sexta-feira, 8 de junho de 2012

Saúde: Município ampara Estado


Por Gabriel Fagundes



PAI não suporta mais a grande quantidade de atendimentos

Diante do evidente e preocupante quadro de caos na rede de saúde do Estado do Amapá, que chegou ao ápice de ser declarado Estado de Emergência na Saúde pelo governador, a Prefeitura Municipal de Macapá mostra, uma vez mais, que está devidamente preparada para atender às necessidades urgentes da sociedade amapaense. Com as suas Unidades de Pronto Atendimento (UPA's) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS's) equipadas e com recursos humanos suficientes disponíveis, a rede municipal está acolhendo grande parte dos pacientes, entre eles, jovens, adultos e principalmente crianças, que não encontraram amparo na rede estadual de saúde.

Heverton Carlos Figueiredo de Araújo,
diretor da unidade de saúde Marcelo Cândio
Em declaração feita em entrevista ao Tribuna Amapaense, o secretário municipal de saúde, Otacílio Barbosa, disse que embora a demanda tenha crescido, a rede do município tem dado conta de atender a população que procura as unidades de saúde de Macapá. "Por conta do aumento da demanda nas unidades do município tivemos que refazer nosso planejamento estratégico de atendimento, principalmente no que diz respeito ao abastecimento de medicamentos, colocar farmácias para funcionar durante 24 horas e reforçar a equipe médico, deixando alguns de sobreaviso. O prefeito Roberto Góes reiterou e nós não estamos negligenciando o atendimento da população, seja do Município, seja do Estado. A lei, inclusive, nos faculta o direito de prestar esses serviços."

O diretor da UPA Marcelo Cândia, que fica localizada no bairro Jardim II, Heverton Carlos Figueiredo de Araújo, falou sobre como vem sendo feito o atendimento nas últimas semanas e declarou que as unidades de saúde já vinham sendo preparadas para receber maiores demandas de atendimento. "Participei de reuniões com o prefeito Roberto Góes e com o secretário Otacílio Barbosa que falaram que a rede municipal estaria preparada para suprir maiores necessidades de atendimento. E realmente aconteceu, a demanda aumentou  em nossa unidade: em números, ela duplicou de 600 pessoas por fim de semana para 1200 a 1500. Nós preparamos  os servidores para atender esse maior fluxo de pessoas, o que é muito importante para que seja prestado um serviço de qualidade."

UBS do Marabaixo recebe a alta demanda de pacientes

Cronograma de reformas da PMM
Visando melhorar ainda mais os atendimentos na rede municpal de saude, a Prefeitura de Macapá está com uma agenda de reformas nas unidades de saúde do município. Dentre as unidades que serão reformadas, está a UBS Álvaro Corrêa, localizada no bairro São Lázaro, que já começou os serviços, e terá sua demanda de atendimento temporariamente transferida para três outras unidades: Infraero II, Brasil Novo e Marcelo Cândia. Esta última também passará por reformas, que acontecerão em etapas.

O diretor da UPA Marcelo Cândia, Heverton Carlos, falou que mesmo com as reformas o atendimento vai continuar. "Trabalharemos com o carro em movimento", afirmou Heverton.

Sobre o atendimento da UBS Álvaro Corrêa, o secretário de saúde Otacílio Barbosa falou que a Semsa buscou, no prórpio bairro São Lázado, um local para transferir o atendimento. "Nossa equipe foi em busca de um local que se adequasse ao funcionamento da unidade para transferir todo atendimento. Infelizmento não conseguimos encontrar. Pedimos a compreensão de todos. Tão logo os serviços de roforma acabem, os usuários estarão recebendo um local com nova estrutura e que qualificará ainda mais o atendimento a população", finalizou Otacílio.


O que dizem os cidadãos

Como reflexo desse trabalho que vem sendo feito pela Prefeitura, a jovem Luciana de Jesus Amorim, 24 anos, elogiou a estrutura da UPA Marcelo Cândia. "O meu pré-natal eu fiz aqui, na UPA Marcelo Cândia, que, se comparado a outros postos de saúde e hospitais do Estado, está bem estruturado. Mesmo com a crise da saúde as coisas aqui estão boas, eu fui bem atendida."



Criticando a rede privada de saúde, dona Flávia Lopes, 29 anos, declarou sua insatisfação. "Mesmo pagando um alto valor de plano de saúde somos colocados em condições precárias. O problema maior é que para uma família de classe média como a minha é complicado pagar um serviço que, quando precisamos dele, somos acolhidos como se fosse um favor, o que não é." Sobre a rede de saúde do Estado, dona Flávia afirmou: "As condições que nos oferecem são ruins tanto para a criança quanto para a gente, que somos pais. Acredito que os leitos de hospitais devem oferecer condições de acolhimento não só para o paciente, mas para o acompanhante também. A rede privada e a estadual estão oferecendo o mesmo serviço ruim, sendo que, para uma pagamos plano, e para outra pagamos impostos."


Euciane Ferreira Tomaz criticou a rede de saúde do Estado e compartilhou a experiência que teve ao procurar atendimento para a filha. "Eu cheguei umas 14 horas aqui no Pronto Atendimento Infantil (PAI), com a minha filha que estava sofrendo fortes dores no estômago. Muitas pessoas esperavam na fila para serem atendidas, e muitas desistiram de tanto esperar. Eu só consegui a consulta às 17h30m, isso porque eu fui me queixar com pessoas que estavam no atendimento. O resultado do exame só saiu lá pelas 21 horas da noite. Eu já tinha ouvido muitos relatos de reclamações por conta do atendimento e ontem eu tive a experiência que comprova o que eu ouvi."




