sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Macapá, como te amo!


Cidade de Macapá 254 anos

Amor é algo que não se explica, vem do fundo do coração que palpita e faz a gente chorar de tanta alegria. Assim, é o nosso amor pela capital do rio mar, do maior e mais bonito do planeta, o Amazonas, que beija todos os dias a sua namorada, a nossa amada e querida Macapá.
Este amor que Macapá desperta nas pessoas, umas que aqui nascem e outras que por aqui passam, é inexplicável e vem desde a sua origem. Dom Francisco Xavier de Mendonça Furtado, meio irmão de Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal, Governador da Grande Província do Grão-Pará, quando esteve em terras tucujus elevou-a à categoria de Vila, em 04 de fevereiro de 1758, ocasião em que tratava em nosso rincão da demarcação de fronteiras entre a América Portuguesa e América Espanhola, nomeadamente da região Amazônica, tendo em vista o que fora definido no Trado de Madri de 1750, também se apaixonou de cara por nossa cidade. E tanto, que ele observando o povo falando o nhengatu, uma espécie de dialeto do tupi, resolveu mudar o nome das cidades da Amazônia, para Santarém, Óbidos, Chaves, Soure, Porto de Moz, Alenquer, Monte Alegre, Bragança, Faro e etc., com objetivo de manter o idioma português como língua de ligação em todo império lusitano, porém, a nossa querida Macapá, ele preservou o seu nome.
Para se ter uma ideia de quanto era “gitinha” a nossa Macapá, em1790 foi realizado o primeiro Censo, resultando numa contagem de 2.532 pessoas. A população ficou estável durante 29 anos, aumentando apenas 18 habitantes.
Na realidade a nossa Macapá envolvia a igreja de São José e algumas casas ao seu redor, a Rua da Praia e a Fortaleza, já o cemitério ficava distante.
Meu saudoso pai, Manoel Pinheiro, nascido no Jurupari, no arquipélago do Marajó, que fazia regatão em uma canoa a vela, de propriedade do meu avô Celestino Pinheiro, ainda quando pertencíamos ao Pará, me dizia que aquela área, onde hoje é a Praça Barão do Rio Branco, era roça dos cabocos que plantavam mandioca.
Com a instalação do Território Federal do Amapá, que fora criado em 13 de setembro de 1943 e instalado em 25 de janeiro de 1944, Macapá passa por uma verdadeira transformação.
O primeiro governador do Território, Janary Gentil Nunes, também tinha um amor pelo Amapá. Encontrou o lugar numa situação caótica, deixada pelo governo do Pará. As escolas na maioria eram de chão batido, sem professores e nenhuma assistência. Não havia hospitais ou qualquer tipo de saneamento, tudo precisava ser feito. Nomeou como diretor da educação o jovem doutor Otávio Mendonça, que se tornaria, no futuro, um dos mais respeitados advogados da Amazônia e um dos maiores agraristas das Américas.
Janary, precisando expandir a cidade, cria dois bairros, Laguinho e Favela. Este último também uma das minhas maiores paixões, pois em 23 de março de 1955, às 14 horas, na esquina da Leopoldo Machado com Mendonça Furtado, na Casa Duas Estrelas, o primeiro estabelecimento comercial daquele bairro, nas mãos da parteira dona Inácia, enfermeira formada, especialista em obstetrícia, Deus me concedia o privilégio de vir ao mundo.
O Território Federal do Amapá possuiu bons governadores, que ajudaram no desenvolvimento de nossa cidade, entre eles o primeiro já citado,foi o mais longo, iniciou em 25 de janeiro de 1944 e foi  até 1955; Amilcar da Silva Pereira, que ainda hoje está vivo, chegou a ser Deputado Federal e disputou em 1966 a única vaga, sendo derrotado por Janary; Moura Cavalcante, foi nomeado pelo Presidente Jânio Quadros e foi destituído oito dias após sua renúncia; Mário de Medeiros Barbosa, ficou pouco tempo; Raul Monteiro Valdez; Terêncio Furtado de Mendonça Porto. Com o golpe militar, inicia-se uma nova fase dos governadores militares, primeiro do Exército, General Luis Mendes da Silva, sempre sorridente; Ivanhoé Gonçalves Martins, um dos maiores gestores do Amapá. Seus trabalhos na área saneamento, água e esgoto, eletricidade, asfaltamento da cidade, investimento maciço na educação, construção de prédios públicos, saúde, deixaram marcadas em nossa história, sua característica de grande administrador que foi; José Lisboa Freire, primeiro governador oriundo da Marinha; Artur de Azevedo Henning, também oficial da Marinha; Jorge Nova da Costa (16 de julho de 1985 a 25 de maio de 1990) havia trabalhado no Município de Amapá e com sua simplicidade, desenvolveu várias ações no interior do Território.
Propositadamente, como o leitor observou, havia omitido o nome de um governador, na realidade de Aníbal Barcellos, que governou o Território Federal do Amapá, no período de 15 de março de 1979 a 16 de julho de 1985, eleito democraticamente o primeiro governador do Estado do Amapá, é um exemplo clássico de um amor por Macapá, pois além de governador, foi Deputado Constituinte, Prefeito de Macapá e Vereador. Único gestor do Território que veio a morar em nossa querida cidade e, fazendo questão de terminar seus dias e ser sepultado na capital do rio mar. Comandante Barcellos acordava cedo e como grande tocador de obras, andava inicialmente de bicicleta em nossa cidade, verificando in loco, se o trabalho estava sendo realizado, depois, no segundo governo e na prefeitura, utilizou-se de carro devido sua idade. Embelezou a capital do meio do mundo, criando bairros, construindo conjuntos habitacionais, entregando residências às classes menos favorecidas e, sobretudo, nos legando belíssimas praças de lazer, como a Zagury, Floriano Peixoto, Complexo do Araxá e tantos outros lugares que marcaram sua passagem.



