Ser acolhido pelo sistema literário é o ponto primordial da consagração de um escritor como tal. Está entranhada nos paradigmas literários a premissa de que um escritor só existe se for lido - e conhecido - nem que seja por subgrupos ou segmentos menos influentes da sociedade.
O tal "sistema literário" se expressa da seguinte forma: autor -> mercado editorial -> leitor. A partir disso, é possível concluir que um escritor não é um escritor sem uma publicação, sem a estruturação formal e táctil de seu livro, com capa, miolo, e valor monetário agregado (vale frisar que, mesmo hoje, na era das mídias digitais, o livro continua a ser um produto à venda, ainda que em outro formato, então a estruturação permanece).
Esse sistema nos leva a crer, portanto, que, sem um "mecenas", não existe público atingido. Consequentemente, submersa no anonimato, toda a obra do escritor também é tomada por inexistente e vazia.
Infelizmente, o Brasil é atualmente um dos palcos menos propícios à ascensão de jovens aspirantes. Até mesmo os talentosos estão fadados a um embargo bruto por parte das convenções, afinal, para as estruturas literárias acirradas, não basta "escrever bem", é fundamental, além de ter ótimos contatos e conquistar seu lugar ao sol do mercado, também saber burilar o texto e trabalhá-lo tecnicamente, dominando todos os aspectos da narrativa.
No entanto, mesmo parecendo um triste quadro, não se pode esquecer que o público (elemento final, mas fundamental na corrente sistemática das vendas e da aceitação), não é simplesmente uma categoria amorfa, item dispensável da equação.
O público é vivo, tem sede. Precisam de ficção, de fantasia, de se perder dentro da irrealidade e suas gradações de verossimilhança. O público clama, anseia. E ele não quer saber dos fatos brutos, como: "No Brasil, dificilmente um autor independente consegue concretizar sua obra com menos de alguns milhares de reais". "No Brasil, dificilmente os autores chegam às livrarias, e aqueles que o fazem mal conseguem suplantar o caos da concorrência, permanecendo amontoados por lá em pilhas e pilhas sem demanda". "No Brasil, dificilmente a primeira edição de um livro sai com impressivas cópias, limitando ainda mais sua disseminação".
Os verdadeiros leitores não estão interessados nisso. Eles querem é ler para conhecer, não necessariamente conhecer antes de ler. Estão dispostos a arriscar a imperturbabilidade, aceitando a próxima viagem proposta por qualquer capa que lhes arrebate o sentido de primeira.
Num mundo ideal, um escritor, para merecer tal título, unicamente dever amar com ardor o que faz. Não escreve porque o obrigam, assim como não desiste, mesmo quando repelido e ignorado.
Nosso mundo não é ideal, mas cabe dizer que, ainda assim, na realidade, um escritor não precisa de diagramação e papel offset para ser visto como tal, pois os verdadeiros autores permanecem escrevendo mesmo que a notoriedade nunca chegue, mesmo sem nenhuma obra publicada, mesmo que o anonimato seja seu maior público interessado.
Ninguém precisa desistir dos sonhos literários simplesmente porque as chances são escassas: Existem outras formas de concretizar a utopia, outros modos de se chegar a um reconhecimento mais amplo... É certeza que tais mecanismos secundários não são os mais potentes ou imediatos, exatamente por não fazerem parte do tradicionalismo, mas, se o caso é ser lido, então tudo é válido.
Porque o que um escritor deseja é isto mesmo: Ser lido, ser devorado, ser chorado. Não meramente comprado. Que se danem as estruturas, pois bem! E que os novos autores não se acanhem de atuarem como frustrados "Van Goghs" da literatura ao começarem: Durante o amadurecer, quase nenhum reconhecimento "válido". Mas, depois disso, quem sabe?... O importante é nunca deixar de escrever.
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Adaptação do artigo "Escritores Frustrados: Quando o acolhimento pelo sistema literário não vem", originalmente publicado no site "O Minuto do Saber", em 4 de maio de 2012, pela colunista. Para lê-lo na íntegra, acesse: http://www.ominutodosaber.com
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