Prefeitura planeja mais avanços



Para melhorar o atendimento da rede de saúde do município,
diretores das UPA's e UBS's se reuniram para debater
sobre diversos temas relacionados às unidades de saúde


Para ampliar o atendimento na rede municipal de saúde, a Prefeitura Municipal de Macapá irá contratar mais de 10 médicos, que atuarão nas Unidades Básicas de Saúde do município. Além disso, deverão funcionar, em cerca de 90 dias, segundo o secretário Otacílio Barbosa, novas unidades de saúde com estrutura baseada no modelo da UBS do Marabaixo II, que foi recentemente inaugurada e conta com equipamentos de ponta.


Ainda com o intuito de melhorar o atendimento da rede de saúde do município, os diretores das UPA's e UBS's se reuniram na quarta-feira (06) para debater sobre diversos temas relacionados às 19 unidades de saúde, tais como: alinhamento técnico; retaguarda das atividades de saúde do município para situações críticas que porventura o Estado possa passar; planejamento de atividades para o bimestre (junho/julho de 2012). 




O início da crise

Tudo começou quando o Governo do Estado do Amapá decidiu não pagar os plantões médicos no mesmo dia de pagamento do salário dos profissionais. Numa tentativa de reverter a decisão, os médicos decidiram paralisar e não fazer plantões desde a sexta-feira, dia 1 de junho.

Superlotação no PAI é prova evidente da crise
da saúde no Estado  
O Governo decidiu, então, recorrer à Justiça, e o juiz Reginaldo Gomes concedeu liminar obrigando os médicos a voltarem a fazer plantões normalmente. Caso o Sindicato dos Médicos do Estado do Amapá (Sindimed/AP) descumprisse a ordem, este deveria ser multado em R$ 100 mil e cada médico escalado em R$1,5 mil por dia.

Segundo informações do site Amapá Digital, a médica Andrezza Oliveira argumentou: "Não temos carteira assinada para darmos plantões. Assumir nossos direitos trabalhistas, isso a Sesa não quer, nem fala no assunto. Se o juiz diz que sou obrigada a dar plantão, significa que é vínculo empregatício, então quero meus direitos trabalhistas".

O interminável impasse entre Governo e o Sindimed culminou, na terça (05), num desligamento de mais de 15 médicos sindicalizados que decidiram encerrar carreira no Estado e assinaram pedido de demissão. 



O caos atinge todo o Estado



O que está acontecendo nos hospitais estaduais em Macapá também vem ocorrendo em todas as cidades do Estado. No fim do ano passado, no município de Laranjal do Jari, a superlotação era notória, os pacientes eram atendidos nos corredores ou onde desse. Pessoas com problemas tanto simples quanto graves, que precisavam de cirurgias imediatas, não puderam ser atendidas.

O fato foi comprovado com a exposição pela mídia de uma paciente que estava sendo transportada do Hospital de Laranjal do Jarí para Macapá. Nas fotos, se pode observar que a paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) era conduzida em uma ambulância sucateada junto com um botijão de gás, um pneu e uma vassoura. A ambulância que transportava a dona de casa, que é hipertensa, infelizmente não chegou até Macapá, e retornou para a localidade conhecida como Cajari (a 60 km de Laranjal). 

Justicialização da Saúde
Os atendimentos ortopédicos estavam sendo realizados por determinação judicial. No dia 26 de agosto de 2011, o secretário estadual de saúde, Edilson Pereira, recebeu uma intimação da Justiça Federal para providenciar, num prazo de 48 horas, a realização de cirurgias ortopédicas no Hospital Alberto Lima (HCAL). O documento saiu um dia após a denúncia do jornal A Gazeta, que relatou a história da educadora Rosiclé Sardinha Gonçalves, a qual sofria há oito meses por falta de atendimento médico.

Paciente do SUS conduzida em uma ambulância sucateada
junto com um botijão de gás, um pneu e uma vassoura
A novela se repete
Em 2011, era o fornecimento de materiais cirúrgicos que não estava sendo feito, o que comprometia a outra ponta do serviço: a atividade médica. No mesmo ano, o presidente do Sindicado dos Médicos (Sindimed), Fernando Nascimento, comunicou "que está suspensa a transferência de pacientes do Pronto Socorro para o Hospital Geral por falta de material para realizar as operações". A medida vinha sendo associada a uma quebra de acordo entre a Secretaria de Saúde e os especialistas da área de ortopedia e traumatologia. "O acordo com os médicos da ortopedia era para que eles fizessem cirurgias de média e alta complexidade no HCAL. Acontece que foi pago apenas o mês de setembro, os atendimentos do mês de agosto ainda estão em aberto", sentenciou Fernando Nascimento.

O presidente do Sindimed disse ainda que a SESA está ciente da situação e tem imputado aos médicos a responsabilidade pela demora e suspensão dos atendimentos. "A culpa não é nossa, a culpa é do gestor", anunciaram. Esse fato está ocorrendo novamente neste ano, com mais de 15 médicos pedindo demissão. Em 2011, 13 ortopedistas desistiram de trabalhar nos hospitais por falta de regularização dos plantões e de estrutura para desempenharem suas atividades, e a novela se repete com os mesmos protagonistas, sendo que os figurantes são os que precisam de atendimentos e aguardam os resultados.


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