Ao longo de meus curtos dezoito anos de vida, lembro-me de poucas novelas que fizeram tanto sucesso, seja no horário global das oito ou não, como "Avenida Brasil" tem feito.
Posso até alguns títulos, tais quais "Viver a vida", "Celebridade", "A Favorita", "Caminho das Índias", ou "Passione", mas julgo que nem mesmo essas produções se comparem ao vendaval encarnado na trama de João Emanuel Carneiro.
Mesmo aqueles indivíduos com nomes de boa reputação - vide William Bonner - já declararam seu amor febril por "Avenida Brasil", esta grande personificação da nação tupiniquim. Assim, fica claro o alcance geral da novela, com toda a sua atmosfera singela, bem como vocabulário acessível e verossímil - aspectos maravilhosamente assimilados pela massa -, mas também se comprova o fascínio exercido sobre as ditas "mentes superiores". Deve existir, portanto, uma fórmula (alcançada através de método, observação e afinco admiráveis por parte do escritor) que explique tamanho êxito, êxito por sinal alcançado praticamente em cada estrato da audiência brasileira.
Talvez a resposta esteja no dueto principal do enredo, composto pelas personagens antagônicas de Nina/Rita (Débora Falabella), a mocinha duvidosa, e Carminha (Adriana Esteves), a vilã antológica.
Em ambas há doses de cinismo, farsa, mentira, sujeira... No entanto, elas cativam.
Fica difícil, assim, catalogá-las como "princesa" ou "megera". Cada uma, a seu modo, com todo o pacote que carrega, traduz bem aquilo que o telespectador brasileiro parece querer dizer: "Ok, cansamos de mocinhos e vilões estritos. Já que assumimos posição conformista ante tudo nessa vida, aceitando, por exemplo, comportamentos duvidosos até na política, por que não abraçar também essa mescla de caráter na ficção?".
Vê-se que João Emanuel Carneiro conseguiu pintar um quadro muito interessante em sua telenovela, não deixando escapar nem os mais bizarros tipos - desde o mauricinho perturbado, os "novos-ricos" encerados da classe média ascendente, até a prostituta de hipotético bom coração, e o jogador de futebol que pendura as chuteiras para dispensar algum tempo com Machado e Flaubert. Enfim, o quadro está completo.
E o sucesso não poderia ser melhor expressado que na internet, espaço moldado agora como a própria extensão da TV. É neste palco secundário cibernético que as frases de efeito das personagens vão fazendo história, sobretudo as de Carminha, figura já lendária. A personagem interpretada por Adriana Esteves possui soma considerável de frases memoráveis a circular, sendo compartilhadas efusivamente nas redes sociais.
Exemplos de suas citações: "Não quero muito da vida, não. Eu quero é tudo!", "Quando eles chegarem, cadê a Nina que tava aqui? Caminha comeu!", "Deus seja louvado? Eu seja louvada!", "Eu não lutei tanto nessa vida pra terminar pegando lepra em esgoto de favela", e "A culpa é da Rita!".
Enquanto isso, ofuscados pelo brilhantismo humano de "Avenida Brasil", segue-se meio insossa as Olimpíadas em Londres, também a extensa e exaurida greve dos professores se mantém, políticos escandalosos vão sendo esquecidos, sumindo atrás da cortina de fumaça "cultural", e nós, o povo, nos orgulhamos de ser brasileiros. Sabe por quê? Porque sempre teremos o horário das oito. E homens como João Emanuel Carneiro para nos ensinar em quem pôr a culpa.
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