segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Antenados - Reflexões na praia


Esses últimos dias compreendidos entre o término das férias e o início de agosto foram gastos por mim num povoado no litoral do Ceará, que atende pelo nome de "Icaraí de Amontada". Se você não sabe o que é "Icaraí", esteja certo de que eu também não o sei. "Amontada", então, nem se fale...  No entanto, a estada me rendeu algumas consideráveis reflexões.

Há ali pouquíssimos habitantes, além de dois ou três clãs que se dividem no monopólio dos pequenos empreendimentos - como mercadinhos e pousadas -, empresas multinacionais que se lançam à construção de um parque eólico perto do mar, e uma praia desértica com os melhores ventos para atrair os turistas ao windsurfe.

Até onde sei, ainda existe no lugarejo uma única lan house, e praticamente nenhum sinal de celular. São poucos os pontos onde um telefone móvel consegue algum serviço de rede, independentemente da operadora. Ademais, o acesso a canais de televisão só chega através de antenas parabólicas, e chega mal.

Para a maioria das pessoas, imagino que tal isolamento (cibernético, televisivo, telefônico...) soe em nada diferente a tragédia e caos. No entanto, devo dizer que, para mim, não ter nenhuma obrigação midiática ou eletrônica parece-me um sonho. Não sou grande fã desse emaranhamento pós-moderno... Tenho a impressão de que, hoje em dia, somos "obrigados" a nos incluir em todas as formas tecnológicas de interação social, caso contrário, nossa existência parece aos olhos dos outros uma nulidade.

Entretanto, mesmo com toda a rusticidade do lugar, passei ali alguns dos momentos mais agradáveis e completos desse ano de 2012. Ao lado dos meus tios, mãe, e irmãzinha, maravilhosas refeições à beira da praia foram feitas, tendo como única obrigação a necessidade de contemplar o horizonte, e dispondo apenas do ruído do mar bravio como trilha sonora, e de um rockzinho clássico, ao melhor estilo Beach Boys, soando de algum recanto do restaurante paradisíaco.

Também estabeleci um interessante intercâmbio cultural. Estávamos em outro restaurante, à noite, quando um trio de turistas europeus chegou. Não havia muita comunicação entre eles e a atendente. Minha tia então, solicitada pela garçonete, foi quem resolveu a situação. Apontou-me e disse: "A Bárbara fala francês!". E lá fui eu, com meus (já esquecidos) quatro semestres de aulas de francês e alguns traumas idiomáticos.

Ao final, a experiência mostrou-se divertida. O grupo acabou pedindo "pour manger, du poisson",  contando com meu caduco auxílio tradutório e com meu péssimo sotaque que lhes arrancou risos.

Assim, depois de alguns dias vivendo mergulhada na deliciosa rotina de sentir o sol a fritar meus miolos, e o vento forte a secar meus cabelos, chego à inevitável conclusão de que tudo o que dispomos "na capital" ou "na cidade grande" é um tanto desnecessário, se nossa primordial preocupação, de fato, esteja em ser feliz.

Percebi que essa tão proclamada felicidade está muito mais interligada à simplicidade das coisas e momentos, pois o simbolismo deles é bem mais profundo. Sentir-se plenamente satisfeito não diz respeito à enormidade daquilo que você alcança, apalpa, mas sim dos significados que você depreende de tudo o que se vivencia, por mais ínfimo e elementar que seja.

Encerro a semana com esta reflexão... Embora eu não nutra demasiada hipocrisia ao ponto de não admitir a falta que me fez uma conexão de internet 3G na hora de enviar a matéria. Todavia, a lição aprendida na praia fica guardada comigo: Muito mais bela é a felicidade que se extrai dos momentos mais singelos da vida.

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