sexta-feira, 18 de maio de 2012

Antenados - Discurso de um periódico


No dia 20 de maio de 2006, circulava pelo Estado a primeira edição do jornal Tribuna Amapaense. Neste mês, portanto, comemoram-se seis profícuos anos de saber e veracidade, ora gritados, ora sussurrados, ora bem acolhidos, ora sufocados por oposições que, inevitavelmente, sempre surgem.

Seja em meio a louros ou embargos, o fato é que o triunfo desta publicação semanal já está ratificado, vemo-lo claramente representado ao longo de quase uma década de existência. Muita coisa foi escrita, debatida, criticada e aclamada por entre estas páginas. Muito foi visto, ouvido e registrado aqui. E, se este jornal pudesse falar por si, o que será que diria?

Na verdade, o jornal fala. Ainda que existam indivíduos a moldá-lo - articulistas, editores, colunistas, repórteres, corretores, enfim, uma densa equipe por detrás -, o jornal tem voz e vida próprias. Há quem afirme ser uma vida efêmera, voz fugidia. No entanto, ambas se renovam a cada nova edição.

Se os periódicos falam por si, tal qual organismo vivo, dotado de recursos linguísticos tão próprios, eis agora o nosso Tribuna Amapaense, servindo de tribuna a si mesmo, pronto para desenrolar ante os olhos dos fiéis leitores todas as suas experiências jornalísticas.

Eis-me agora em primeira pessoa, porque então quem fala sou eu, eu, Tribuna Amapaense, palpável, consciente. No correr dessa meia-dúzia de anos, vi grandes monumentos políticos ascenderem e declinarem. Registrei a trajetória de muitos nomes, contive em minhas páginas algumas intrigas, segredos professados, escândalos expostos.

Mas também houve em mim espaço para o que não era político, de caráter quase animalesco, bestial. Ao contrário, carreguei também, e com excelência, registros emocionantes sobre pessoas inspiradoras, histórias sobre a gente deste Estado. Grafei, semana após semana, sentimentos, sensações, mesmo com toda a objetividade e concisão próprias de minha estrutura.

Falei de curiosidades, de absurdos, de belezas, de tristezas. Expus a esta terra, aos olhos que a habitam, tudo aquilo que consegui apreender. Em todas as chances de falar dadas a mim, falei. Não deixei a desejar um só milímetro de verbo exposto.
Contei causos, contei a vida de indivíduos que ajudaram a construir o Amapá, os decanos que conservam na memória um banco de dados inestimável, e que soberanamente o dividiram comigo, entre minhas dobras.

Mudei de capa, vesti nova roupagem. Talvez um de meus maiores feitos tenha sido a oportunidade que dei a hesitantes jovens escritores, os quais, mesmo em toda a sua timidez literária, persistiram e perduraram, triunfaram juntamente comigo, e ainda estão aqui, neste coração de papel. Em muito ajudei a esses talentos emergentes, também em muito por eles fui auxiliado.

Assim, posso dizer que, semana após semana, ano após ano, tenho cumprido a função que me foi dada. Essa destinação vai muito além do mero dever de informar. Um jornal tem, essencialmente, a tarefa de integrar a sociedade e os fatos, leitores e artigos, pessoas e emoções, impressões, ideias, apontamentos. Tal enlace literário, ao mesmo tempo realista, mas para muito além da frieza jornalística, acontece da seguinte maneira: homem e papel se fundem, se confundem, se integram, formando um algo muito maior.

Aí está o grande mistério de um bom periódico: Não apenas sobrevive ao correr dos anos, corroído, mofado, relegado ao segundo plano, suplantado por mídias digitais, ou o que seja.  O encanto do jornal está em sua essência, conservada por poucos. E o modo pelo qual um jornal conserva essa sua essência viva, é quando carrega pessoas vivas, palavras vivas, verdades vivas em seu conteúdo, em seu miolo, no coração.

Eis a verdade. Muito prazer. Jornal Tribuna Amapaense.

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