando e a
única filha, a princesa Anne, pondo um fim na união com Mark Philips, que já
tinha tido um filho fora do casamento. Em 1992, em seu discurso anual, com os
problemas de três dos quatros filhos, mais um incêndio que destruiu parte do
Castelo de Windsor, desabafou em latim, em seu discurso anual: “annus
horribilis”, ou, em latim, um ano de eventos extremamemte ruins.
Fase pior só em 1997, quando Diana
morreu em um acidente de carro. A comoção popular, somada à reação na internet,
foi algo para o qual a realeza não estava preparada, e a rainha, que demorou
dias para se posicionar sobre a morte da ex-nora, viu sua popularidade
despencar. Não demorou tanto assim para Elizabeth II voltar a ser querida pelos
súditos – e respeitada até por aqueles contra a monarquia.
Figura principal em uma instituição
cuja validade é constantemente questionada, tanto politicamente quanto em
termos práticos de custos para os cofres do Reino Unido, a rainha recuperou a
confiança e popularidade usando suas grandes armas: paciência e tempo.
Com Charles ela planejou o futuro do príncipe William e Harry, de forma que o primeiro fosse preparado para assumir o trono e o segundo não sofresse com a síndrome do “segundo filho do rei”, aquele cujo maior papel é garantir que, caso o irmão mais velho não chegue a reinar por qualquer razão, a linha sucessória continue sendo direta – no caso os filhos de Charles e não os de Andrew. Manteve os filhos de Diana o mais isolados possível da imprensa, fez com que eles abraçassem desde cedo causas humanitárias. Aceitou Camilla, depois de anos de preparação para o papel, como mulher de Charles; começou a preparar a geração dos netos para garantir o futuro da monarquia.
LEGADO
Para muitos analistas, este talvez seja o verdadeiro legado de Elizabeth II: A
continuidade à monarquia no Reino Unido. A Família Real recebe do governo o
Soverign Grant (Subsídio Soberano), que já chegou a R$ 440 milhões em
2019-2020, e as críticas aos gastos públicos com a manutenção de toda a
estrutura real, financiada também pela renda privada da rinha, aumentam a cada
nova crise.
Elas já existiam quando Elizabeth,
então uma menina, viu o tio, Edward VIII, abrir mão do trono para se casar com
a americana Wallis Simpson, mais velha que ele e divorciada. O escândalo levou
seu irmão, o pai da rainha, George VI, a assumir o trono. Elizabeth II, assim
como sua mãe, nunca perdoou o tio por ter abdicado sem ter antecipado a George
que ele seria rei e preparado o nobre para ser rei.
Ao contrário do pai, desde os 10
anos, com a abdicação, ela passou a ser moldada para a função, tendo aulas com
tutores privados das melhores escolas do país. Durante a Segunda Guerra Mundial,
a Rainha Mãe Elizabeth se recusou a deixar Londres, e a futura rainha fez parte
do Serviço Territorial Auxiliar, onde treinou como motorista e mecânica, sendo
promovida a comandante júnior honorária. Também foi nomeada como parte do
Conselho de Estado do pai, caso algo acontecesse a ele.
Em 1953, já casada e mãe de dois
filhos, Elizabeth II foi coroada na Abadia de Westminster, em uma cerimônia
transmitida pela televisão. Ao contrário do próprio pai, que se chamava Albert,
não quis adotar um nome régio e avisou que iria reinar com o seu nome de
batismo.
No ano anterior, já tinha decidido
que a casa real continuaria sendo Casa de Windsor, o nome de sua família,
contrariando a tradição, que ditava que deveria mudar para o sobrenome do
marido.
Philip era príncipe da Grécia e
Dinamarca, mas foi expulso com a família do primeiro país quando a monarquia
foi derrubada em 1922. Militar, conheceu Elizabeth quando ela tinha 13 anos –
reza a lenda que a futura rainha se apaixonou na hora e aceitou o pedido de
casamento, em 1946, sem consultar os pais. Para que a união fosse adiante, ele
teve que renunciar seus títulos, se converteu da Igreja Ortodoxa Grega para o
anglicanismo, se afastou de parentes, inclusive as irmãs, que tivessem qualquer
forma de associação ao nazismo.
Ele também passou a usar o nome de
Philip Mountbatten, o sobrenome do lado inglês da família de sua mãe. O
sobrenome “Mountbatten-Windsor” acabou sendo adotado para os descendentes de
Philip e Elizabeth que não possuem títulos reais, como Archie e Lilibeth, os
filhos de Meghan e Harry, ou quando os que têm precisam por alguma razão usar
um sobrenome. Uma forma, dizem, de apaziguar o príncipe, que como consorte real
tinha papel bem menor que a esposa.
Com quatro filhos, Charles, Anne,
Andrew e Edward, e um cargo sem funções políticas de fato, a rainha viu nações
que faziam parte do Império Britânico, aquele onde o sol nunca se punha, se
tornarem independentes. Raramente se manifestava sobre acontecimentos mundiais,
mas criticou, com tato e discrição, algumas decisões dos primeiros-ministros
aos quais sobreviveu e movimentos políticos que testemunhou.
Visitou vítimas dos atentados
terrorista em Londres em 2005 e do show da cantora Ariana Grande em 2017, o que
não surpreendeu os súditos: ao longo de décadas de vida pública, Elizabeth II
foi patrona de centenas de instituições de caridade, com os mais diversos fins,
tendo uma agenda cheia de compromissos oficiais. Viajou o mundo inteiro e veio
ao Brasil em 1968 com o marido, passando por Recife, Salvador, Brasília, São
Paulo e Rio, onde viu um amistoso no Maracanã com Pelé, Gerson, Jairzinho e
Clodoaldo.
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