Para Bruno Zevi, “toda a gente pode desligar o rádio e abandonar os concertos, não gostar do cinema e do teatro e não ler um livro, mas ninguém pode fechar os olhos perante as construções que constituem o palco da vida citadina e trazem a marca do homem no campo e na sua paisagem”. Este pensamento do grande arquiteto italiano Bruno Zevi evidência o pensamento sobre a real necessidade de uma crítica que possibilite a real dimensão sobre o espaço edificado.
Segundo Ana Luiza Nobre “Escuta-se dizer com frequência: "não há crítica de arquitetura no Brasil". A afirmação, que se propaga nos salões de arquitetura com uma inocência tocante, traz consigo uma série de possibilidades de reflexão, em geral ignoradas ou postas de lado. Em primeiro lugar, ao fazer reverberar tal postulado, esvazia-se o problema nuclear que lhe dá sustento. A crítica nos falta – e falta mesmo – caberia antes de tudo perguntar se não se trata de buscar, justamente na falta, algum sentido. Talvez essa interrogação seja especialmente oportuna se examinarmos com cuidado a produção arquitetônica atual. Pois é suficiente que se fale da ausência de crítica de arquitetura sem que se localize o esgarçamento da presença da própria arquitetura na cena local contemporânea?”.
Para esta autora, “crítica é diálogo, não julgamento. E esse diálogo, longe de ser um discurso laudatório ou condenatório, só se estabelece verdadeiramente na sua relação com a obra de arte/obra de arquitetura. É importante as considerações de Ana Luiza Nobre quando se refere que afinal, falta crítica ou falta arquitetura? “Difícil chegar a uma resposta. Mas se com a psicanálise aprendemos que é difícil minimizar a dimensão – e a função ativa – da falta, temos aí talvez uma chave: poderíamos inverter a ordem inicial do problema e pensar em que medida a própria falta não só nos preenche como nos constitui. Seria interessante interrogar-nos acerca dessa ausência, estranhá-la, dela desconfiar. Não somos alheios ao que nos falta. Pelo contrário, nesse caso pode ser que aquilo mesmo que nos falta esteja preenchendo o nosso discurso, enquanto permanecemos incapazes de elaborá-lo”.
A produção atual em arquitetura no Brasil se alimenta da ausência de crítica seria reduzir o problema a apenas um dos seus fatores. Mas pode ser pertinente pensar em que medida nos convém nesse momento à recusa à investigação, ao questionamento. Ana Luiza Nobre sugere buscar a leitura em Lúcio Costa, o primeiro e mais irredutível crítico de arquitetura, para compreender o profundo comprometimento entre arquitetura e crítica. É importante pensar que Brasília, obra da concepção de Lúcio costa é um espaço protagonista para a própria crítica de arquitetura.
Ana Luiza Nobre reafirma que a arquitetura contemporânea deva se reportar a qualquer projeto ideológico. Mas não faltará um projeto à nossa arquitetura? Seja qual for à resposta, o que importa é que não há como sair dessa acomodação estagnante senão pela inquietação, pela dúvida. Por uma atitude crítica. A atitude crítica uma postura que por princípio não aceita as formulações dadas, mas as problematiza e interroga.
Para o grande arquiteto Bruno Zevi, saber ver arquitetura, “devemos, antes de mais, propor-nos a clareza do método, assim como não existe uma propaganda adequada para difundir a boa arquitetura, não existem também instrumentos eficazes para impedir a realização de edifícios horríveis. A censura funciona para os filmes e para a literatura, mas não para evitar escândalos urbanísticos e arquitetônicos, cujas consequências são bastante mais graves e mais prolongadas do que as da publicação de um romance pornográfico”.
Falta à crítica, ou a atividade do arquiteto e a atividade do crítico se fortalecem uma à outra, ou se enfraquecem mutuamente de acordo com Ana Luiza Nobre. A autora conclui lamentar a ausência da crítica é apontar para a insuficiência de uma atitude crítica na produção contemporânea, tanto teórica quanto projetual. Acrescenta o desafio para inquietar o pensamento. Afinal é dessa prática dúbia e sempre arriscada que se faz a crítica pertinente e necessária.
A formação do arquiteto necessita ainda mesclar de uma integrada valorização por parte de discentes e docentes a necessidade de uma atitude crítica, por uma arquitetura de qualidade e que valorize os atributos necessários afirmados por Zevi e Ana Luiza, afinal a arquitetura ainda é a maior referência cultural de identidade de um povo. Tudo influência a nossa vida cotidiana a partir de edificações bem projetadas e construídas adequadamente aos novos condicionantes da contemporaneidade.
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