Barcellos, juntamente com Janary e Ivanhoé, foram, para este caboco, os três maiores governadores do Amapá e porque não dizer, eles deixaram, com seus trabalhos, o beijo selado de amor por Macapá. Penso que para esses gestores e outros vultos históricos e pioneiros, que trabalharam pela nossa região, deveríamos prestar homenagens mais significativas, com memoriais, por exemplo, mostrando seus feitos e o espelho que foram para todos nós.
Voltando à minha saudosa infância, tive o privilégio de perpassar toda a cidade. Bons tempos aqueles em que fugíamos para tomar banho no cais, junto ao trapiche.

Outra felicidade concedida pelo Eterno, foi de ver crescer todos os bairros de minha querida Macapá, de conhecer mestre Vagalume; dona Gertrudes; dona Maria Grande; dona Inácia; seu Congó; Sacaca; mestre Valdemiro Gomes; Professor Oscar; Paul Leroux; Zeca Costa; Mundico; dona Natalina; Gaivota; dona Guilherme; Seu Hélio (craque do grande time de suíço); Marajó; Fragoso; Mafra; Brasileiro; Barrigudo; Louro; Magro; Secundino; Teixeirinha e dona Graça e seu fanático bicolor Quin, que vinha com um gravador narrando o gol, para chatear o papai, quando seu time ganhava;  Antero Amorim; Gaivota; Cirilo; Serapio; Bamba; seu Luciano do Santa Cruz; Gregório; Pantera; seu Durico; seu Luiz do Merengue; seu Luiz Murici; seu Acapu; Calhambeque; seu Luiz, pai do Pilão; Professora Marta, da Escola Paroquial, a primeira Professora que me ensinou a sair da escuridão; João Costa, avô do Sérgio; seu Eulálio; seu Inácio garçom; professora Deuzuite e o poeta Alcy Araújo; Sabazão; Professora Violeta; Professor Munhoz; Eugênio Machado filho do Cel. Leopoldo Machado; Klinger; Zé Rolando; seu Manoel Barbeiro; Padre Salvador; Padre Antônio; Padre Fúlvio; seu Orlando da UBMA; seu Orlando barbeiro; seu Alício; doutor Brasil; doutor Tancredi; seu Chaguinha; João da Estrela; Nabi; dona Astrogilda; seu Eugênio Machado; dona Mariinha; Gita Grande; Noberta; dona Raimunda; dona Francisca; dona Lili, mãe da Dadá, da Marina, da Zezeca, do Mário, do Mariano e do Pilão; dona Cécilia, mãe do professor Bento Góes, que consertava as quebraduras de braço; seu Aylzo; Jorge mecânico; seu Francisco Severo, pai do Bira, e seu irmão Dedé mecânico; Pastor Fundador da Igreja Batista em Macapá, Carl Lauren e tantos outros que a nossa história esqueceu.
Lembro-me, ainda, dos ensaios do Maracatu da Favela, na casa da dona Gertrudes, situada na Presidente Vargas entre Leopoldo Machado e Jovino Dinoá, onde aprendi a amar as cores azul e branco, hoje verde e rosa. A festa do Marabaixo, que vinha do Laguinho e quando dobrava a Leopoldo Machado, na rua da casa de meus pais, nós, moleques, engrossávamos o coro da mais tradicional manifestação cultural amapaense, até a casa da referida senhora, que era ponto de referência na Favela. Não esqueço, mesmo sendo torcedor do Ypiranga, da sede do São José, que ficava bem em frente da nossa casa na residência do seu Arnaldo e dona Alexandra, que tinha uma filha por nome Edna.


