sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Amazônia: Os motivos da escrita: abstrações, transformações, ligações

            Para que escrevemos tanto? Para quem? Quem lê? Quem nos acompanha? O silêncio das palavras representa algo? No mundo das opiniões onde estamos situados? Há aqueles que dizem ser essa uma tendência de nossos tempos: a possibilidade de opinarmos livremente, tendo a nosso favor veículos democráticos, tendo um cenário vasto e muitas vezes não claramente definido de leitores. Nesse desconhecimento não sabemos com certa clareza quais as opiniões dos leitores, como se desenvolve a receptividade de certas idéias, como são utilizados esse conjuntos de textos, imagens, áudio, filmes, dentre outros meios de recorte do nosso tempo.
            Quem lê tanta noticias, de tantos mundos, de tantas formas diferentes? Já recebi respostas de pessoas que justificavam a não leitura por serem velhos e não terem tempo para ler. Certamente há aqueles que já não se surpreendem com nada. Com nada ou sobre nada se incomodam; o mundo passa em suas formas e sentidos e estão lá, marcando o velho posto a serviço de coisa alguma que valha ser mencionada posto que o sentido é vazio. Ainda se morre hoje pelas idéias? Quem tramaria tal desatino, diriam alguns outros? O grande laboratório da sala-de-aula me permite observar certos movimentos das partes sociais. Idéias e opiniões pululam como se tivessem vida própria. E há tanta ingenuidade e arrogância nas salas das escolas e faculdades. Dia após dia, discursos que são tão previsíveis. Falas contagiadas de inumeráveis vícios. A fala do professor não foge desse contexto. Quais são os motivos de todos os dias? Por que alunos e professores estão ali? Por que políticos e servidores estão nos seus postos? Por que nos contagiamos por querer debater e mudar, ou fazer permanecer? Se há perguntas em demasia, existem respostas em quantidade! A pedagogia da motivação e do diálogo (essa eu proclamo!), nosso desafio cotidiano. Falham nossos argumentos quando nem mesmo a abstração consegue ter efeito. Da vida real, com suas coisas reais nem menciono, justo porque estariam ali, a queima roupa, coisas óbvias demais para gerarmos polêmica, os olhos vêem. Mas o que acontece com a relação entre o mundo das abstrações e as pessoas; e digo melhor, entre as imagens da abstração e os estudantes, os privilegiados ao ato de pensar? O que acontece com os privilegiados da leitura?
            O exercício do pensamento, é sobre isso que estou tratando aqui. Supomos hoje que aqueles que fazem os mais diversos meios de divulgação do pensamento sejam pessoas atentas e ativas no propósito de construção de um mundo melhor. Vamos mais uma vez supor que esse mesmo contingente seja aquele que constrói idéias, forma opinião, movimenta valores, possibilitam as circulações possíveis; essas pessoas hoje podem ser merecedoras de crédito? Os motivos para tanto se falar, tanto opinar, certamente, estão situados num contexto de inquietações, de incômodos, de vislumbres que não são nada vencidos diante do massacrante cotidiano.
            Motivar-se para a escrita cotidiana, semanal, esse é o ensejo que persegue esse escriba que busca merecer o caminho da humildade. Os motivos não são somente tocados no campo dos temas, mas da disposição, do refinamento daquilo que move como certo compromisso inadiável. Alguma sintonia que nos toca como algo de mesma raiz da realização, da boa energia do combate de argumentos e ações, dos companheirismos conquistados, das criticas que podem ser acréscimos (seja como são apresentadas); os mesmos motivos para querer acordar todos os dias. A consciência que pensa e quer ligar-se a outras maneiras de pensar, a outras abstrações e recortes de mundos. A extensão do pensamento é outro pensamento, não o isolamento, mas as complementaridades, as sinapses sociais, coletivas, comunitárias, grupais, de horda, de tribo. Mas precisamos saber que as consciências transitam nas suas individualidades pungentes, querendo reconhecer o mundo, tendo às vezes a limite de pendência dos olhos que vêem ou se deixam cegar, mas que circulam pelas vias da existência, das ruas, dos propósitos. Motivos existem, palavras a mão cheia! Ainda não fechamos as idéias sobre esse ponto...

Msc. Luciano Magnus de Araújo
Antropólogo, professor do curso de Ciências Sociais, UNIFAP


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