domingo, 16 de outubro de 2011

Outro lado do Atlântico
 J. A. Tostes
Estou na cidade do Porto em Portugal, participando de outra etapa de estágio de pós-doutorado junto a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A cidade do Porto tem uma forte referência na produção do vinho do Porto, as adegas são atrações turísticas, há muito tempo os ingleses compraram o direito de explorar a venda deste famoso vinho em todo o mundo. No Porto assim como em outras cidades europeias é grande o fluxo de estrangeiros de todas as partes do continente europeu, é muito mais presente se ouvir nos locais turísticos as línguas espanhola, inglesa, alemã e francesa, do que propriamente a língua portuguesa, até os garçons por força da necessidade se comunicam mais em uma destas línguas citadas.
Paralelo ao desenvolvimento do trabalho do estágio de pós-doutorado  tive a oportunidade de visitar vários pontos da cidade do Porto. A presença brasileira é intensa, há um grande número de trabalhadores. Os brasileiros estão em qualquer parte da cidade, trabalhando ou na condição de turistas. O sentimento dos portugueses sobre isso se contrasta de indiferença e desconfiança. Os governantes em Portugal estão preocupados com a crise que afeta a Europa, principalmente a Grécia. Portugal está diante de um cenário de dificuldades econômicas e sociais.
No dia 04 de outubro tive que ir ao Consulado Brasileiro, não é uma tarefa fácil para quem vive na Europa, são distribuídas apenas 50 senhas por dia, a fila é enorme, é preciso chegar cedo para carimbar um simples documento de reconhecimento, dez dias é o prazo dado, um absurdo! Se o cidadão perder o passaporte será um “desastre”, é preciso muito cuidado e evitar este tipo de transtorno, implica em ter que suportar determinada situação na qual muitos não estão preparados. Cada brasileiro tem uma história peculiar em Portugal muitos acreditam que apesar da crise, ainda é melhor que no Brasil.
A economia europeia facilitou a ideia de um bloco econômico unido, porém trouxe outros problemas de operacionalidade. A unificação trouxe a moeda única, mas não resolveu problema comum das interações na fronteira. O problema está relacionado às regiões de transição entre Portugal e Espanha. Segundo vários especialistas portugueses, há um claro conflito cultural entre estas regiões. Os portugueses estão convictos de que processo de cooperação cultural e científica entre Brasil e Portugal deve ser estimulado e incentivado em todas as regiões, e não somente com o eixo Rio-São Paulo.
Como estudioso da área de Planejamento Urbano, tenho tido a oportunidade de perceber em várias cidades portuguesas pontos importantes para pensar nossas cidades. De positivo: o elevado número de pessoas idosas que estão em plena atividade, ocupando vários postos de trabalho; as condições de acessibilidade e mobilidade urbana entre bairros, cidades, é um modelo baseado no transporte ferroviário bastante prático.
As cidades estão separadas em média de 20 a 400 km de Lisboa, para o sul ou para o norte do país. O maior exemplo é o trecho entre Lisboa e Porto, com menos de quatro horas. O lado negativo é o elevado índice de fumantes, impressiona a qualquer pessoa, o público de adolescentes aos idosos, apesar da proibição de fumar em locais públicos, o não fumante padece na via pública.
A mobilidade urbana é fundamental para qualquer cidade em qualquer lugar do mundo. Percebe-se que a população é mais presente e responsável pela cobrança de investimentos públicos. Nas paradas de ônibus, há um cronômetro com o tempo de chegada de cada linha de transporte coletivo. Os investimentos em obras estruturais nos levam a pensar o caso de cidades brasileiras de obras pontuais e eleitoreiras. Portugal ainda padece dos grandes investimentos realizados em estádios de futebol para a Eurocopa de 2004, lembra o Brasil para o futuro a construção de estádios em estados que não tem tradição e nem condições para tal.
A informação ao usuário é indispensável, isso melhora a qualidade de vida urbana e diminui o stress provocado pela falta de orientação de todo o sistema de transporte coletivo. Porém, como todo processo de transição econômica e social, as cidades portuguesas padecem do processo da presença de inúmeros migrantes, do Brasil, da Europa, da África e principalmente do leste europeu. Isso tem provocado mudanças no mercado de trabalho. Para os especialistas portugueses, esse é um momento de recessão no país.
Para concluir a necessidade de pensar e refletir as interações globalizadas no mundo. As interações e identidades regionais é algo que precisa ser discutido em toda a Europa, principalmente em áreas de fronteira. Os países europeus mais ricos precisam atuar de forma mais integrada em várias frentes, não é somente o chamado terceiro mundo que deve ser visto sob  olhar de desconfiança.
 Torna-se necessário que a globalização seja algo mais sistêmico e democrático. É preciso que os reais benefícios de todo este processo possam alcançar a todos os continentes, contraditoriamente os governantes da Europa devem visualizar o próprio “umbigo”, gerar soluções possíveis contra as mazelas internas e não apenas vislumbrar, nos ditos países do terceiro mundo, o usufruto de matéria prima e mão de obra barata.  Outro lado do Atlântico tem coisas boas e ruins, o futuro para muitos parece sombrio, Portugal está no meio de um “furacão”, obrigado a fazer cortes duros nas áreas de educação, saúde e vários outros programas sociais que sempre foram a referência do Velho Mundo.

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