quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Antenados - Nau que naufragou antes mesmo de partir


Nesta semana, o município de Macapá festeja seus 255 anos. O tempo é de alegria e gratidão à boa terra que acolheu a tantos, mas, por outro lado, é momento também de refletir e se perguntar: O que há, de fato, para comemorar?

Nosso Estado carece de tudo. E o mais triste é pensar que estamos assim desde o começo. Não houve um momento de glória, um momento em que começamos a ascender. Parece que afundamos antes mesmo de sair do porto. Nosso território federal foi transformado em Estado, mas com que infraestrutura, com que condições de vida para a polução (mesmo esta sendo tão pequena)?

Nosso panorama constitui-se do seguinte modo: Os municípios do interior nada mais são do que currais eleitorais. Nem mesmo chegar até eles é possível, como se as vias lamacentas de acesso representassem exatamente a insignificância com que os enxergam os seus governantes, e representasse também a sujeira impune que fazem por lá.

Resta então a capital. Nossa capital, que faz aniversário. A situação, igualmente triste. Por aqui também há o descaso dos governantes, a essência do dever político arruinado, o engordamento desesperado dos buchos poderosos, o clientelismo, e uma espécie de marasmo que se arrasta pelas ruas inundadas de poças e de lixo, marasmo que nos impede de tomar qualquer atitude a nosso alcance, que nos retém a mobilização, o pensamento.

O povo aceita passivamente este estilo de vida subumano, em que é obrigado a comer migalhas e ainda fazê-lo quietinho. Sobrevivemos do funcionalismo público a duras penas. Nas cadeiras políticas, se faz fortuna própria. E os eleitores ficam a ver navios... Ou melhor, afogados, não veem mesmo nada. Aqui, no buraco do descaso, não há quem plante, não há quem produza, não há quem invista; movimentos contra a maré, ao final das contas, não passam de nulidades, porque logo perdem a força e não são aderidos pela população.

São 255 anos de pouca coisa mudada para o Adelantado de Nueva Andaluzia. Temos por aqui tanta beleza, tanto potencial... Adiantou-nos de algo? Até agora temos vivido como bichos, sem direito a beleza, bem-estar, sem direito à própria vida; peixinhos subnutridos que vagueiam pela estrutura do navio apodrecido e abandonado no banco de areia no fundo do rio, enquanto os marujos mais espertos, com a nossa permissão tácita, terminam de roubar o nosso ouro.

Não há mais tempo para ilusões. Nosso Estado afundou-se em dívidas. Fomos abandonados. O resto do país, o governo nacional, não se importam conosco. Parece que as pessoas que aqui vivem nada representam, como se o único valor em manter este pedaço de território amazônico fosse a proteção da fronteira nacional. É preciso ser duro e crítico agora, é preciso alertar.

Chega de pensar que é certo vivermos isolados, submersos na escuridão de águas turbulentas e nebulosas... Chega de se contentar com uma máfia que se alterna no timão, persegue funcionários da máquina pública, demite a bel-prazer, limpa os órgãos para colocar seus protegidos no lugar dos que estavam ali por direito e capacidade. Não interessa se esse tipo de manobra é recorrente nas outras cidades brasileiras. O ponto principal é que tais cidades, sujas como estão, ainda assim são mais desenvolvidas e mais cuidadas que a nossa! Como aceitar?

Chega de passividade! Vamos emergir! Serão mais 255 anos sustentando um navio fantasma? Chegou a hora de desenterrar as âncoras, reformar o convés, expulsar as sanguessugas e começar a seguir viagem rumo a um horizonte um pouco mais ensolarado. Qualquer lugar a que esta nau consiga chegar a partir de agora será bem melhor do que o desespero abissal em que nos encontramos hoje. Acorda, Macapá! A proa do navio és tu!  

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