"Minha vida foi sempre tomar conta dos filhos, cozinhar, lavar e passar roupa"
por Inaildo Lobato
Dona Maricota, com 84 anos, é uma senhora afetuosa e alegre |
A pioneira dessa semana, Maria da Silva Picanço, carinhosamente chamada de Maricota, com 84 anos, é uma senhora afetuosa e alegre. Veio para a capital muito jovem, da comunidade de Maruanum, distante 80 km de Macapá, para ajudar no sustento de sua família. Ainda hoje, a localidade sobrevive da agricultura de subsistência.
Maricota é filha de Prudêncio Rodrigues da Silva e Apolônia Pereira da Silva. Estando na confiança de uma prima já falecida, que era quem procurava emprego para Maricota, e ficava na responsabilidade a família que a recebia para trabalhar e morar. Até os 21 anos, sua profissão foi de empregada doméstica. Lembra com saudade e orgulho de todas as casas que trabalhou, mas o patrão que ela recorda com maior afeto é o ex-Governador do antigo Território, Coronel Janary Gentil Nunes. "Governador que nem ele não tem outro", completa Dona Maricota.
Ela conta um pouco de sua vida como empregada doméstica naquele tempo. "Eu fazia de tudo. Tomava conta de criança, varria casa e quando eu estava desocupada ainda ia embainhar roupa para a legião (LBA), para as mulheres gestantes. Não tinha hora para ir deitar, quando tinha os chás em casa, ficava acordada 10h, 11h e, às vezes, até meia noite. Hoje, as empregadas domésticas têm direitos, folgas e hora extra. Faz só o que é de uma empregada doméstica", relembra.
Uma história de amor
Dona Maria e Benedito, seu esposo, tinham histórias de vida que se coincidiam. Assim como ela, ele também morava com outra família e seus pais eram fazendeiros no Igarapé do Lago. Ela o viu em uma das famosas festas de Marabaixo do Mestre Julião Ramos, e por força do destino, o jovem foi morar perto da casa de dona Maricota.
Conheceram-se, começaram o namoro, e um casamento que durou 48 anos. "Não foi só conhecer e casar, não. Ele teve que ir onde minha mãe morava e pedir pra namorar; ela gostou dele e aprovou", relata Maricota. E ainda continua: "Me casei com a pessoa certa, a pessoa que eu gostava. Ele só gostava do que eu gostava, quando eu não gostava de alguma coisa eu nem dizia. Ele gostava muito de ouvir música". Faz 15 anos que está viúva de Benedito, mas ela ainda lembra aquela festa de Marabaixo em que viu seu amor pela primeira vez. Tiveram oito filhos, e sente uma tristeza ao falar de três filhos que já estão falecidos.
Sua Vida na Serra do Navio
Dona Maricota e seu esposo Benedito Picanço uma história de vida |
Maricota casou-se com Benedito Aurélio Picanço e deixou de ser empregada doméstica. Seu marido recebeu uma proposta para trabalhar na ICOMI, em Serra do Navio, e ela foi acompanhá-lo, na época tinham dois filhos. "Minha vida foi sempre tomar conta dos filhos, cozinhar, lavar e passar roupa". Voltou a Macapá para os descendentes estudarem. Benedito só voltou definitivamente para Macapá, quando se aposentou em 1982. Segundo Maricota, o seu marido trabalhou na empresa durante trinta e cinco anos, seis meses e dezesseis dias.
Em seu retorno à capital morena, Maricota ganhou de um primo um terreno na Avenida Padre Manoel da Nóbrega. A área era o campo de aviação que ia ser transferido e o local seria loteado; e para construir a casa, Maricota teve que trabalhar muito, fazendo doces para casamentos e aniversários. Ela lembra com detalhes de como era o local antes de ser habitado: "A minha casa era bem pequena e o avião aterrissava aqui do lado; o hangar era aqui onde ficam as Secretarias de Estado".
Atualmente
Dona Maricota hoje está aposentada, e apesar das doenças próprias de sua idade, como reumatismo, perdeu uma das visões, que, segundo ela, foi por negligencia médica.
E mesmo brigando para que não tire a sua foto, ela sonha em encontrar um dos filhos de seu patrão Janary Nunes, o Janarizinho. "Quero mostrar a fotografia que eu tenho do pai dele, quando estava na Serra do Navio".
Sempre cercada pelo carinho dos filhos, netos e amigos, que não a deixam sozinha nem mesmo para tirar uma foto. Não que ela goste: "Não quero viver em 'boca de Candinha', hoje a gente não pode se mexer que já estão batendo fotos da gente", diz.
É uma senhora muito agradável de conversar, quem vai visitá-la se perde no tempo ouvindo suas histórias. Com certeza, Dona Maricota é uma das pioneiras desta Macapá, que, apesar da idade, não se esquece de momentos valiosos para esta cidade, são memórias e tradições que devem ser relembradas pelas próximas gerações.
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