A disposição de organização da cidade não ocorre de forma aleatória, é construída por um processo que expressa a contradição, conflito e diversidades entre os atores sociais que disputam interesses diversos a partir de estratégias diferenciadas. A formação da cidade é complexa, não sendo possível concebê-la de forma acabada. Na cidade o lugar do urbano é estruturado e organizado não ao acaso. A ação humana ocorre a partir de interesses de grupos distintos, no interior de um determinado modo de produção, pautado em um modelo de desenvolvimento específico, que permite à maior ou menor participação da população nas decisões.
Segundo o IBGE, o Brasil tem 16 mil favelas, 33 mil cortiços e 37% dos municípios possuem loteamentos irregulares, 10 % do esgoto coletado são tratados, e, o que é mais grave, quase 70% da população brasileira não tem coleta de esgoto. Nos últimos 20 anos o número de assassinatos no Brasil cresceu 237%, recente pesquisa divulgada pela ONU em 2000 indicou que todos os anos 40.000 pessoas perdem suas vidas, vitimas da violência, isso representa 11% das vítimas de todo o planeta. É uma relação de amor e ódio com a cidade, contraditório, mas verdadeiro.
No Brasil, a grande maioria das cidades vive em estado de alerta pela violência urbana, movida um pouco por todos e, de modo particular, por seus "administradores". Por timidez das ações ou por arrogância e prepotência, nossas cidades "morrem" no presente. No futuro - prevê o apocalíptico pensador francês Paul Virilio, passaremos por um processo de "desurbanização" intensiva gerado, de um lado, pelo agigantamento das grandes capitais e, de outro, pela difusão dos dispositivos telemáticos que transformaram a cidade numa rede de interativa de relações imaginárias.
O ser humano, nas cidades parece esmagado pelos problemas urbanos de uma cidade excludente pautada em um modelo insustentável. Entretanto, a sociedade atual está debatendo a necessidade de reverter esse processo, para que a cidade possa programar suas funções sociais (de terra e moradia), assegurando a justiça social ao respeitar o direito e os deveres dos cidadãos a uma vida digna.
A discussão sobre os princípios da sustentabilidade urbana, nas cidades brasileiras, mostra que é preciso reduzir os níveis de pobreza, universalizar serviços de infraestrutura, saúde e educação. É preciso reverter o uso ilegal do solo e a violência urbana, combater a poluição e a degradação ambiental. A sustentabilidade deve estar vinculada a uma reorganização sócio territorial, a novos modelos de desenvolvimento, melhoria da qualidade de vida e superação das desigualdades sociais, criando um ambiente favorável ao desenvolvimento das cidades.
É fundamental conseguir um processo de reconquistar a cidade, ir contra a "cultura do fracasso". A inovação está no fato de que é necessário cuidar da imagem da cidade para que seus habitantes se reconheçam nela e, dela gostando, gostem de si e nela se integrem. Para combater a violência urbana é preciso revitalizar as zonas urbanas mais decaídas. A cultura urbana no Brasil, mesmo entre os arquitetos e salvo uma ou outra exceção, é quase nula. O pensamento e ação urbanísticos (de planejamento, portanto) devem gerar uma massa imaginativa capaz, senão de mudar a vida, pelo menos de garantir a sobrevivência.
Na atualidade, apesar dos inúmeros problemas urbanos que indicam que há: déficit habitacional; terras irregulares; trânsito caótico; insuficiência do transporte coletivo; deficiência do tratamento de água e esgoto e lixo; poluição ambiental, sonora e visual; imóveis sem função social; serviços de saúde limitados e ressurgimento de doenças tidas como erradicadas. O Estatuto da Cidade é um importante aliado, enquanto instrumento de política urbana que busca responder aos problemas minimizando a crise urbana.
É importante que os governos federal, estadual e municipal formulem políticas que levem em consideração, sobretudo a garantia do bem estar da população como um todo. As políticas devem partir das necessidades básicas e devem ser construídas de forma participativa. Pensar em meios mais saudáveis de preservar o meio ambiente urbano. O Estado deve financiar e potencializar estudos e pesquisas que proporcionem descobertas de novas alternativas sobre o uso e a ocupação urbana de forma mais satisfatória e menos agressiva para todos os cidadãos. Por enquanto, o cidadão vai vivendo uma situação paradoxal: a relação de "amor" e "ódio" com a cidade, configura-se assim, aquilo que forma a imagem da cidade.
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