“A juventude é um estado de espírito. Por isso me sinto jovem!”
Iranilde dos Santos Ribeiro
Abinoan Santiago
Da Reportagem
A
editoria “Sobrevivente” conta a história de uma professora que com certeza já foi
chamada de “Tia” por muitos alunos. Mas que hoje em dia essa forma carinhosa
passa longe dela, pois com o seu espírito jovem nos faz acreditar que ainda não
passou dos 20 anos de idade. A história registrada dessa semana é a da segunda
dos três filhos do casal de pecuaristas, Odorico Albano Ribeiro e Menervina
Coelho Ribeiro. Iranilde dos Santos
Ribeiro, 64, nascida no baixo Araguari (Cutias do Araguari) no dia 07 de
Janeiro de 1947. Viúva há 17 anos de Giovanni Távora da Silva, mãe de 5 filhos e
avó de 5 netos.
Juventude
Iranilde
veio com sua família para a capital com apenas 2 anos de idade devido a mudança
de emprego do pai, pois o mesmo passou a trabalhar para o Governo do então
Território Federal do Amapá.
Com o
término do casamento de seus pais, Iranilde conta como começaram a conseguir
dinheiro para o seu sustento: “quando o meu pai se separou da minha mãe, ela
foi ser lavadeira (...), minha mãe também tinha uma quitanda e vendia frutas.
Nós (filhos) ajudávamos, minha irmã Zoraide costurando e tomava conta de mim e
do nosso irmão”.
A
entrevistada conta uma história que mostrou a sua personalidade forte perante
as adversidades da vida. “Encontrei o pai numa situação difícil, ele residia
nos altos da antiga garagem territorial, onde hoje funciona a Embratel perto do
Teatro (das Bacabeiras). De lá, ele foi morar num quarto alugado. Ele recebia sua aposentadoria, mas quem tratava do dinheiro era o avô do atual governador (Camilo Capiberibe). No quartinho só
tinha uma rede”, conta. Porém Iranilde se mostrou forte e levou o seu genitor
para morar com ela, na casa de sua mãe. No principio a matriarca da família não
aceitou a idéia. Todavia com muita conversa,e apoio da irmã Zoraide tolerou e
acolheu o seu ex-marido. Segundo a entrevistada, os seus pais conviveram bem
apesar das divergências do passado.
Iranilde
é do tipo de pessoa que não aceita ser submissa a outra. Desde cedo procurou
ganhar o seu próprio dinheiro. Podemos alegar isso, quando a mesma contou à
reportagem que com apenas 12 anos saiu de casa em busca de emprego. De acordo
com ela, certo dia decidiu se arrumar e avisou a mãe que iria sair. Quando
perguntada sobre o destino da saída, disse apenas: “vou ali”. Mas a sua mãe nem
esperava que a sua filha fosse correr atrás de um emprego.
O seu
primeiro emprego foi como vendedora numa loja na Rua Candido Mendes, chamada
Flor da Síria. O dono do estabelecimento gostou tanto de Iranilde que ele e sua
esposa a “disputavam”. Mas de uma forma sadia, pois como a esposa do
proprietário do magazine encontrava-se gestante, a nossa entrevistada servia
como “Dama de Companhia”, além de prestar serviços como vendedora.
Com essa
ocupação, Iranilde ajudava nas despesas em casa, além de corroborar com a sua
irmã. Pois, ela costurava e passou a fornecer confecções para as lojas
comerciais da época, como a Flor da Síria e Casa Ribamar.
Aos 15
anos a personagem principal dessa semana começou a namorar com Giovanni, quando
completou 18 anos decidiram se casar, a idéia do casamento foi a de poder
ganhar liberdade. Ela frisou à reportagem que o matrimônio quase termina antes
de começar, “Foi muita pressão para eu não casar, porque era muito nova, mas eu
casei, apesar de no dia do casamento ser uma confusão, inclusive meu recém
marido foi preso, só após sua liberdade é que teve a lua de mel.”.
Carreira nas salas de aula
A
profissão de professora começou meio que por acaso. Sua irmã, Zoraide fazia um
curso de férias na Escola Barão do Rio Branco. Então para não deixar a irmã ir
sozinha por conta da falta de iluminação no caminho, a nossa entrevistada a acompanhava
levando-a de bicicleta até o curso.
Iranilde
esperava Zoraide no lado de fora da instituição. Até que um dia pediu a um
professor a possibilidade de poder acompanhar nas salas de aula, como ouvinte. Com o “sim” do educador, que por coincidência
era o Diretor (atualmente secretário de estado) de Educação, a nossa
entrevistada começou a participar das aulas, dos grupos de estudo, etc. No
final do curso ainda recebeu o seu certificado de conclusão.
“Eu me
casei no dia 07 de Janeiro, em Março do mesmo ano me chamaram para trabalhar
como professora. Primeiramente eu comecei numa escola no distrito do Coração,
na Escola Porto do Céu”, afirma Iranilde.
Porém não ficou lá por ser muito ruim. Ainda mais que o lugar oferecia
perigo a sua gestação, afinal, onde trabalhava havia terrenos arenosos,
propícios a tombos. A diretora de ensino não aceitou a desistência dela e pediu
para que rescindisse o contrato. E foi o que a nossa entrevistada fez.
Iranilde
voltou às salas de aula decorrente a enfermidade de sua irmã que também era
professora. Como não tinha professores suficientes, ela foi chamada novamente para dar
aulas no lugar da sua irmã até que ela se recuperasse. O destino dessa vez foi uma
escola na Lagoa de Fora, uma comunidade no interior do Estado. Com a
reabilitação da professora titular, Iranilde foi transferida para Santana e em
seguida para Serra do Navio.
Depois do
município serrano, Iranilde ficou em Macapá, onde passou a ministrar aula nas
escolas: Teixeira Gueiros, Antonio João, Azevedo Costa e Gabriel de Almeida
Café.
Em
seguida foi convidada a atuar de 5ª a 8ª série dando aula de Educação Artística, pois de acordo
com a nossa personagem, gostava muito dessa área. Uma prova eram os teatrinhos
que fazia para distrair os sobrinhos. Era tão amante do teatro que quando
trabalhava no Gabriel de Almeida Café, ela fez festivais de teatros com uma
grande aceitação da comunidade escolar no Teatro das Bacabeiras.
Hoje
Viúva há
quase duas décadas, Iranilde não deixou se abalar e ainda mantém a alma jovem.
“Hoje eu danço muito e me cuido (...)”, frisa. Atualmente o que ela diz que
gosta de fazer é passear no sitio que possui em Porto Grande, foi como retornar a suas origens, lá se
sente jovem, pois toma banho de rio, se diverte bastante e segundo ela, até capina o quintal. A idade
cronológica existe, porém a do espírito não envelhece, ela acrescenta sabedoria
as que a conhecem e aceitam. “A juventude é um estado de espírito. Então sou
jovem!”
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