Este amor pela capital do Equinócio, também corria nas veias de meus ancestrais. Meu saudoso pai ouviu de meu avô, Celestino Pinheiro, um dos pioneiros desta terra, um conselho, que me repassou várias vezes: Macapá é terra de se viver, conselho este que ministro, também, aos meus filhos ainda hoje e peço que eles façam a mesma coisa com seus descendentes, quando vierem ao mundo.
Recordo-me ainda, que a cidade chegava até na Fab, onde o aeroporto funcionava, terminando na Leopoldo Machado e não existia a Hamilton Silva. O bairro do Trem, no qual cheguei a morar, na década de 50, era novo e vi também desenvolver. Como crianças que éramos, descíamos para tomar banho na da praia da vacaria, que tinha dunas de areia. Daí para frente, vi surgir todos os bairros, como Jacareacanga, hoje, Jesus de Nazaré, Pacoval, Buritizal, Congós, Santa Rita, Beirol, Pedrinhas, Santa Inês, Perpetuo Socorro etc...
A transformação, portanto, em Território Federal e hoje Estado do Amapá, foi benéfica, pois criou uma classe média e desenvolveu este rincão da Amazônia que pertencia esquecido e sem condições de desenvolvimento ao Estado do Pará.

A guisa de recordação, Macapá sempre soube receber, nestes 254 anos, as famílias que aqui vieram fixar raízes como a Picanço, Costa, Machado, Família Rola, Jucá, Congós, Serra, Levi, Torrinha, Peres, Souza, Barcessat, Mont’Alverne, Leite, Gamachi, Banha, Zagury, Alcolumbre, Pereira, Guerra, Borges, Houat, Ramos, Góes, Araújo, Silva, Matos, Amanajás, Cordeiro, Serrano, Cavalcante, Barbosa, Uchôa, Oliveira, Pontes, Penafort e claro, a Pinheiro, assim como tantas outras que poderíamos aqui citar e hoje são famílias tradicionais em nossa querida Macapá.

Hoje, é um dia de aniversário, que deveríamos falar só de coisas boas, porém, como amapaense perdidamente apaixonado por minha terra, o que mais me dói é que algumas pessoas de fora, que viviam no mais completo anonimato em suas terras e aqui são tão bem recebidas, em troca devolvem esta hospitalidade com expressões pejorativas, tentam nos lançar para baixo, do tipo: “Aqui não tem nada!”, “Que cidade horrível!”, “Que lugar calorento!”, “Salário não compensa!”, “Lá eu ganhava bem!”, “Liga para o Brasil!”, “Eu não agüento mais morar aqui!” E a nossa Macapá responde a essas pessoas ingratas: “Podem ir! Porque a Terra do Manganês só gosta de quem gosta dela!”
A minha Macapá, que hoje aniversaria, cantada em versos e prosas pelo meu conterrâneo, o poeta Alexandre Vaz Tavares, que recebeu a minha família e tantas outras aqui citadas, sempre estará sorrindo e de portas abertas para quem quiser se fixar aqui, mas adverte: “É preciso amá-la e respeitá-la”.

Gilberto Pinheiro

Um comentário:

  1. Muito bom o relato que você fez a nossa cidade dando ênfase aos seus bairros,seus representantes,e as familias tradicionais que aqui habitam. Parabens pela publicação, são poucos que fazem esse tipo de homenagem mesmo contando a história de uma forma tão peculiar da cidade de MACAPÁ que além de ser minha morada e meu local de nascimento e minha alegria de viver!

    Ass: Lana Barcessat

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