sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Artigo do Gato - Moralidade “Meia Boca”

Essa é uma expressão popular usada para adjetivar algo que foi feito pela metade. Uso-a no título deste bate papo para classificar a ação moralizadora deflagrada no estado brasileiro a partir das operações da Polícia Federal, cujo ápice ocorre com o julgamento dos crimes de corrupção envolvendo a Casa Civil da Presidência da República e os parlamentares federais. Essa paga aos deputados e senadores para aprovação de matérias de interesses do governo foi jocosamente apelidado pela imprensa de Mensalão, em alusão as polpudas somas que os corruptos recebiam para dizer amém ao Planalto.

O povo não suporta mais a hipocrisia dos que tem a responsabilidade de evitar essa anomalia nas relações entre o homem e o poder público. E é esse faz de conta o principal responsável pelo enlarguecimento do “fosso social” que separa de forma assimétrica os irmãos brasileiros em pobres, milhões de miseráveis e um punhado de ricos privilegiados num país marcado pela desigualdade social.

As ações meia boca acontecem quando o olhar percrustrador do cidadão mira um ato de corrupção. Se a imprensa da visibilidade ao fato, é possível vermos uma ação do tipo, vamos fazer de conta que vamos acabar com essa prática danosa a sociedade. Para acalmar a sanha moralizadora da sociedade um “bode expiatório” é apanhado e vai para sacrifício em nome da continuidade da bandalheira. É a esse jeitinho brasileiro que chamo de “meia boca”
Querem ver onde essa percepção se encontra com a verdade. Na atuação do Ministro Joaquim Barbosa, relator do Mensalão. Inclusive está prestes a assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal. O Ministro, que chegou a ser comparado ao personagem das historinhas em quadrinhos “Batman” em virtude de sua atuação firme como relator de um processo que desnudava um comportamento nada republicano de estrelas da política nacional. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Os dois primeiros escreveram suas biografias na vida pública como combatentes do regime de excessão, comandados pelos militares no período de 1964 a 1989.

Criticavam a falta de democracia e a corrupção desenfreada que acontecia nos bastidores do Poder Central. No entanto, quando na vida adulta e na condição de escrever uma história brasileira diferente, cometerem o repugnável crime de desvio de dinheiro público que poderia salvar tantas vidas nas escolas e nos hospitais que faltam serem construídos neste País de dimensões continentais.

Num Brasil de ações de meia boca, Joaquim Barbosa teve que encarar e, mais que isso, enfrentar a resistência da cúpula petista e a defesa desavergonhada do ministro revisor do processo, Levandovisk que insistia em tentar desqualificar os tipos penais e atenuar a gravidade dos fatos narrados pelo relator. Foi, graças a Deus, derrotado.

No mesmo diapasão o Congresso Nacional deu um desfecho pífio para a CPI do Carlinhos Cachoeira ou seja, pegaram Dirceu, Delúbio e Genuíno, porém a empreiteira Delta e os políticos que se locupletaram com dinheiro sujo advindo dos “lobbies” do cachoeira ficaram impunes. Tirando o ex-senador Demóstenes Torres que ousou peitar o presidente do Senado José Sarney em plena sessão quem mais foi pego pela CPI? Ninguém!

Então para nós fica mais verdadeira a versão de que a CPI do Cachoeira era uma manobra desesperada de empanar o julgamento do Mensalão, afinal entre empresários, banqueiros e funcionários de alto coturno, três pessoas precisavam serem blindadas de um vexame nacional. Dirceu, Genuíno e Delúbio. Só não combinaram com Joaquim Barbosa, o primeiro negro a chegar nas altas cortes nacionais e de origem humilde, mas com uma férrea índole moral. Uma vez, afirmou Garrincha (Anjo das Pernas tortas) após uma prelação do técnico Antônio Feóla da Seleção Brasileira, que insistia em falar ao Mané. “Pegue a bola, parta pra cima do lateral e vá a linha de fundo e cruze.” Garrincha com uma inocência angelical ou com a malícia peculiar aos matutos do interior disse: o senhor combinou isso tudo com lateral adversário (joões) no entender dele.

Claro que no Amapá não estamos isentos das ações moralizadoras de meia boca. O governador Camilo Capiberibe abomina a presença de empresas que tiveram seus empresários envolvidos em operações da Polícia Federal, no entanto assina contrato com empresas que fraudam documentos, formam grupos econômicos e lesam o trabalhador e atuam de forma irregular dentro do governo “moralizador” do governador Camilo Capiberibe. Quem tá legal é “persona non grata”, aos ilegais os contratos. Mais que moral é essa?

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