sexta-feira, 22 de julho de 2011

De Tudo Um Pouco - Uma estória engraçada

Num encontro de fim de semana, meu filho e eu conversávamos sobre trivialidades do cotidiano como, violência urbana, invasão de terras alheias, sistema de saúde precário, insegurança pública, e por ai a fora ( como diz o Comandante ), quando de repente, ao passar o  olhar num jornal local deparou-se com a seguinte manchete – “ Dos 81 Senadores, apenas 8 não usaram verba indenizatória no 1º semestre “, de 2011, certamente.

Perplexo, perguntou-me – "Pai, que é verba indenizatória?". Como a pergunta fora feita de forma direta, levei alguns segundos para processá-la no meu computador cerebral e buscar a melhor resposta. –  Disse-lhe, então, em português bem compreensível para sua idade. – "é um dinheiro extra ( não confundir com hora extra ) que está a disposição do Senador, mensalmente, em mais ou menos R$ 15.000,00. para seus gastos pessoais no exercício do mandato, mas que não está escrito na Constituição Federal e sim nos regulamentos internos do Senado".

Confesso que fiquei na dúvida de o haver convencido da resposta. De pronto, argumentou : - “ mas o Senador não recebe R$ 26.700,00 por mês de salário, isto é, não é mensalista como todo trabalhador que recebe salário mínimo, por exemplo?”. Aí a coisa pegou. Como explicar ou melhor justificar  que essa verba adicional só algumas classes especiais têm (verbo ter) esse privilégio ( não confundir com direito de ter ). De xofre contrargumentou: -“ que classes são essas pai?”. Respondi-lhe : - “ As do Poder Legislativo, guardadas a proporcionalidade de cada uma – federal, estadual, distrital (DF)  e municipal “. Achei que o havia convencido.

Ledo engano. Como todo jovem de sua idade, instigou-me a explicar-lhe o porque dessa anomalia, isto é, se tem salário mensal, por que tem essa tal de verba indenizatória. Aí então tive (verbo ter)  de descer a detalhes, sem antes invocar meu guia espiritual (o JC). Iniciei assim : “ 1(mostrei-lhe um dedo) – verba indenizatória não tem caráter (de semelhança) salarial, não incide imposto de renda e nem previdência social, e também não é salário “ in natura” (não se incorpora ao salário base); 2 (mostrei-lhe dois dedos) – “ quem o privilégio dessa verba gasta por conta dela e depois apresenta os documentos do gasto à fonte rembolsadeira, que lhes devolve  o montante gasto e é contabilizado como “despesa” do Senado “, entendeu?

 - "Mais ou menos", respondeu, e acrescentou – "quer dizer que o salário (se é salário?) permanece integral, limpinho da silva (com todo respeito aos Silva, inclusive eu)?". "Sim", confirmei e complementei – “ essa verba é para o Senador gastar com sua locomoção ao lugar do efetivo exercício de suas atividades parlamentares – a base eleitoral ou Estado representado, serve para comunicar-se (sentido amplo) com seus eleitores e correligionários, autoridades,.... e outras coisas mais, porque o Senado é onde eles discursam, xingam-se, as vezes nem lá vão, ausentam-se das plenárias quando o assunto não é do seu interesse, é onde são empregados seus parentes e parentes de seus amigos (roguei ao anjo espiritual que o meu filho não perguntasse se era nepotismo), onde também fazem leis que beneficiam o povo brasileiro mais carente ou menos carente, de proteção ao colarinho branco ou de certas e determinadas castas. "Enfim, é tudo isso e mais", concluí, satisfeito pela aula de decoreba.

Comigo mesmo, pensei que a conversa tinha chegado ao fim. Respirei aliviado e, para minha surpresa, de solapão, perguntou-me – "e os outros poderes da Federação – a Câmara dos Deputados, as Assembléias Legislativas, a Câmara Distrital / DF, as Câmaras Municipais, o Poder Judiciário, o Poder Executivo, os Tribunais de Contas, a/as....  e o/os ...."?

- Depois de ouvi-lo citar a extensa lista, disse-lhe a modo de despedida do assunto – "Filho, cada um desses órgãos citados e dos que não o foram, serão objeto de outras estórias".

Passado algum tempo, refleti sobre a situação, tentando avaliar o poder da comunicação e da extensão que uma simples manchete pode causar de efeito na mente da juventude, por que é ela a principal fonte e foco do conhecimento que a História haverá de registrar  para o futuro desta e das novas gerações, até que um dia, quem sabe, o TRABALHADOR que ganha salário mínimo tenha também o privilégio de poder ser reembolsado de despesas que fizer em benefício de sua família, sem comprometer o seu salário mínimo.

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