sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pioneirismo - Josefa Pereira Laú Picanço


"O Marabaixo de hoje está muito diferente,
mas eu ainda faço como antes"

 por Fabiana Figueiredo

Animada, Josefa Pereira não se cansa de entoar
os mais belos ladrões nas festividades religiosas
A pioneira desta semana é uma história viva e herança do nosso Estado, principalmente das comunidades tradicionais de Mazagão Velho e Igarapé do Lago.

Dona Josefa nasceu em 19 de março de 1928, filha de Benedito Laú, descendente de Mazagão Velho, e Raimunda Lemos, da comunidade Carmo do Maruanum, conhecida pelos artefatos construídos pela própria comunidade manualmente. Os pais tiveram sete filhos, dos quais apenas 3 estão vivos, dentre eles a nossa pioneira Josefa.


Infância e Marabaixo
Desde pequena Josefa se envolvia nas atividades realizadas na comunidade, principalmente relacionadas à cultura de Mazagão Velho, local onde nasceu. Como por exemplo a dança do Marabaixo, que é a manifestação cultural mais popular na localidade, contagiando desde crianças até os mais idosos. 


Zezinha, como é mais conhecida, possui grandes lembranças da infância, tanto pelo fato de ter aprendido muito com seus avôs e pais, mas também porque sempre foi uma criança amada e curiosa por viver no meio da dança: "Desde criança eu conheço o marabaixo, porque eu já nasci dentro do marabaixo. A minha avó, mãe do meu pai, assim como a minha avó, mãe da minha mãe, eram do marabaixo. Meus pais também eram do marabaixo. Então eu sempre vivi rodeada dessa dança", recorda Josefa; uma dança movida pela emoção, fé e herança cultural de um povo.

Para ela, o Marabaixo sofreu modificações: "O Marabaixo de hoje está muito diferente, mas eu ainda faço como antes. Eu, quando vou cantar, procuro os ladrões antigos, mesmo que as novas músicas sejam produzidas, elas não são como eram os ladrões principais. A gente cantava ao lado dos mais velhos, como o Dante, Velho Ponciano, Jeobarca, a Velha Aldelina, Velha Antônia Dama, eles que criavam as músicas".

Família
Josefa sente orgulho da família que gerou e que hoje a ajuda
Sua infância e adolescência se deu nas redondezas de sua terra natal, participando ativamente das festividades religiosas tradicionais do município histórico. Viveu em Mazagão Velho até se casar, aos 16 anos, com Mariano Aleluia Picanço, em 1945, a partir de quando se mudara para a comunidade de Igarapé do Lago, distante 87 km da capital amapaense. "Meu marido era de Igarapé do Lago. Ele foi fazer a figura de São Tiago na festividade, pois era promessa, então nos conhecemos, namoramos, e nos casamos", lembra Zezinha. Ela ainda tem recordações e muitas saudades desta época, em que ajudava o marido à sustentar a casa trabalhando na roça.

Com relação aos filhos, Josefa Pereira se diz muito satisfeita. Mesmo que tenha gerado apenas um filho, teve a oportunidade de adotar muitos outros filhos e cuidar de netos que até hoje continuam lhe ajudando. Para eles, ela ensinou a cultura que aprendera desde criança.

Suas profissões
Josefa lembra que trabalha desde cedo, quando cortava e ajudava na coleta da borracha, cultivava Castanha de Murumuru, espécie nativa, e realizava outras atividades na roça. Também foi vendedora de tacacá e mais diversos tipos de comidas típicas por muitos anos.

Josefa, além de incentivadora da cultura afro-descendente, é cantadeira dos ladrões de marabaixo, contadora de histórias premiada e reconhecida pelo Ministério da Cultura como Mestra de Cultura Popular, dançarina de batuque, marabaixo e sairé. Tia Zezinha também ajuda a fomentar a cultura amapaense através de sua participação nos mais diversos grupos: ela integra à Comissão de Foliões de Nossa Senhora da Piedade de Igarapé do Lago, onde exerceu por muitos anos o cargo de guardiã da santa e, junto com sua família, contribui para a manutenção da festa; às comissões em Mazagão Velho dos Foliões do Divino Espírito Santo e de São Gonçalo. Além de ter contribuído para a produção de vários samba-enredos das diversas escolas de samba da capital amapaense, baseados no folclore e práticas culturais. Atualmente, ela é da escola Piratas da Batucada, onde faz parte da Ala das Baianas.

Ao lado do grande amigo Fernando Canto e da Tia Luci, ícone do marabaixo
em Macapá, ela entoa mais um canto tradicional de sua comunidade
Tia Zezinha também é parteira até hoje, pois afirma que é um dom que Deus a deu, de ajudar uma vida a nascer. "Sou parteira, e eu não quis entrar em negócio de pagamento, porque meu dom é da nascença. Então eu não sou paga pra fazer. Tudo o que Deus dá pra gente, a gente não vende", enfatiza.

Em agosto, Josefa Pereira Laú foi homenageada na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, ao utilizarem seu nome como referência para a sala que está sendo ocupada pela Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular, que faz estudos das mais diversas manifestações culturais e religiosas e incentiva a produção cultural amapaense.

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