Essa é uma expressão popular usada para adjetivar algo que
foi feito pela metade. Uso-a no título deste bate papo para classificar a ação moralizadora
deflagrada no estado brasileiro a partir das operações da Polícia Federal, cujo
ápice ocorre com o julgamento dos crimes de corrupção envolvendo a Casa Civil
da Presidência da República e os parlamentares federais. Essa paga aos
deputados e senadores para aprovação de matérias de interesses do governo foi
jocosamente apelidado pela imprensa de Mensalão, em alusão as polpudas somas
que os corruptos recebiam para dizer amém ao Planalto.
O povo não suporta mais a hipocrisia dos que tem a responsabilidade
de evitar essa anomalia nas relações entre o homem e o poder público. E é esse faz
de conta o principal responsável pelo enlarguecimento do “fosso social” que
separa de forma assimétrica os irmãos brasileiros em pobres, milhões de
miseráveis e um punhado de ricos privilegiados num país marcado pela
desigualdade social.
As ações meia boca acontecem quando o olhar percrustrador do
cidadão mira um ato de corrupção. Se a imprensa da visibilidade ao fato, é
possível vermos uma ação do tipo, vamos fazer de conta que vamos acabar com
essa prática danosa a sociedade. Para acalmar a sanha moralizadora da sociedade
um “bode expiatório” é apanhado e vai para sacrifício em nome da continuidade
da bandalheira. É a esse jeitinho brasileiro que chamo de “meia boca”
Querem ver onde essa percepção se encontra com a verdade. Na
atuação do Ministro Joaquim Barbosa, relator do Mensalão. Inclusive está
prestes a assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal. O Ministro, que
chegou a ser comparado ao personagem das historinhas em quadrinhos “Batman” em
virtude de sua atuação firme como relator de um processo que desnudava um
comportamento nada republicano de estrelas da política nacional. José Dirceu,
José Genoino e Delúbio Soares. Os dois primeiros escreveram suas biografias na
vida pública como combatentes do regime de excessão, comandados pelos militares
no período de 1964 a 1989.
Criticavam a falta de democracia e a corrupção desenfreada
que acontecia nos bastidores do Poder Central. No entanto, quando na vida
adulta e na condição de escrever uma história brasileira diferente, cometerem o
repugnável crime de desvio de dinheiro público que poderia salvar tantas vidas
nas escolas e nos hospitais que faltam serem construídos neste País de
dimensões continentais.
Num Brasil de ações de meia boca, Joaquim Barbosa teve que
encarar e, mais que isso, enfrentar a resistência da cúpula petista e a defesa desavergonhada
do ministro revisor do processo, Levandovisk que insistia em tentar
desqualificar os tipos penais e atenuar a gravidade dos fatos narrados pelo
relator. Foi, graças a Deus, derrotado.
No mesmo diapasão o Congresso Nacional deu um desfecho pífio
para a CPI do Carlinhos Cachoeira ou seja, pegaram Dirceu, Delúbio e Genuíno,
porém a empreiteira Delta e os políticos que se locupletaram com dinheiro sujo
advindo dos “lobbies” do cachoeira ficaram impunes. Tirando o ex-senador
Demóstenes Torres que ousou peitar o presidente do Senado José Sarney em plena
sessão quem mais foi pego pela CPI? Ninguém!
Então para nós fica mais verdadeira a versão de que a CPI do
Cachoeira era uma manobra desesperada de empanar o julgamento do Mensalão,
afinal entre empresários, banqueiros e funcionários de alto coturno, três
pessoas precisavam serem blindadas de um vexame nacional. Dirceu, Genuíno e
Delúbio. Só não combinaram com Joaquim Barbosa, o primeiro negro a chegar nas
altas cortes nacionais e de origem humilde, mas com uma férrea índole moral. Uma
vez, afirmou Garrincha (Anjo das Pernas tortas) após uma prelação do técnico Antônio
Feóla da Seleção Brasileira, que insistia em falar ao Mané. “Pegue a bola,
parta pra cima do lateral e vá a linha de fundo e cruze.” Garrincha com uma
inocência angelical ou com a malícia peculiar aos matutos do interior disse: o
senhor combinou isso tudo com lateral adversário (joões) no entender dele.
Claro que no Amapá não estamos isentos das ações
moralizadoras de meia boca. O governador Camilo Capiberibe abomina a presença
de empresas que tiveram seus empresários envolvidos em operações da Polícia
Federal, no entanto assina contrato com empresas que fraudam documentos, formam
grupos econômicos e lesam o trabalhador e atuam de forma irregular dentro do
governo “moralizador” do governador Camilo Capiberibe. Quem tá legal é “persona
non grata”, aos ilegais os contratos. Mais que moral é essa?
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