segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Artigo do Gato - O Manga

O Manga, como é conhecido o policial da extinta Guarda Territorial e da Polícia Civil do Estado do Amapá, José Maria Gomes Teixeira, é uma das reservas vivas da nossa história, do nosso folclore. Ele se confunde com o bairro do Trem e as famílias daquele bairro, de jeito singular, peculiar, vivem dentro da Praça Nossa Senhora da Conceição. São boa gente e cada personagem que povoa a Praça é um pedaço da história do Trem. São bairristas e naquele “gueto” as pessoas forasteiras têm de ir se chegando de mansinho, se não... Se não é assim que vocês vêem este pedaço de Macapá, é pelo menos desta forma que vejo. Permitam-me.

Na realidade falo do Manga pra lhe fazer justa homenagem. Não que nunca tenha sido homenageado, mas minha intenção de falar dele é dizer o que penso deste amapaense que foi e é parte da minha vida. Ele muitas vezes é criticado por alguns que não conseguem compreender e aceitar que alguém de origem humilde, de pouca cultura formal, consiga ir tão longe na vida. E ir bem, muito bem. Manga tem uma habilidade incomum no trato com as pessoas. Os cidadãos mais hisurtos não compreendem o jeitão dele, de ir tecendo um elogio aqui, outro ali. Quem pensa que sua estratégia de distribuir elogios é aleatória engana-se: Manga sabe o que dizer e pra quem dizer e na hora de dizer. Às vezes o ralho vem com uma fleuma inerente ao temperamento de quem tem limite nos rococós.

O Manga não tem um passado republicano, por assim dizer. Nem ele quis ser ou parecer Monge Franciscano. Foi um rapaz bem afeiçoado, de tez clara e cabelos loiros e olhos meio amarelados. Um ariano. Com certeza se vivesse na Alemanha Nazista não entraria na lista de Hitler para ser cremado.  Se não foi santo, também não foi um endemoninhado. Não tenho registro de que na juventude e durante sua vida de boêmio tenha feito algo que lhe remetesse ao cajual, como era conhecido o presídio de São José, que eu conheci ali no Beirol, próximo de onde hoje é o Conjunto Mucajá.

Na verdade, Manga, depois de viver a vida deste mundo e ter experiências tristes com familiares que se envolveram com drogas, ele resolveu se entregar de corpo e alma a obra do Senhor. Manga há muito é um homem dedicado a ajudar o próximo. Meu filho Junior quando criança participou de um de seus programas educativos e esportivos que se chamava “Futebol, religião e leitura”. Aos domingos ele reunia muitas crianças, a maioria desassistidas, e depois de ensinar o “b a ba” do futebol, ele falava de Deus, do respeito que eles deveriam ter com os pais e, claro, servia sopa, lanche e tudo era uma festa. Até hoje Manga continua sua ação social, desta feita de forma itinerante. 

Sabem, também estou envelhecendo e nesses meus 53 anos de vida já vi e vivi muitas coisas. O Manga conheço desde criança, quando ia pela Escócia, País que emprestava o nome ao time da Igreja Nossa Senhora de Fátima, comandado pelo saudoso Odorval Moraes, o “Quilo Certo Maravilha”. Sempre vi o Manga como desportista, dedicando muitas horas de sua vida para organizar os torneios futebolísticos e treinando clubes de futebol no Estado do Amapá. Dizem que ele jogou futebol, eu não vi, mas ouvi dizer. Dizem até que foi um jogador de recursos técnicos limitados, não figura entre os chamados “craques” do futebol. Ele mesmo conta suas peripécias no futebol de forma bem humorada e entre gargalhadas fartas e gostosas. Manga é um pandego por excelência. Sempre tem uma piada pronta ou um causo na ponta da língua sobre alguém ou algo da nossa velha Macapá.

Só para ilustrar essa figura maravilhosa ele contou que foi parar em Caiena, na Guiana Francesa, após um daqueles homéricos porres lá pelas bandas do “Urca Bar”, um bar antigo que ficava localizado no bairro do Trem. Segundo ele, subiu em um caminhão que transportava gêneros alimentícios para a ICOMI para pegar um pedaço de jabá (carne seca) e lá dormiu. Acordou a caminho de Amapá. Chegando lá, um trio de arbitragem que iria apitar o clássico daquele município entre Cruzeiro e Vera Cruz faltou. João Ferreira encontrou o Manga e prontamente fez o convite. “Aceito o desafio”, disse Manga e depois colocou condição, “Preciso da indumentária de árbitro, apito, uma passagem para Caiena e uma roupa para viajar”. Ele quando dormiu estava de short, sandália de dedo e camisa de meia. Tudo certo e bem carregado, Manga apitou o clássico, e foi para Caiena, lá encontrou Estoerse os dois... Bem, o resto da história não estou autorizado a contar.

Manga é mais ou menos isso aí, uma figura maravilhosa, que vivenciou a Macapá Bucólica e testemunhou de forma participativa a transformação desta outrora pacata cidade, numa grande metrópole. Parabéns ao Manga e a todos que ajudaram a escrever o cinquentenário da Copa do Mundo Marcílio Dias.

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