Gosto muito de escrever. Para mim, não existe melhor maneira de expor uma opinião, ou destrinchar uma ideia, e até mesmo destruir argumentos alheios, do que através da escrita.
É de se supor que uma articulista nutra mesmo esse tipo de paixão. E, por falar nisso, atuar num periódico também implica em sempre ter uma opinião sobre tudo, ainda que pareça ir de encontro à pretensa imparcialidade jornalística.
Na verdade, nenhum jornalista existe de fato se não tenta influenciar pessoas através do que escreve, do que veicula. Assim, ter algo a dizer sobre alguma coisa é um encargo jornalístico perpétuo... O qual, às vezes, se torna um fardo.
Como disse antes, gosto de escrever. Gosto de, através da escrita, opinar, defender exaustivamente um posicionamento, tentar atingir de algum modo os que me leem com meus textos. Gosto de motivar pessoas, ou de provocá-las, de expor os pontos positivos daquilo que é o melhor, os negativos daquilo que não o é, ou vice-versa.
Entretanto, existem momentos em que nada disso me aquece. Momentos em que tudo o que menos quero é precisamente opinar.
Há ocasiões em que minhas mãos e minha mente travam, em que a desilusão e preguiça de ser/saber/defender/representar me domina, e então não existe nada mais sufocante do que falar sobre qualquer coisa. E do mesmo modo que então crio aversão a meus próprios juízos, crio também em relação aos juízes alheios.
E é exatamente nesses momentos que me pego reconhecendo: "Há certa nobreza na omissão...". Sim, mesmo eu, quixotesca e constantemente defendendo a não omissão social, política, cultural, sobretudo por parte da juventude, reconheço que há razoável encanto em se omitir algumas vezes.
Acontece que aqueles indivíduos que sempre, sempre têm uma opinião a dar a respeito de qualquer coisa são... Chatos. São simplesmente enfadonhos, enervantes.
Não tenho muito talento em ser legal, e ainda por cima nutro a já citada paixão por opinar através da escrita, mas até eu reservo-me também o direito de desprezar todos os meus achares e os achares dos outros de vez em quando.
E reafirmo agora diretamente aos que insistem, a todo instante, em advogar com as vísceras seus pontos de vista: É irritante! Se guardassem um pouco mais das considerações pessoais consigo mesmos, elas seriam bem mais interessantes de se solicitar e acolher.
Algumas vezes, é mais do que vital silenciar, abster-se de comentar, praticar à risca um ostracismo verbal, pois tal comportamento ajuda a maturar ideias e torna muito mais preciosas quaisquer críticas.
De certa forma, é isso o que Paulo Mendes Campos nos ensina no finalzinho de sua sarcástica e deliciosa crônica "Guia para a cultura social", contida no livro "Os bares morrem numa quarta-feira", quando diz que, quanto aos livros clássicos, consagrados pela crítica e pela massa, além de recorrentes nas pseudodiscussões dos círculos sociais, é indispensável ter sempre uma consideração a respeito, ainda que você nem mesmo os tenha lido alguma vez.
Contudo, se algum dia, nessa mesma "high society", alguém citar aquele autor ou livro que é seu favorito, aquele que você leu mais de quarenta vezes desde a mocidade, simplesmente finja que nunca viu, nem sabe do que se trata, fique em silêncio, guarde segredo. Mantenha só para si o que lhe é mais querido e importante. Não, não compartilhe. É seu.
Por fim, descubra a maravilha contida em, de vez em quando, não ter nada a dizer, em suprimir a própria opinião. Revele a si mesmo o prazer de não partilhar conceitos com ninguém, e mesmo que peçam, e peçam com fervor, que necessitem, e com urgência, ainda assim dê uma de difícil e diga: "Não penso em nada válido". O brilhantismo está no que não se diz.
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