sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Divisões Territoriais na Amazônia


Após a recusa do desmembramento do Pará, o ex-Deputado Federal Antônio Feijão, um dos precursores em projetos para a criação de territórios, fala sobre as inúmeras propostas de novas federações para a Amazônia.



De John Pacheco
Da Reportagem\Estagiário

O pleito que propôs uma possível divisão do Estado do Pará, foi apenas um dos muitos projetos para a criação de novas federações e territórios na Amazônia. O principal objetivo seria o desenvolvimento da região, descentralizando o poder,  os recursos e até fundação de novas bases políticas. Nas urnas não foi aceito, mas a necessidade de progresso na Região Norte, culmina na proposta de novos projetos para a criação desses estados em todo o seu território.


Para o geólogo e ex-Deputado Federal, Antônio Feijão, que já teve projeto para a criação de um novo Território Federal na região da Ilha de Marajó, antes de qualquer intenção de interferir na atual composição da Amazônia, “ela tem que ser constituída primeiramente como Brasil, pois enquanto a tratarmos como floresta nós estaremos sempre cometendo o erro de separá-la do Brasil. Porque se faz um projeto para o país, e não se faz um projeto para a Amazônia, se pensa no Brasil e não no povo que mora aqui”.
     
Tapajós e Carajás, por que não deu certo?
O plebiscito, votado no último dia 10, para o desmembramento de algumas regiões do Estado do Pará, para a composição de dois novos estados, Tapajós e Carajás, foi recusado pela população em uma votação em que o “não” à divisão foi escolhido por 66% dos eleitores. Para Feijão, foi um péssimo negócio para o Pará não aderir ao desmembramento, mas em contrapartida, não se pode culpar totalmente a população paraense, já que o Pará sempre foi um território de grandezas desde a época da cabanagem.

O equívoco partiu daqueles que propuseram o plebiscito, eles que cometeram erros por precipitação, explica Feijão “Quando as populações de Santarém, de Itaituba e os demais municípios, da região que corresponderia ao Tapajós começaram essa luta de separação, no Brasil, o Centro-Sul e o Governo Federal começaram a perceber que esse era um movimento que ia ganhar força. Depois as cidades de Marabá, Paraupebas e a parte sul do Pará começaram a se manifestar também, então o primeiro erro estratégico foi cairmos no laço das organizações do sul e sudeste e do Governo federal em apresentar, simultaneamente, dois plebiscitos, esse foi o primeiro erro. Então, houve um erro estratégico do momento onde se pôr o pleito do Tapajós e do Carajás”.

Outro erro, descrito por Feijão, foi a tentativa de deixar o estado remanescente o menor de todos ”Como é que um estado que viveu a vida toda como Grão-Pará de repente vai ficar o Menor Pará”. Um erro estratégico, que foi um dos pilares para a recusa de Tapajós e Carajás, foi incluir em seus possíveis domínios, municípios que não gostariam de se desmembrar do Pará, alguns por relações históricas. Feijão dá o exemplo da cidade de Altamira; “antigamente para se chegar a Santarém, via fluvial, teria que seguir rio acima, enquanto para Belém era apenas ir rio abaixo. E desde a sua fundação, Belém sempre teve boa relação com Altamira, e para a cidade essa relação com a capital a deixaria como a segunda principal cidade do interior”.

Divisão social do Pará
Quem propôs o plebiscito fez somente agredir Belém, e as urnas mostraram o resultado ”e mesmo que ele não acontecesse, este plebiscito já separou o Pará, esse estado nunca mais será o mesmo. Quando em Belém, o Governador Simão Jatene comemorava em cima de trios elétricos o resultado da votação, em Marabá e Santarém, se constituíam três dias de luto oficial. Portanto. o Pará tem a pior das separações, que é aquela onde as fronteiras são delimitadas pelo ódio e pela cisma. Esse foi o problema mais grave que esse plebiscito trouxe para o povo paraense. O governador se envolveu fortemente e não deveria ter feito isso, pois recebia os impostos de todos os paraenses”, afirma Feijão.

Em 1995, então Deputado Federal, Antônio Feijão criou um projeto para a criação do Território Federal do Marajó, esse teria dois deputados federais, teria uma verba própria que seria aplicada nos 16 municípios que compõe a região, mas segundo ele, “novamente os paraenses trabalharam e mataram o projeto ainda nas comissões. Ninguém administra um estado do tamanho do Pará, para se ter uma idéia, o Amapá tem 143.000 km2,  e o Pará tem nove vezes o nosso tamanho, quem tem condições de governar um estado com essas dimensões territoriais todas? Portanto só a história vai definir verdadeiramente a escolha e as implicações dessa escolha e o que irão influir nos paraenses”, explica.

Território Federal do Oiapoque
Uma das tantas propostas para criação de novos Territórios Federais está o Oiapoque, em posição estratégica, à beira da Europa. Sobre este território, Feijão idealiza um local utópico “seria um local que nós chamaríamos de Mônaco da Amazônia, porque já temos as reservas indígenas, a Floresta estadual do Amapá, o Cabo Orange, parte do Parque do Tumucumaque e aí sobrariam apenas 14 km2. Se nós queremos um território para gestão, é melhor criarmos uma lei complementar criando uma lei de desenvolvimento federal específico para essa zona de fronteira. Então, criar um território hoje é isolar ele do estado do Amapá, isso é um risco! Mesmo assim, o povo do Oiapoque foi quem fez a cidade sozinho”

Um dos motivos desse isolamento  do Oiapoque para Feijão, é a falta de prioridade dos governantes em relação ao local “o governador Camilo vai ter em 2012 um orçamento de quase 4 Bi, se ele tirar 60 milhões e colocar lá, ninguém vai falar em território federal, por que a união não vai investir isso no Oiapoque. Mais por que ele não faz? Por que não dá prioridade, ninguém deu prioridade. Portanto a cidade precisa não de um novo CNPJ federativo, precisa de um governador que dê a atenção que ele merece”, afirma. E esse dinheiro seria  suficiente para atender o que uma cidade estratégica como o Oiapoque precisa, como saneamento básico, dar o caráter europeu, o melhoramento do turismo e facilitaria a criação  de micros e pequenas empresas.

Amazonas e Maranhão
No maior estado do Brasil, a desigualdade do poder é ainda mais acentuada, pois o que culminou com isolamento na região da Amazônia Ocidental, foi a criação da Zona Franca. No princípio esse foi um projeto que foi com a intenção de promover a migração para o Estado, que na época não tinha nada que o qualificasse para a implantação de um pólo tecnológico. Os migrantes vieram, só que também  veio para Manaus, a população indígena e os amazonenses do campo. E isso foi ao contrário da meta inicial dos militares na construção da Zona Franca, que também era o fortalecimento das fronteiras. Para Feijão, os territórios que fossem colocados nas fronteiras nem precisariam de plebiscito, deveriam ser resolvidos diretamente no Senado Federal. 

Perguntado se havia uma área na Amazônia que precisasse de uma nova composição, Feijão foi direto ao caso do Maranhão. Ele explica “Hoje quem mais precisa dessa divisão é o Maranhão, pois é um estado que tem uma assimetria cultural entre a sociedade de São Luis, que tem uma história, e a do centro-sul do estado, que têm outra história. Então, Imperatriz seria uma boa capital para o Maranhão do Sul e o povo de São Luis aderiria, com muito gosto, já que nenhum dos dois deixaria de ser Maranhão, e seria uma decisão muito acertada para o momento oportuno, que foi essa infelicidade da divisão do Pará”, finaliza.




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