quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Corredor Transfronteiriço das cidades entre o Amapá e a Guiana Francesa

 
Autor: José Alberto Tostes

             A Ponte Binacional que separa o estado do Amapá da Guiana Francesa está praticamente concluída, este é um novo marco histórico para ambas as regiões. Nestes últimos cinco anos tenho realizado uma ampla missão que começou com o trabalho dos Planos Diretores. No mês de março  de 2011, a Universidade Federal do Amapá e a Agência Regional de Urbanismo (ARUAG) firmaram um acordo de cooperação técnica, acadêmica e científica para o desenvolvimento do projeto: Corredor Transfronteiriço entre as cidades do Amapá e da Guiana Francesa.
          Após a visita à Macapá da representante da Agência da Guiana ficou acertado um encontro de trabalho na cidade de Caiena para tratar de detalhes sobre as estratégias de cooperação transfronteiriça entre o Amapá e a Guiana, já existem diversos trabalhos produzidos por pesquisadores brasileiros e franceses que são os seguintes: Relações de trabalho; migração na fronteira; Contestado franco brasileiro; questões indígenas; atividades auríferas; conotações linguísticas; pesquisas e publicações de trabalhos antropológicos, porém é evidente que há uma necessidade de conhecermos as cidades do Amapá e da Guiana.
      Havia uma certeza de que a viagem para Caiena tinha que ser pela estrada, era necessário o conhecimento sobre a paisagem, os lugares, as peculiaridades, pontos de apoio existente no trecho, e principalmente as características das cidades guianenses. Nosso primeiro ponto de parada foi na cidade de Saint George, fronteira com a cidade de Oiapoque. Esta viagem ocorreu em abril deste anos o que proporcionou um convite para ir à França para tratar de assuntos relativos ao desenvolvimento da pesquisa.
                                          Fonte: José Alberto Tostes (Cidadede Caiena).
                                          Fonte: José Alberto Tostes (Cidadede Caiena).
                                             Fonte: José Alberto Tostes (Cidadede Caiena).
                                          Fonte: José Alberto Tostes (Cidadede Caiena).]

            Quem chega à cidade de Saint George se depara logo com as obras complementares que estão sendo realizadas com a finalidade de dotar todos os serviços necessários: Policiamento de fronteira, Aduana e todos aqueles setores considerados primordiais para a manutenção do estado legal na região, especula-se de que a cidade de Saint George terá uma nova cidade, da cabeceira da ponte até o núcleo urbano atual são 5 km. Estas obras que estão ocorrendo em Saint George deveriam em tese estar acontecendo do lado brasileiro, porém a única movimentação no lado do Oiapoque é a própria construção da ponte.
           Do trajeto de Saint George até a cidade de Caiena, há duas cidades. As cidades da Guiana são pequenas como as cidades amapaenses, a única cidade acima de 50 mil habitantes é Caiena. A estrada até Caiena é extremamente sinuosa, muito trechos são perigosos e exige todo o cuidado necessário para o condutor, deve-se evitar nesta estrada dirigir à noite, existe alta neblina prejudicando sensivelmente a visibilidade. A estrada ainda não possui nenhum ponto de apoio nos 215 km até Caiena.
              Na cidade de Caiena, há um significativo movimento de trânsito e um bom número de veículos. O transporte público é considerado deficiente para atender a um segmento da população, Macapá, apesar da precariedade deste tipo de transporte apresenta vantagem,  há um sistema regular de veículos ao longo do dia. É na região de Montjoly que se concentram investimentos habitacionais acima da média na Guiana, com uma diversidade de edificações. Sobre as edificações ressalta-se o uso de telhas de alumínio na quase totalidade das edificações o que prejudica sensivelmente as condições térmicas nas edificações e na própria cidade.
            As vias públicas na cidade de Caiena são estreitas, bem sinalizadas e há um sistema mais planificado, Macapá tem vias públicas largas, mas pouca mobilidade. Entre Macapá e Caiena há semelhanças quanto ao aspecto de acessibilidade, não há ciclovias e reduzida disponibilidade de passeio público. A cidade tem uma paisagem em alguns pontos que lembram as áreas de morro do Rio de Janeiro, entretanto sem nenhum tipo de ocupação humana.
            O núcleo antigo da cidade de Caiena, assim como Macapá não possui nenhuma arborização, um dos problemas mais graves é a falta de estacionamento público. O que se percebe em algumas cidades da Guiana Francesa é nitidamente maior participação do estado na infraestrutura urbana e social, são pequenas cidades, mas que apresentam requisitos básicos de funcionamento como saúde, educação, ordenação urbanística, acesso ao sistema de abastecimento de água e de energia, como fator adverso o sistema de transporte. É preciso ressaltar que poucas cidades do Amapá possuem sistema de transporte coletivo interno.
           Nos arredores de Caiena existem inúmeras ocupações urbanas irregulares, são invasores, clandestinos de diversas nacionalidades entre elas, inúmeros brasileiros. Há uma geografia do medo que cerca o cenário destes lugares, são bem escondidos, de 10 a 15 km de distância da próxima pista, não tem nenhum tipo de infraestrutura e são cercados de telhas de alumínio que formam um grande cercado de proteção, ao longo de todo este trajeto para estas áreas, chama atenção o  grande número de lixeiras isoladas de produtos orgânicos e industrializados.
          Com a possibilidade de ampliar as pesquisas sobre as cidades amapaenses e guianenses, fica evidente que muitos mitos serão quebrados de que há uma infinita superioridade da Guiana sobre o Amapá. É mais evidente a participação do poder público nas cidades da Guiana, enquanto no Amapá, nossas cidades vão convivendo com enchentes, invasões, assaltos, lixeira pública em locais inadequados e desestruturação urbana.
          A Ponte Binacional está concluída, mas as condições atuais da cidade de Oiapoque são de desanimar, nesta cidade são obras abandonadas, águas servidas nas vias públicas, à noite tudo fica na penumbra e o índice de invasões vem aumentando. Fica a reflexão, a quem interessa de fato a cooperação binacional? Realizar cooperação binacional não se faz apenas com a ligação de uma ponte, mas com planejamento, organização e eficiência na gestão pública. Oiapoque está quase no CTI, neste momento, a única atração da cidade parece ser a própria ponte que desponta na paisagem do cenário pela imponência de sua grandeza

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